Normandia
06 junho 2024 às 07h35
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Celebrações dos 80 anos do Dia D marcadas pela guerra na Ucrânia

Joe Biden vai reunir-se com Volodymyr Zelensky e discutir como os Estados Unidos podem continuar a ajudar Kiev. Ausência russa das cerimónias não é um tema unânime.

O presidente francês, Emmanuel Macron, elogiou ontem, em Plumelec, o “espírito de sacrifício” dos militares na abertura dos três dias de cerimónias de celebração dos 80 anos do Desembarque dos Aliados nas praias da Normandia (Dia D), que contribuiu para o desfecho da Segunda Guerra Mundial. Do lado britânico, em Portsmouth, o rei Carlos III, cercado de representantes políticos, veteranos e membros da família real, agradeceu aos que “tanto deram para alcançar a vitória que desfrutamos hoje”. A principal cerimónia realiza-se hoje, dia do 80.º aniversário, na praia de Omaha, com a presença, além de Macron e Carlos III, de vários líderes internacionais como os presidentes dos Estados Unidos, da Ucrânia e Itália - Joe Biden, Volodymyr Zelensky e Sergio Mattarella -, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz. O grande ausente será o líder russo, Vladimir Putin, por causa da invasão da Ucrânia.

“O nosso país tem uma juventude disposta ao mesmo espírito de sacrifício que os seus mais velhos”, declarou ontem o líder francês, alertando para um contexto atual em que “os perigos aumentam” na Europa.

Macron, para quem a atual ofensiva russa representa uma ameaça existencial para o continente europeu, espera que as celebrações do Dia D também sirvam para expressar o apoio das potências ocidentais à Ucrânia. Na sua viagem a França, Zelensky tem como objetivo abordar - tanto com Macron (que, soube-se ontem, vai à cimeira da paz na Suíça), como com Biden, que já chegou ontem a França - as necessidades do seu país na guerra. Segundo o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jack Sullivan, Biden discutirá com Zelensky, no encontro que terão na Normandia, “como podemos continuar e aprofundar o nosso apoio à Ucrânia”. 

A situação ucraniana será igualmente um tema de discussão da visita de Estado do presidente dos Estados Unidos, no sábado, a Paris. “Quando a guerra voltou ao continente 80 anos depois da libertação da Europa”, Macron e Biden “discutirão o apoio inabalável e a longo prazo que deve ser dado à Ucrânia”, informou o Palácio do Eliseu.

Um dia antes, Biden fará um discurso sobre a defesa da liberdade e da democracia em Pointe du Hoc, um promontório no topo de uma falésia onde bunkers alemães foram atacados por tropas norte-americanas nos desembarques.

Ausente, mas não esquecida

A Rússia, que se orgulha de ter desempenhado um papel fundamental na vitória dos Aliados sobre a Alemanha nazi, não terá nenhum representante do Kremlin nestas celebrações devido à guerra na Ucrânia. E, embora alguns opositores concordem que as autoridades de Moscovo não deveriam estar presentes, defendem que os russos não deveriam ser totalmente excluídos. 

“Não está certo que representantes da Rússia, que sacrificou milhões nesta guerra, não estejam lá”, declarou Lev Ponomarev, cofundador do grupo Memorial, vencedor do Nobel da Paz. “Acredito que a oposição poderia e deveria estar presente”, acrescentou Ponomarev, de 82 anos, sublinhando que “somos representantes da Rússia que derrotou o nazismo apenas porque enfrentamos o fascismo de Putin”.

Também Olga Prokopieva, líder da associação Russie-Libertés para exilados anti-Putin, referiu que era importante que houvesse uma representação, pois acredita que “a ausência da Rússia será aproveitada pela propaganda russa, isso será mostrado como uma humilhação do povo russo”.

Em abril, a presidência francesa anunciou que as autoridades russas, mas não Putin, seriam convidadas para a Normandia, mas depois dos protestos dos ucranianos, voltou atrás na sua decisão, “considerando a guerra de agressão que a Rússia está a travar contra a Ucrânia e que se intensificou nas últimas semanas”. O que levou Justin Trudeau a afirmar que todos os países envolvidos na Segunda Guerra Mundial deveriam ser reconhecidos, apesar do “nosso extremo desacordo” com o Kremlin. Paris respondeu, dando a garantia de que a “contribuição decisiva” da União Soviética será mencionada na cerimónia na praia de Omaha e em eventos em cemitérios onde existem restos mortais de soldados soviéticos.

ana.meireles@dn.pt