Desde o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, que não havia tantos conflitos (56), nem tantos países envolvidos em conflitos para além das suas fronteiras (92), conclui o Índice Global de Paz (IGP) 2024, também conhecido como Global Peace Index, divulgado esta terça-feira, e relativo à situação geopolítica no ano passado.
“O mundo está num ponto de inflexão e investir na paz é mais necessário do que nunca. O conflito está no nível mais alto desde o final da Segunda Guerra Mundial, com 56 conflitos a ocorrerem em todo o mundo. Temos notado nos últimos anos que os pequenos conflitos têm tendência a internacionalizar-se, com a intervenção de atores regionais e globais, e por isso duram mais tempo e geram mais vítimas. Hoje, 92 países estão envolvidos num conflito para além das suas fronteiras e esse é o número mais elevado registado desde o início do Índice Global de Paz. Esta evolução gerou 162 000 mortes em combate no ano passado, com mais de 75% delas na Ucrânia ou em Gaza”, explica Serge Stroobants, diretor para a Europa e o Médio Oriente do Instituto para a Economia e a Paz, um think tank internacional com sede na Austrália, responsável pelo IGP.
Acrescenta ainda o belga Stroobants que “a natureza da guerra evoluiu e os conflitos estão a tornar-se cada vez mais insolúveis. Os investimentos nas forças armadas estão a aumentar rapidamente e esta tendência irá acelerar nos próximos meses e anos. Esta é uma mudança de tendência após mais de uma década de diminuição dos investimentos. Em 2023, 108 países tornaram-se mais militarizados. Os exércitos modernos de hoje apresentam um nível de sofisticação mais elevado e com menos pessoas. Os investimentos são feitos principalmente em níveis mais elevados de desenvolvimento tecnológico de capacidades militares, como os drones, por exemplo, com um aumento de dez vezes na utilização desses drones e nas baixas que eles geram”.
O IGP, construído com base num complexo conjunto de critérios com valorações positivas e negativas, continua a colocar a Islândia como o país mais pacífico do mundo, seguida da Irlanda e da Áustria. Portugal manteve a sétima posição a nível global, quinta em termos europeus. “Os resultados de Portugal têm um significado especial, num ano em que os principais indicadores de paz e segurança internacional voltaram a cair. Os números e tendências apresentados no Global Peace Index 2024 mostram como o contexto geopolítico atual é, de fato, preocupante, com um aumento das ameaças externas e internas. Só é possível Portugal manter-se como um dos países mais seguros do mundo, e entre os cinco mais seguros da Europa, com uma aposta contínua em paz e resiliência”, diz ao DN Filipe Domingues, representante em Portugal do think tank com sede em Sidney.