A oposição venezuelana, unida em torno da candidatura do ex-diplomata Edmundo González, chega às presidenciais deste domingo com a esperança de pôr fim a 25 anos de “revolução bolivariana” - primeiro com Hugo Chávez e desde que ele morreu, há 11 anos, com Nicolás Maduro. A oposição surge à frente das sondagens, mas a dúvida é saber se as eleições vão ser livres e justas - em 2018, cerca de 50 países recusaram reconhecer a reeleição do presidente por considerarem que a votação tinha sido uma farsa. Maduro pediu aos eleitores para “pensarem bem” no seu voto e alertou para um “banho de sangue” se perder, o que para muitos foi visto como uma ameaça.
“Pensem bem, pela vossa família, os vossos empreendimentos, o vosso comércio, a vossa empresa, o vosso trabalho, quem dos 10 candidatos garante a paz e a estabilidade da Venezuela”, afirmou o presidente no comício de final de campanha, em Caracas. “Estou preparado para uma grande vitória e sei que o nosso povo vai voltar a dá-la. Não puderam connosco e não poderão nunca, e no domingo vamos demonstrá-lo aos fascistas, ao imperialismo”, referiu.
Para Maduro, estas eleições vão decidir se na Venezuela “haverá pátria” ou se o país se vai converter numa nova “colónia”. Vão decidir se “haverá paz” ou se “vai acabar a tranquilidade”, com o presidente a colocar-se como garante da estabilidade diante dos 21 milhões de eleitores. Para o vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), Diosdado Cabello, é claro que a oposição “nunca” irá governar o país. “Isso nunca irá acontecer. Tenham a certeza de que é assim”, disse aos jornalistas.
Nos últimos 11 anos, Maduro tem procurado manter o legado de Chávez - a eleição decorre no dia em que o falecido presidente faria 70 anos. Mas com o ex-chefe da diplomacia e antigo vice-presidente no poder a Venezuela mergulhou numa crise económica e social, de hiperinflação e escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos básicos, levando 7,7 milhões de venezuelanos (22% dos 34 milhões de habitantes) a sair do país. E muitos mais admitem seguir o mesmo caminho caso Maduro seja reeleito este domingo.
Apesar de ter as maiores reservas de petróleo do mundo (estimadas em 300 mil milhões de barris), as sanções norte-americanas ao setor, aprovadas para pressionar o regime, fizeram cair a produção (de um pico de 3,5 milhões de barris diários chegou a estar só nos 400 mil barris). Sendo o petróleo a base da economia venezuelana durante os governos de Chávez (quando o “ouro negro” estava em alta nos mercados), Maduro culpou o “imperialismo” pela crise. Mas esta já vinha de antes das sanções - tinha começado mesmo ainda quando El Comandante estava no poder.
As sanções não tiveram quaisquer efeitos no Executivo, que prosseguiu ao longo dos anos o desmantelamento das instituições democráticas - assumindo o controlo da Assembleia Nacional, da Comissão Nacional Eleitoral, do Poder Judiciário e a liderança militar - e a repressão. A Venezuela está a ser investigada pelo Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade nos protestos de 2017.