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Política
16 dezembro 2024 às 00h16
Leitura: 9 min

Autárquicas. Saída de autarcas aumenta dúvidas nos principais duelos entre PSD e PS

Atuais presidentes das Câmaras do Porto, Sintra, Vila Nova de Gaia, Braga, Guimarães, Aveiro, Cascais e Faro não se podem recandidatar, aumentando hipóteses de mudança de ciclo. Maioria dessas autarquias têm gestão de direita, com ex-ministros socialistas a serem trunfos para a viragem. Mas ainda há muitas dúvidas.

Entre os 308 municípios que vão a votos nas próximas autárquicas, no último domingo de setembro ou no primeiro de outubro, que em 2025 coincide com o feriado da Implantação da República, uma dúzia de duelos em capitais de distrito e concelhos populosos definem o equilíbrio de poder entre os dois maiores partidos. Embora o PS tenha larga vantagem na Associação Nacional de Municípios Portugueses - com 149 presidências, contra 114 sociais-democratas (incluindo as coligações com o CDS-PP) - , nos de maior dimensão o PSD tem mais a perder.

Entre os principais municípios em que os presidentes não se podem recandidatar, por limitação de mandatos, quase todos são geridos pelo PSD, sozinho ou coligado. Aproxima-se o fim dos terceiros mandatos de Carlos Carreiras (Cascais), Ricardo Rio (Braga), Ribau Esteves (Aveiro) e Rogério Bacalhau (Faro), enquanto Ricardo Gonçalves já renunciou em Santarém e foi substituído por João Teixeira Leite, sendo Basílio Horta (Sintra) e Eduardo Vítor Rodrigues (Vila Nova de Gaia) os irrecandidatáveis do PS. Junta-se-lhes o independente Rui Moreira, levando sociais-democratas e socialistas a apostar forte na Câmara do Porto. 

Mas o mais mediático duelo autárquico é em Lisboa, onde Carlos Moedas procura a reeleição, após ter derrotado Fernando Medina, em 2021. E a coligação Novos Tempos poderá ter o reforço da Iniciativa Liberal, embora seja difícil satisfazer as suas expectativas mantendo o peso dos centristas.  

Nos socialistas, a eleição intercalar na Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL), apurando-se a 10 de janeiro se Ricardo Leão será substituído por Carla Tavares ou Miguel Prata Roque, não está a paralisar um processo em que o secretário-geral, Pedro Nuno Santos, tem a última palavra. Sem poder contar com Duarte Cordeiro, tido como candidato ideal à autarquia de que já foi vice-presidente, e com Marta Temido no Parlamento Europeu, o PS hesita entre a ex-ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, e a ex-ministra da Modernização do Estado e líder do grupo parlamentar, Alexandra Leitão. Quando houver escolha, o que deve suceder no primeiro trimestre, há que apurar as hipóteses de convergência à esquerda, sendo certo que o PCP afasta tal cenário, mais provável com o Bloco de Esquerda.

Incertos continuam os contornos da corrida eleitoral em Sintra. Eleito três vezes no segundo concelho mais populoso do país, o antigo dirigente centrista Basílio Horta deixa um grande desafio ao PS, que também aqui olha para membros do Executivo de António Costa. Entre os nomes testados estão o antigo secretário de Estado-Adjunto do Primeiro-Ministro e dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, e a ex-ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho. Mais remotas são as hipóteses do atual vice-presidente da autarquia (e líder concelhio), Bruno Parreira.

Enquanto isso, também o PSD vai testando nomes, na certeza de que Sintra é a maior oportunidade de conquista no distrito de Lisboa (a não ser que Isaltino Morais, hegemónico em Oeiras, volte ao partido do qual até 2002 era “autarca modelo”). O favorito é Marco Almeida, vice-presidente de Fernando Seara e candidato em 2013 e 2017, ficando perto de derrotar Basílio Horta na primeira tentativa, enquanto independente. Alternativas como a nova candidatura de Ricardo Baptista Lopes, que encabeçou a lista do PSD e CDS em 2021, o “desvio” do atual presidente da Câmara da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes, ou a aposta no apresentador televisivo Manuel Luís Goucha, estarão praticamente descartadas.

Mais definido está o cenário em Cascais, onde o social-democrata Carlos Carreiras completa o terceiro mandato na certeza de que o sucessor será o líder concelhio Nuno Piteira Lopes, vice-presidente da autarquia desde que Miguel Pinto Luz foi para o Governo. Fora do poder desde 2001, o PS avança com Marcos Perestrello, vice-presidente da Assembleia da República, e recém-eleito presidente da Assembleia Parlamentar da NATO, o que seria incompatível com a presidência da Câmara, pois os deputados só podem ser vereadores não executivos.

Renovação no Douro e Minho

A Norte, o maior duelo entre PSD e PS não implica que nenhum dos partidos perca uma presidência. Após 12 anos na Câmara do Porto, o independente Rui Moreira não se pode recandidatar, ainda que o seu movimento pondere concorrer em 2025, liderado pelo vice-presidente da autarquia, Filipe Araújo. Antevê-se uma disputa entre os socialistas, com a terceira candidatura do ex-ministro da Saúde Manuel Pizarro, e os sociais-democratas. A lista conjunta com os centristas, que foram aliados de Moreira, deve ser encabeçada pelo ministro dos Assuntos Parlamentares (e líder da distrital), Pedro Duarte. Mais improvável será o deputado Miguel Guimarães, antigo bastonário dos Médicos, que participou na assinatura do acordo da Aliança Democrática, na Alfândega do Porto. 

Em Vila Nova de Gaia ainda não se perfila qualquer nome à direita para retomar a autarquia após três mandatos do socialista Eduardo Vítor Rodrigues, com Luís Filipe Menezes a descartar essa hipótese. Adiantou-se o PS: na semana passada o deputado João Paulo Correia, presidente da Junta de Freguesia de Mafamude antes de ser secretário de Estado da Juventude e Desporto, anunciou a candidatura num concelho que vota massivamente no seu partido.

No Minho, face ao impedimento de Ricardo Rio, as estruturas de Braga do PSD indicaram o seu vice-presidente João Rodrigues, enquanto o PS recuperou o antigo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, António Braga. Em Guimarães, é o socialista Domingos Bragança que não se pode recandidatar, sendo o deputado Ricardo Costa o candidato do PS, contra o social-democrata Ricardo Araújo.

Incumbentes e deslocados

Com a sucessão de Ribau Esteves em Aveiro mais incerta, embora o seu vice-presidente, Rogério Carlos, e o deputado Silvério Regalado (ex-presidente da Câmara de Vagos), sejam apontados como hipóteses - enquanto o PS pondera uma nova candidatura de Alberto Souto de Miranda, presidente da autarquia entre 1998 e 2005 -, outras capitais de distrito têm pela frente duelos potencialmente interessantes. Sobretudo Coimbra, onde Pedro Nuno Santos espera ver a ex-ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, a devolver ao PS uma autarquia conquistada em 2021 pelo independente José Manuel Silva, também ex-bastonário da Ordem dos Médicos, à frente de uma coligação alargada ao ponto de juntar PSD, CDS, PPM, MPT, Aliança, RIR e Volt Portugal. As hipóteses dos socialistas serão maiores aqui do que em Viseu, onde se deve repetir o confronto entre o histórico social-democrata Fernando Ruas e o socialista João Azevedo, que nas últimas eleições ficou a mais de quatro mil votos de distância.

Outras tentativas de conquista do PS ao PSD implicam a “deslocação” de autarcas de outros concelhos para capitais de distrito.  Ainda sem confirmação, o atual presidente da Câmara de Almeirim, Pedro Ribeiro, estará a ser encarado como a melhor hipótese para disputar Santarém com João Teixeira Leite, que “herdou” a autarquia de Ricardo Gonçalves, agora presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude. 

Em Faro, onde Rogério Bacalhau pode sair antes do final do terceiro mandato, o socialista António Pina, também impedido de se recandidatar em Olhão, deve ser a aposta para recuperar a capital de distrito algarvia, enquanto no PSD subsistem dúvidas. O regresso do antigo presidente Macário Correia, a ascensão do vice-presidente da autarquia, Paulo Santos, ou a aposta no presidente da União de Freguesias de Faro, Bruno Lage, estarão a ser cogitadas.