Ficaram por ocupar 3728 lugares na 2.ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior (CNAES), vagas que poderão ser disponibilizadas na 3.ª fase. E 1419 das vagas sobrantes são de instituições do Interior do País, representando assim quase 40% do total. Os institutos politécnicos de Bragança, Viseu, Castelo Branco, Guarda e Setúbal foram os que tiveram mais vagas sobrantes. O número de colocados em instituições localizadas em regiões com menor procura e menor pressão demográfica, na 1.ª fase, diminui 2% (12 868 estudantes colocados), em comparação com o ano letivo anterior.
O Interior está a perder cada vez mais terreno e pelos mais variados motivos. Ao Diário de Notícias, António Fontainhas Fernandes, presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior, salienta que “a queda populacional no Interior está a dificultar o recrutamento de estudantes para as instituições dessas áreas”. Destaca ainda que a mobilidade estudantil tem sido limitada, em parte, “pelo aumento de vagas nas universidades e politécnicos das zonas do Litoral, o que incentiva os estudantes a permanecerem perto de casa”. Para o responsável, “a mobilidade dos estudantes também é reduzida devido ao aumento de vagas nas instituições do Litoral”.
Além disso, diz, as despesas são um entrave na escolha de instituições de Ensino Superior (ES) localizadas no Interior do País. Os custos associados à deslocação, como a habitação e a alimentação, são uma barreira. “Esta dificuldade de atração do Interior tem também a ver com os custos dos estudantes deslocados. Os jovens tendem a ocupar vagas de proximidade. Se estão a viver no Litoral, tendem a ficar em espaços de residência. Se houver mais oferta de vagas nos espaços mais dinâmicos do ponto de vista económico, é evidente que há menor possibilidade dos estudantes do Litoral se inscreverem no Interior. Portanto, essa mobilidade diminui”, sublinha.
O programa “+ Superior”, destinado a atrair estudantes do Litoral para o Interior através de incentivos financeiros, tem dado um contributo positivo, mas António Fontainhas Fernandes considera que “precisa de ser mais atrativo, aumentando o número de bolsas e o valor oferecido aos estudantes e com mais incentivos”. Contudo, alerta, “não podem ser as instituições de ensino a despender do seu orçamento para esse incentivo”.
O presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior defende a necessidade de políticas públicas mais eficazes que promovam a escolha das instituições do Interior, assim como a melhoria das condições para os estudantes deslocados. Questionado se a oferta curricular dessas instituições é a mais adequada, António Fontainhas Fernandes entende que sim, mas refere que a mobilidade de estudantes do Litoral para o Interior pode ser potenciada com ofertas mais atrativas e “diferenciadoras”. “É natural que se aumentarmos as vagas nos cursos mais atrativos no Litoral, os jovens queiram ficar no Litoral. Veja-se o caso da Beira Interior, que teve uma aposta na Medicina. Tornou-se mais atrativa. E para resolver o problema da falta de médicos, tem de se aumentar a formação de médicos em espaços de proximidade no Interior. Para isso é preciso dar condições às instituições”, sustenta.
O responsável alerta ainda para o maior abandono dos estudos de estudantes da zona Interior, após o primeiro ano. “Os estudantes deslocados enfrentam custos que podem ultrapassar os 900 euros por mês, o que, para muitas famílias, especialmente as de condições socioeconómicas mais desfavorecidas, pode ser um fator determinante para o abandono dos estudos”, alerta. António Fontainhas Fernandes recorda que “sempre que há agressividade do mercado [mais e melhores ofertas de trabalho], ou crises económicas, muitos alunos abandonam os estudos e optam por entrar no mercado de trabalho”.