EUA
28 fevereiro 2024 às 21h53
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Biden e Trump têm vitórias com sabor amargo nas primárias do Michigan

Presidente venceu, mas terá que lidar com voto de protesto. Republicano também ganhou, mas resultado de Haley ainda é alto.

O presidente norte-americano, Joe Biden, venceu as primárias do Michigan (81,1%), mas o voto de protesto dos democratas que não estão de acordo com a sua política na guerra da Faixa de Gaza (13,3%) é motivo para alarme na sua campanha - mesmo que ele tenha ignorado as mais de cem mil pessoas que votaram “não comprometido” no comunicado em que agradeceu o apoio dos eleitores. Do lado republicano, Donald Trump voltou a derrotar Nikki Haley (68,2% contra 26,6%), mas o facto de ela ainda ter conseguido quase 300 mil votos revela que o ex-presidente ainda tem algumas vulnerabilidades. 

A campanha da comunidade árabe que vive no Michigan começou há apenas três semanas, com o objetivo de conseguir pelo menos dez mil votos de protesto. Estão descontentes com a política de Biden, exigindo que apele a um cessar-fogo imediato e permanente na Faixa de Gaza e deixe de enviar ajuda para Israel. Em vez de apelar à abstenção, pediram o voto de “não comprometido”, que normalmente é usado pelos eleitores que não estavam confortáveis com nenhum dos candidatos. No final, conseguiram mais de cem mil votos, permitindo eleger dois delegados à convenção democrata. 

No comunicado em que agradeceu aos eleitores que “fizeram ouvir as suas vozes” no Michigan, Biden não teve uma palavra concreta para aqueles que votaram “não comprometido”. Contudo, lembrou que foi graças a este estado que, nas presidenciais de 2020, foi possível derrotar Trump. 

O Michigan é um dos swing states, que tanto votam republicanos como democratas, tendo Biden ganho há quatro anos com pouco mais de 150 mil votos. Se as cem mil pessoas que votaram “não comprometido” mantiverem a sua posição, o presidente poderá ter problemas nas presidenciais de novembro. E o movimento que começou no Michigan pode alargar-se a outros estados, onde também existe a hipótese de os eleitores escolherem um voto de protesto semelhante. 

“O Michigan tem cerca de 200 mil eleitores de origem árabe”, referiu à Lusa a analista luso-americana Daniela Melo, professora na Universidade de Boston. “Mas também temos aqui uma associação com o voto jovem, que está muito alinhado”, explicou a cientista política. “Tudo isto será interpretado como um grande desafio a Biden, porque ele tem margens muito pequenas para conseguir uma vitória”, disse, lembrando que este é um dos estados essenciais.

Do lado de Trump, também há sinais de alerta que importa ter em conta para as presidenciais de novembro. Apesar de Haley ter perdido todas as primárias e caucus até agora e a sua percentagem de votos estar em queda, continua a ser uma alternativa para os republicanos descontentes com o ex-presidente. Nomeadamente no voto suburbano, em duas áreas do estado que os analistas dizem que lhe custou a vitória em 2020. 

A campanha de Haley fez questão de dizer que o número de eleitores que não votaram no ex-presidente é “um sinal de alarme” para ele. A ex-governadora da Carolina do Sul promete continuar na campanha - pelo menos até à Super-Terça-Feira, que é já para a semana. 

susana.f.salvador@dn.pt