Bruxelas
01 outubro 2024 às 09h10
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Mark Rutte tomou posse como secretário-geral da NATO e diz que não está preocupado com resultado das eleições nos EUA

Rutte diz que a sua prioridade é assegurar que a Aliança Atlântica "continua forte" e para isso é "preciso investir mais", sem fazer "análises custo-benefício" na segurança.

Mark Rutte, ex-primeiro-ministro dos Países Baixos, tomou esta terça-feira posse como secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

Mark Rutte, de 57 anos, sucedeu a Jens Stoltenberg, durante uma cerimónia no quartel-general da organização político-militar, em Bruxelas.

A tomada de posse ocorreu pelas 09:30 locais (08:30 em Lisboa). 

Mark Rutte é o 14.º secretário-geral da NATO, o quarto oriundo dos Países Baixos.

Na realidade, houve 16 pessoas a encabeçar a organização político-militar desde a sua génese, em 1949, mas os italianos Sergio Balanzino (outubro a dezembro de 1995) e Alessandro Minuto-Rizzo (dezembro de 2003 e janeiro de 2004) ocuparam interinamente o cargo, até ocorrer a transição.

Mark Rutte foi primeiro-ministro dos Países Baixos durante 14 anos e foi confirmado como sucessor de Jens Stoltenberg em 26 de junho deste ano.

O novo secretário-geral da Aliança Atlântica rejeitou estar preocupado com o resultado das eleições presidenciais norte-americanas, e disse que está preparado para trabalhar com Kamala Harris ou Donald Trump. "Não estou preocupado [com o resultado das eleições nos Estados Unidos]. Conheço os dois candidatos muito bem e trabalhei com Donald Trump durante quatro anos [enquanto primeiro-ministro dos Países Baixos]", disse Mark Rutte pouco antes de iniciar funções como secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO). 

Rutte afirmou ainda que a sua prioridade é assegurar que a Aliança Atlântica "continua forte" e para isso é "preciso investir mais", sem fazer "análises custo-benefício" na segurança.

Na primeira intervenção que fez enquanto secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), Mark Rutte definiu a sua prioridade para o início do mandato: "Assegurar que a NATO continua forte."

O ex-primeiro-ministro dos Países Baixos disse que para o cumprir esse objetivo são necessárias "mais forças, com mais capacidades e mais inovação".

"Para fazer mais precisamos de investir mais, não há uma análise custo-benefício que possa ser feita se queremos proteger as nossas pessoas", completou, no início de uma reunião do Conselho do Atlântico Norte, minutos depois de tomar posse, no quartel-general da NATO, em Bruxelas.

Também no arranque do seu mandato, Mark Rutte estabeleceu como prioridade "aproximar ainda mais a Ucrânia da NATO", dando sequência à criação do Conselho NATO -- Ucrânia, criado com esse propósito na cimeira de 2023.

"Não há segurança duradoura na Europa sem uma Ucrânia forte e independente. Sei por experiência própria, com o voo MH14, que o conflito na Ucrânia não está circunscrito às suas fronteiras", sustentou.

O avião MH14, que voava de Amesterdão para Kuala Lumpur, foi atingido por um míssil disparado por separatistas russos na Ucrânia, em 2014, de acordo com as conclusões de uma investigação independente ao incidente.

"Esta é agora a minha casa longe de casa", finalizou o novo secretário-geral da NATO, iniciando os trabalhos do Conselho do Atlântico Norte.

Aliança Atlântica "está em boas mãos" com Mark Rutte, diz Stoltenberg

O ex-secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, que deixou hoje o cargo dez anos depois de o assumir, considerou que a Aliança Atlântica "está em boas mãos" com Mark Rutte, considerando que tem toda a experiência política.

"[A NATO] está em boas mãos", disse Jens Stoltenberg, numa declaração conjunta com Mark Rutte, à entrada para a cerimónia de transição, no quartel-general da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), em Bruxelas.

O ex-primeiro-ministro dos Países Baixos tem "toda a experiência" para ser um "grande secretário-geral" da organização político-militar, defendeu Stoltenberg.

Já no arranque da reunião do Conselho do Atlântico Norte, com os embaixadores e a presença dos secretários-gerais da NATO, o que cessou funções e o novo, Jens Stoltenberg disse que Mark Rutte "é conhecido por todos" e que "não cede nos valores" Aliança Atlântica.

"Agora deixem-me levantar para que possas [Mark] ocupar o teu lugar como secretário-geral da NATO", finalizou Stoltenberg.

Presidente dos EUA manifesta "plena confiança" no novo secretário-geral

Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, felicitou o novo secretário-geral da NATO, Mark Rutte, em quem tem "plena confiança" para poder continuar a avançar com uma Aliança Atlântica "mais forte, maior e mais firme".

Segundo Biden, à frente do bastião de "segurança coletiva" está agora alguém com um historial "impressionante" como líder "decisivo" que consegue "construir consensos", numa referência ao antigo primeiro-ministro holandês.

"Os Estados Unidos continuam profundamente comprometidos com a Aliança mais bem-sucedida da história do mundo", declarou Biden, destacando o artigo 5.º (do tratado da NATO) que prevê que "um ataque a um (membro da NATO) é um ataque a todos".

UE felicita Rutte por eleição na liderança da NATO e espera cooperação aprofundada

Os presidentes das instituições da União Europeia (UE) felicitaram o ex-primeiro-ministro holandês Mark Rutte pelo início de funções como secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), esperando uma cooperação aprofundada com o bloco comunitário.

"Felicito Mark Rutte por ter assumido o cargo de secretário-geral da NATO. Uma cooperação aprofundada entre a UE e a NATO é vital no nosso ambiente global em evolução", escreveu o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, numa publicação na rede social X (antigo Twitter).

"A sua liderança surge num momento crucial para a segurança transatlântica e estou confiante de que é a pessoa certa para enfrentar este desafio com êxito", adiantou o responsável belga.

Também no X, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, saudou Mark Rutte e agradeceu a Jens Stoltenberg pela sua liderança entre 2014 e 2024.

"Numa altura em que a NATO vê mudar o seu leme, quero agradecer a Jens Stoltenberg por uma década de empenho inabalável na segurança mundial. Estou confiante de que a liderança e a tenacidade de Mark Rutte só irão reforçar a unidade UE-Atlântico", indicou Roberta Metsola.

Por seu lado, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou no X que a liderança do holandês "será crucial para o papel da Aliança na segurança euro-atlântica e para o apoio inabalável à Ucrânia".

"Vamos reforçar ainda mais a parceria UE-NATO", adiantou Ursula von der Leyen.

Mark Rutte vai iniciar funções numa altura em que as tensões geopolíticas estão no nível mais elevado dos últimos anos.

Não só a guerra na Ucrânia continua, a caminho dos três anos de conflito, sem grandes avanços de parte a parte e sem perspetiva real de um cessar-fogo, como o conflito no Médio Oriente poderá alastrar, com os recentes confrontos entre Israel e o Hezbollah no Líbano.

Para início de mandato, o novo secretário-geral da NATO terá de assegurar que o financiamento dos países do bloco continua a aumentar, para que o limite de investimento de 2% do Produto Interno Bruto em defesa seja o mínimo e que haja cada vez mais contingentes preparados para intervir.

Presidência da Rússia diz não esperar nada de novo

A Presidência da Rússia disse que "não espera de nada novo" da Aliança Atlântica após a tomada de posse de Mark Rutte como secretário-geral.

"Nós conhecemos bem o senhor Rutte. Não pensamos que venha a ocorrer nada de novo na política da Aliança Atlântica", disse Dmitri Peskov, porta-voz da Presidência russa em conferência de imprensa. 

Peskov disse ainda que o chefe de Estado russo, Vladimir Putin, "já se reuniu mais do que uma vez com Rutte" e que chegou a ter esperança em manter relações pragmáticas bilaterais.  

"Os Países Baixos adotaram uma postura irreconciliável. Foi uma postura que exclui completamente qualquer contacto com o nosso país", acrescentou. 

"As nossas expectativas são as de que a Aliança Atlântica continue na mesma direção", sublinhou Peskov. 

Tópicos: NATO, Mark Rutte