Acabava de sagrar-se campeão nacional pelo FC Porto quando anunciou, contrariando os astros e os entendidos, a intenção de uma passagem meteórica pelo futebol. “Dez, doze anos, e chega”. Assim foi. Exatamente à medida do fulgor inicial. Da Académica de Coimbra, em 2009, ao Olympique de Marselha, em 2021, vão exatamente os 12 anos “intensos” no campo. Previstos e gizados com método.
André Villas-Boas não fala ao acaso. “Super calculista, super ponderado, super obstinado”, afirma Gonçalo Magalhães. O melhor e mais antigo amigo é testemunha do esmero e cautela na preparação da próxima etapa. Medindo cada passo, estudando cada pormenor, preparando dossiers, observando o trabalho dos melhores. Aprendendo com especialistas a recuperar clubes da bancarrota sem comprometer a conquista de títulos. Em Barcelona, em Londres, na Alemanha. “Há três anos que não faz outra coisa senão trabalhar para ser presidente do FC Porto”, diz Gonçalo.
Os amigos interrogam-no: o que o faz avançar? “Tem tudo - dinheiro para ele, para os filhos e para os netos. Uma vida boa”. Lembram-lhe o lamaçal que tem sido o dirigismo desportivo. “Está escrito”, responde-lhes. Como se acreditasse no destino, quando na verdade crê apenas nele próprio. “Sempre quis ser presidente do FCPorto, sempre fez tudo para ser presidente do FC Porto”. A apresentação da candidatura à presidência do clube, marcada para hoje, é a primeira página do guião. Escrito por ele, para lá das emoções próprias do futebol.
É ingrato traçar o perfil do candidato. Villas-Boas evita falar de si. Pede reserva aos amigos. “Deixe-me primeiro falar com ele”, dizem os contactados. Exceção concedida, Gonçalo não esconde que a teimosia é o maior defeito do amigo. E o perfecionismo, um traço relevante de personalidade que o leva a reagir mal quando uma ordem sua não é cumprida com o detalhe que pede. “Quando treinou o FC Porto meteu na cabeça que não podia falhar. Entregou-se de alma e coração. Obsessivamente. Obstinadamente. Dormia e acordava a pensar na equipa. Foi um desgaste inacreditável”.