Nenhum dos sindicalistas que faziam parte da lista dos 591 visados na investigação jornalística foi sujeito a algum dos 13 processos disciplinares. Do maior sindicato, por exemplo, a Associação Sindical de Profissionais de Polícia da PSP, foram cinco os nomeados nas reportagens como autores de publicações consideradas discurso de ódio.
Questionado, na ocasião, pelo DN, o presidente Paulo Jorge Santos, considerou que “a forma como a peça foi divulgada parece ter subjacente um propósito de afetar o funcionamento do maior sindicato da PSP e maltratou dirigentes sindicais que nunca e em tempo algum traduziram comentários, opiniões e ideais racistas ou xenófobos”. Paulo Jorge Santos sublinhou que “a ASPP tem uma história bastante rica na defesa da democracia e atua dentro de quadros de valores e princípios conhecidos” e que, “daí a estranheza da colocação de dirigentes da ASPP na peça em questão”.
Na sua primeira entrevista, ao DN e à TSF, a ministra da Administração Interna mostrou-se intransigente com “movimentos radicais” nas forças de segurança e prometeu “tolerância zero”.
“Os polícias são cidadãos, mas não são uns cidadãos quaisquer. São cidadãos que defendem a ordem pública, defendem o cidadão. São um dos pilares da democracia e do Estado de Direito e não é admissível que haja movimentos radicais dentro das forças de segurança. É a isso que, quer eu, quer os comandos, quer toda a cadeia hierárquica, estamos muito atentos e os procedimentos estão a ser verificados”, afirmou Margarida Blasco. É sua convicção que “a formação” que está a ser dada “vai retirar a fruta podre do grande cesto que são as forças de segurança”.
Por seu lado, a IGAI tem no terreno, desde 2021, o Plano de Prevenção de Manifestações de Discriminação nas Forças e Serviços de Segurança, tendo realizado ações de sensibilização em todos os comandos da GNR e da PSP. “Quem acha que alguém que seja homossexual é merecedor de menos dignidade ou menos respeito, não tem lugar nas forças de segurança. Quem acha que alguém que veio de um país que não é o nosso é recebedor de menos dignidade ou menos respeito, também não tem lugar nas forças de segurança”, assinalou a inspetora-geral, Anabela Cabral Ferreira, numa dessas ações em Braga, que o DN acompanhou.
Quando a grande investigação do consórcio de jornalistas veio a público provocou um intenso debate a vários níveis: político, social e na segurança interna. Não porque fosse uma surpresa haver polícias com estes comportamentos - o DN já os havia noticiado -, mas essencialmente pela dimensão (quase seis centenas) e pelo sentimento de impunidade que transparecia nas mensagens que a investigação jornalística transcreveu das redes sociais utilizadas por estes polícias.
O então ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, reconheceu a “extrema gravidade” da situação, afirmando que esta exigia uma abordagem com “grande lucidez, firmeza, determinação e consequência”.
Salvaguardando que importa “não confundir a parte com o todo” - ou seja, que a “esmagadora maioria” dos agentes da PSP e da GNR “zela pela defesa dos valores constitucionais e pelo Estado de direito” -, impôs que quanto aos que não o fazem, “não podemos tergiversar na necessidade de apurar responsabilidades”.
(Texto atualizado às 8h25 com a correção de que são seis e não oito os polícias sancionados, pois há dois processos que ainda não estão concluídos)