Comboios
22 maio 2024 às 10h51
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CP tem 578 milhões para comprar 16 TGV

Concurso para nova ponte Chelas-Barreiro deverá ser lançado em 2027. Governo pede foco na execução dos investimentos na ferrovia.

São 578 milhões de euros para 16 novos comboios. A CP está a ultimar a encomenda para apostar na nova rede de alta velocidade em Portugal e competir com a concorrência doméstica e internacional. Na Cimeira Ferroviária Nacional, no Entroncamento, o Governo pediu foco na execução dos investimentos na ferrovia. 

“A CP tem de estar no projeto da alta velocidade”, salientou o presidente da companhia ferroviária, Pedro Moreira. O anterior Governo previa que o concurso fosse lançado nos primeiros três meses deste ano. Agora, o calendário aponta mais para o final de 2024. Falta ainda, por exemplo, a contratação de serviços jurídicos externos para garantir que não se repetem os problemas com os dois anteriores concursos de encomenda de material circulante, que foram contestados pelos concorrentes derrotados.

Também diferente é o financiamento para a compra destes comboios: como a alta velocidade será um serviço comercial, sujeito à concorrência, não pode contar com o financiamento do Estado. A manutenção dos comboios será feita nas oficinas da CP.

Espera-se que a partir de 2030 haja comboios de alta velocidade entre Porto e Soure, permitindo que a viagem ferroviária entre Porto e Lisboa demore duas horas, praticamente uma hora a menos do que atualmente, pela Linha do Norte. A construção do troço entre Porto e Soure vai começar entre o final de 2026 e o início de 2027, adiantou o vice-presidente da Infraestruturas de Portugal (IP), Carlos Fernandes. 

Também no ano de 2027 deverá ser lançado o concurso para a construção da terceira ponte sobre o Tejo (Chelas-Barreiro) e do troço entre o Poceirão e Évora, para a ligação entre Lisboa e Madrid em cerca de três horas e 30 minutos, um terço do tempo atual. Resta saber se haverá uma parceria público-privada (PPP) só para a nova ponte ou se num só processo estarão reunidas a nova travessia e a ligação Poceirão-Évora. Entre Évora e Elvas, a construção do troço apenas estará concluída no final deste ano, para ser posta a funcionar daqui a um ano, após testes e certificação, detalhou Carlos Fernandes.

Foco na execução

Para que haja Linha de Alta Velocidade entre Porto e Lisboa em 2030, não são permitidas mais derrapagens em obras ferroviárias. Algo que não tem propriamente acontecido em Portugal nos últimos anos. Exemplo disso é o programa de investimentos Ferrovia2020, no valor de 2,1 mil milhões de euros: apresentado em fevereiro de 2016, deveria ter ficado pronto até ao final de 2021. No entanto, até ao mês passado, apenas 21% das obras estavam concluídas, adiantou o presidente da IP, Miguel Cruz. 

“Nós estamos relativamente atrasados nos investimentos que temos de fazer. Se não conseguirmos ter uma determinada consistência ao longo do tempo, não conseguiremos fazer os investimentos. Este é o tempo em que temos de gerir inteligentemente os investimentos que temos pela frente, com fundos comunitários e outras fontes de financiamento. Perdendo isto, perdemos a credibilidade”, salientou o gestor.

O mesmo desígnio foi traçado pelo novo secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Espírito Santo: “Vamos ser absolutamente irredutíveis para que a execução aconteça”, referiu o responsável no primeiro evento público.

A especialista em Transportes do Instituto Superior Técnico, Rosário Macário, sinalizou que o Estado “tem de ter competências” para lidar com projetos de infraestruturas e não repetir os problemas do passado. “Não podemos achar normal atrasar os prazos e escorregar nos custos. Achar que é normal escorregar é a maior anormalidade que pode existir”, rematou.

geral@dinheirovivo.pt

Tópicos: TGV, comboios