Unidade Local de Saúe
15 maio 2024 às 10h55
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São José abre clínica para grávidas e crianças sem médico de família para aliviar urgências

A Maternidade Alfredo da Costa e o Hospital Pediátrico D. Estefânia são unidades de fim de linha com portas abertas todo o ano. E para evitar que fiquem sobrecarregadas com urgências desnecessárias, a ULS onde estão integrados, vai abrir uma clínica, em junho, para atendimento estes utentes com casos menos graves.

A área materno-infantil tem sido das mais atingidas pela falta recursos de humanos na área médica. A situação agrava-se sempre em períodos críticos, como o verão devido às férias dos profissionais. Mas há unidades, como Maternidade Alfredo da Costa e o Hospital Pediátrico D. Estefânia, que sendo unidades de fim de linha para a região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) e até para toda região Sul do país, não fecham durante todo o ano, tendo de dar resposta com os recursos humanos de que dispõem. E quando há unidades periféricas de LVT que têm de encerrar os seus serviços é certo e sabido que os serviços de urgência destas unidades sentem um aumento na procura. 


Este ano, e para evitar idas às urgências desnecessárias, a Unidade Local de Saúde (ULS) São José vai abrir em junho um espaço, a que dá o nome de clínica, que irá funcionar numa das suas unidades de cuidados primários, precisamente para dar resposta às grávidas e às crianças que não têm médico de família. “O nosso objetivo é que estes utentes possam ser avaliados e tratados em tempo adequado, evitando assim que se dirijam a uma das nossas urgências hospitalares”, destaca ao DN o médico João Coimbra, assessor da direção clínica desta ULS para a área das urgências.

Esta ULS integra nove hospitais (São José, Santa Marta, Curry Cabral, Capuchos, MAC, D. Estefânia, Instituto Oftalmológico Gama Pinto e Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa) e 39 unidades de cuidados primários (centros de saúde) e tem cerca de 80 mil pessoas sem médico de família, uma boa parte população migrante. 


A medida insere-se já no plano de resposta ao verão e no objetivo da ULS querer mais articulação e integração entre os cuidados primários e hospitalares. “O nosso plano de verão está perfeitamente estabelecido para continuarmos a dar respostas dentro da nossa capacidade. Daí o termos vindo a trabalhar no desenvolvimento desta clínica de atendimento para grávidas e crianças, que são sempre populações fragilizadas. O objetivo é mesmo aliviar as urgências, permitindo que estas estejam destinadas só aos casos mais graves”.


MAC fez mais 30% de partos até abril do que em 2023

Às questões sobre onde vai estar instalada esta clínica e como vão ser encaminhados os utentes, o médico referiu que “ainda não está definido, mas as respostas serão conhecidas na altura certa”. 

Para João Coimbra as respostas que têm vindo a ser dadas quer na área materno-infantil como nas urgências gerais “têm exigido um grande esforço” da parte de todos, sobretudo dos profissionais. E dá números. Por exemplo, em relação à MAC, ressalva, que nos primeiros quatro meses deste ano houve um aumento de 28,9% no número de partos realizados comparativamente com o período homólogo do ano passado. “Passámos de 1037 partos, entre janeiro e abril de 2023, para 1335, no mesmo período em 2024”, refere o médico.

Um aumento que pode ter a ver com o facto de muitas unidades de obstetrícia da região terem começado a encerrar rotativamente por falta de recursos humanos, de acordo com o plano definido pela Direção Executiva liderada por Fernando Araújo para o verão do ano passado e que se manteve durante o inverno. “É natural que este aumento tenha tido a ver com os encerramentos rotativos das outras unidades, porque há mesmo um plano de apoio a nível global da região de Lisboa de forma todas as grávidas que necessitam de vir às maternidades tenham uma resposta. E a nossa (MAC) tem mantido sempre as portas abertas e tem feito sempre parte dessa capacidade de resposta global e vai manter-se assim”, mas, sublinha: “Vamos continuar a dar resposta a quem nos procura, mas de acordo com os nossos recursos humanos e de acordo com as nossas instalações, que também têm um limite”.


Na semana passada, a ministra Ana Paula Martins veio dizer que as regiões de Lisboa e do Algarve, sobretudo na área das urgências materno-infantis, vão ser reforçadas em recursos humanos, mas João Coimbra lembra que as medidas de reforço não podem ser só “aumentar os recursos humanos, porque as instalações são finitas”.

Neste momento, diz o médico, “temos determinado número de salas de partos e de camas de internamentos. É claro que estamos a trabalhar, vamos manter as nossas portas abertas e vamos dando sempre algo mais”, mas gostaria que o plano de plano de verão que está a ser preparado incluísse “a possibilidade de aumentar a capacidade de resposta de todas as instituições da região para não haver sobrecarga de nenhuma unidade. Os encerramentos rotativos têm sido só uma forma de minorar as dificuldades nesta área”.


Consultas do dia nalgumas especialidades para aliviar urgências


Em relação às urgências gerais, o médico diz ainda que o Serviço de Urgência de São José, uma das unidades de fim de linha do SNS, manterá a sua porta aberta com todas as valências”, recordando mesmo que, “em determinados momentos, chega a ser a única urgência do país para 4,8 milhões de habitantes”.

Por isso mesmo, sublinha, “também temos o nosso plano de contingência para a urgência geral durante com um conjunto de medidas que pretendem fazer com que muitos dos doentes sejam avaliados em consultas de dia de várias especialidades sem terem de acorrer diretamente à urgência hospitalar. São consultas que nos permitirão observar os casos menos graves. Os utentes vêm à urgência hospitalar, mas são dirigidos para essas consultas de especialidade que os avalia e orienta, ou para o médico de família ou para uma consulta no próprio hospital”.

João Coimbra explica que “estamos a trabalhar a montante da urgência para que esta possa, efetivamente, dedicar-se aos casos mais graves e complexos”, rematando: “Iremos trabalhar o máximo que pudermos e tivermos capacidade para podermos dar resposta e mantermo-nos sempre de porta aberta”.


A ministra da Saúde reuniu, na sexta-feira, com as administrações das ULS para começarem a definir medidas de resposta durante o verão. 

Tópicos: Maternidades, SNS