No dia 30 de outubro, quando deram início à greve às horas extraordinárias, os técnicos de emergência pré-hospitalar manifestaram-se em frente à Assembleia da República para denunciarem o estado a que o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) chegou. A palavra usada durante a última semana foi a de “colapso” e ontem mesmo o vice-presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH), voltou a usá-la em conversa com o DN. “Um colapso que não é de hoje, não foi de ontem, mas que se iniciou há uma década”, disse Rui Cruz. Aliás, sublinha, em anos anteriores o STEPH “já tinha denunciado situações graves por falta de resposta”, mas “nada aconteceu”. O impacto da greve foi o que se viu. Já há 11 mortes suspeitas de terem ocorrido por falta de socorro. O Ministério Público e a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde já as estão a investigar e a Oposição no Parlamento quer respostas.
Hoje, na audição da Comissão Parlamentar da Saúde, marcada para a discussão do OE2025 na especialidade, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, vai ser pressionada para explicar o que aconteceu e de quem é a responsabilidade. Ao DN, Rui Cruz diz que o pré-aviso de greve foi enviado para os gabinetes da tutela da Saúde, para os gabinetes do primeiro-ministro e dos ministros das Finanças e do Trabalho, e também para a Assembleia da República, mas a única resposta que receberam foi do gabinete da secretária de Estado da Gestão da Saúde, Ana Cristina Tomé. “Dizia mais ao menos isto: não havia disponibilidade para negociar as nossas condições de trabalho, nem a valorização da carreira em 2024, nem em 2025, só em 2026”, relembra.
Esta resposta fez com que se sentissem, “mais uma vez, ignorados e foi quando decidimos avançar para a greve e enviámos a convocatória para quem tinha de ser”. E, nos dez dias seguintes, os representantes dos trabalhadores, nomeadamente o seu sindicato, não foram contactados por ninguém da Saúde, nem por alguém do Governo que se tivesse mostrado preocupado com o protesto e que aceitasse recebê-los. Esse contacto chegou já com uma semana de greve e já com o impacto que os próprios técnicos sabiam que um “protestos destes iria ter”, mas tudo isto foi ignorado por todos.
O STEPH acabou por ser recebido pela ministra da Saúde, na passada quinta-feira, dia 7, altura em que assinou um protocolo de negociação com os técnicos, que suspenderam de imediato a greve. Ana Paula Martins chamou este dossiê para o seu gabinete, desautorizando a secretária de Estado Ana Cristina Tomé. Só que, neste entretanto, ficou a saber-se que os recursos humanos do INEM “não definiram serviços mínimos para o dia 4 de novembro, quando a greve às horas-extra coincidiram com a greve da Administração Pública.