"Há dois ou três anos percebi que tinha de construir algo aqui. Senão, era como viver num hotel”, explica Ai Weiwei enquanto percorre o caminho de terra batida que separa a casa principal do Monte da Boa Vista do seu novo ateliê. Quem sai de Montemor-o-Novo em direção a Coruche, e depois de passar por cima do auto-estrada, talvez nem repare na enorme estrutura de madeira e tijolo que espreita por detrás das árvores. O edifício, projetado pelo artista chinês que desde 2021 fez desta cidade alentejana a sua residência, está quase pronto e é uma réplica quase exata do que construíra em Xangai e que as autoridades chinesas mandaram destruir em 2010.
“O edifício não tem pregos, não tem metal. É todo encaixado, toda a estrutura tem umas juntas especiais”, explica Weiwei ao grupo de jornalistas vindo de Lisboa para conhecer o seu retiro alentejano. De pé no centro do enorme edifício totalmente vazio, ainda com o blusão verde por cima da roupa de um branco imaculado com que mais tarde se deixaria fotografar, o artista olha para os pilares e as vigas de madeira e aponta para o teto: “O que fiz foi rodar o teto um grau e isso cria uma grande confusão porque todas as juntas ficam desalinhadas. Veem, os eixos estão desalinhados das vigas”, explica, antes de garantir que usou materiais “locais” - o que para alguém nascido num país com 9,6 milhões de km2 vai desde o mármore alentejano usado no soalho aos pequenos tijolos portugueses, mas também ao pinho francês que compõe a estrutura de vigas e pilares. “Limitei-me a fazer isso. Ser subversivo. Ordem e desordem obrigadas a conviver. Acho que seria um excelente método político, mas ninguém me pede para ser um político”, acrescenta.