Houve dois discursos icónicos, cheios de ideias sobre o antes e o depois da democracia portuguesa, na altura ainda muito recente: o de Mário Soares e o de Álvaro Cunhal. Ambos tinham regressado a Portugal há poucos dias, depois de anos exilados.
O primeiro 1.º de Maio celebrado em democracia foi marcado pelo consenso entre as duas mais importantes figuras da esquerda portuguesa, há 50 anos, e foi uma festa de quase toda a gente, literalmente.
Era o momento em que o golpe de Estado de há seis dias se transformava numa revolução. “Tenho a impressão de que houve meia dúzia de pessoas que ficaram em casa”, disse João Soares ao DN, relembrando a dimensão da manifestação em Lisboa.
“Eu vi algumas manifestações clandestinas ou ilegais antes do 25 de Abril, e algumas grandiosas, mas nada que se compare, em termos de participação. Quer dizer, Alameda [D. Afonso Henriques], em 1975, foi também um comício muitíssimo grandioso”, evoca o antigo deputado socialista e filho de Mário Soares, referindo-se ao ano seguinte.