Semana num Minuto
20 abril 2024 às 09h07
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Passos, Irão/Israel e Sporting: uma semana de ataques

O ataque iraniano e a contenção israelita

Sábado, 13 de abril

O mundo estava há dias a olhar para o Médio Oriente, numa espécie de contagem decrescente até ao Irão concretizar as ameaças de atacar Israel em resposta ao bombardeamento do consulado iraniano em Damasco, na Síria. Esse momento chegou no sábado à noite, com o Irão a reclamar o direito de legítima defesa para lançar sobre Israel cerca de 350 drones e mísseis. Do ataque iraniano resultaram três conclusões imediatas: a tremenda eficácia do sistema de defesa israelita que, também com apoio de países aliados, conseguiu intercetar “99%” dos drones e mísseis de cruzeiro e balísticos de Teerão; o isolamento internacional do regime iraniano, incapaz de encontrar apoio de fundo nesta retaliação contra Israel; e o refreamento de Telavive, obrigada a gerir com pinças a resposta militar e a responsabilidade numa situação que se torne ainda mais instável no Médio Oriente, quando vive forte pressão internacional para parar os ataques na Faixa da Gaza.

Ao inócuo ataque iraniano, e para não perder a face, Israel respondeu, na sexta-feira, também de forma contida. O Washington Post, citando fonte oficial israelita, diz que o ataque com drones visou, sobretudo, mostrar a Teerão a capacidade de Telavive poder atingir o centro daquele país.

Propaganda militar em Teerão. O Irão promete reação “maciça e dura” se Israel lançar invasão. -- Foto: EPA/ABEDIN TAHERKENAREH

Reforços de vagas a pensar nas competências digitais. E o resto?

Domingo, 14 de abril

São ao todo 55 166 as vagas disponíveis no próximo concurso de acesso ao Ensino Superior Público, mais 158 que no ano passado. Em dois dos cursos essenciais para, no futuro, se reforçar setores chave do Estado Social – Medicina e Educação Básica (onde são formados professores do 1.º ao 6.º ano de escolaridade) – os aumentos são tímidos (mais 13 e 38 vagas, respetivamente), tendo o maior reforço de lugares incidido em cursos de competências digitais (mais 252), algo que vai ao encontro do desejo de estimular a transição digital no país e que também tem toda a lógica tendo em conta as dinâmicas atuais do mercado de trabalho em que o conhecimento tecnológico ganha importância a cada segundo que passa.

O próximo Regime Geral de Acesso será também o primeiro sob a tutela do novo Governo da AD, que decidiu abdicar de um ministério próprio para o Ensino Superior, atribuindo-lhe apenas uma secretaria de Estado. É cedo para perceber se a mudança terá algum impacto prático na atividade de Universidades e Politécnicos, mas, por muito spin comunicacional que se faça, o primeiro sinal dado não deixa de ser o de alguma desvalorização. Isto quando sobravam razões para melhor cuidar deste setor, nomeadamente com políticas integradas que pudessem aumentar as hipóteses de reter no país os jovens recém formados e que dessem uma resposta mais rápida aquele que é, hoje, o maior desafio dos estudantes deslocados: encontrar um simples quarto onde possam ficar com um preço que possam pagar.

Começou a corrida ao Ensino Superior. No público foram abertas 55 166 vagas. Os cursos de competências digitais foram os que tiveram maior reforço. -- Foto: IGOR MARTINS/GLOBAL IMAGENS

Passos vai fazendo caminho e não poupa palavras

Segunda-feira, 15 de abril

Passos Coelho voltou a agitar as águas no campo da direita nacional. Na campanha da AD, foi a relação que estabeleceu entre imigração e insegurança (e que não encontrava suporte nas estatísticas oficiais) a colocar a coligação liderada pelo PSD debaixo de fogo. Na semana passada, reapareceu na esfera pública para apresentar o livro Identidade e Família e logo as suas declarações foram aproveitadas pelo Chega para este partido reforçar a proximidade de ideias com o ex-primeiro-ministro e reafirmar o seu apoio a Passos no caso de uma futura candidatura presidencial (André Ventura fez questão de estar na apresentação, sendo fotografado ao lado do “amigo” Passos, numa plateia sem governantes sociais-democratas – o único ministro presente foi Nuno Melo, líder do CDS).

Agora, em entrevista ao Observador, veio notar a “muito evidente preocupação” de Luís Montenegro “nos últimos tempos” em se “desconectar do seu passado” como líder parlamentar do PSD durante a governação passista. E, sobretudo, desferiu um violento ataque político a Paulo Portas, ex-líder do CDS que foi seu ministro de Estado e que tem sido apontado como possível candidato do centro-direita à sucessão de Marcelo. A estrada para o regresso de Passos à ribalta política já está a ser percorrida. O destino final ainda não é claro. Mas promete colocar em sobressalto quem se atravessar lhe ao caminho.

Passos disse em entrevista ao Observador que a troika não confiava em Paulo Portas. -- Foto: ÁLVARO ISIDORO/GLOBAL IMAGENS

Leão de rugido forte e muitos milhões na forja

Terça-feira, 16 de abril

Mais de dois meses depois de um protesto de polícias ter impedido a realização do jogo, Famalicão e Sporting acertaram, finalmente, o calendário da I Liga e o resultado – 0-1, golo de Pedro Gonçalves – colocou os leões com mão e meia na taça de campeão nacional. Nesta altura, a cinco jornadas do fecho do campeonato, a equipa de Rúben Amorim tem sete pontos de vantagem em relação ao Benfica, pelo que só uma hecatombe nesta ponta final impedirá os leões de celebrarem, pela 20.ª vez, a conquista do título. A época do Sporting tem sido notável. Amorim, que já tinha feito história logo na época de estreia em Alvalade (2020/21) guiando o Sporting até ao triunfo na Liga (algo que lhe fugia desde 2001/02), voltou a comprovar que é um dos mais competentes treinadores da atualidade e a espevitar o interesse de grandes clubes europeus (tudo aponta que o Liverpool seja o seu próximo desafio).

A saída de Amorim será sempre um grande rombo no projeto leonino. A boa notícia é que, desta vez, o Sporting fica com todas as condições financeiras para se tornar ainda mais competitivo. Aos milhões da entrada direta na Champions (reforçados na próxima época), podem juntar-se eventuais transferências milionárias de jogadores que muito se valorizaram esta época, com o sueco Viktor Gyökeres à cabeça e, pelo menos, os centrais Gonçalo Inácio (22 anos) e Diomande (20) numa segunda linha de jovens atletas muito cobiçados. O rugido do leão está forte. E tem tudo para continuar assim.

Festa de Pedro Gonçalves e Daniel Bragança em Famalicão. O Sporting soma e segue no topo do campeonato. -- Foto: MIGUEL PEREIRA/GLOBAL IMAGENS

A 100 dias dos Jogos maior preocupação é o terrorismo

Quarta-feira, 17 de abril

A 100 dias do arranque dos Jogos Olímpicos de Paris a ameaça de ataques terroristas está no topo das preocupações da entidade organizadora e das autoridades francesas, que já admitem uma mudança radical nos planos para a cerimónia de abertura. Está previsto que esta se realize, pela primeira vez, ao ar livre, nas margens do rio Sena. Inicialmente, a ideia era que 600 mil pessoas pudessem assistir ao evento, mas o número já foi entretanto reduzido para metade. No entanto, em função do risco de atentados (que aumentou desde que o Estado Islâmico-Khorosan atacou o Crocus City Hall em Moscovo), a França elevou para o máximo o nível de alerta e Emmanuel Macron já veio reconhecer a existência de planos alternativos para a cerimónia, incluindo um em que esta se realize no interior do Stade de France, num formato convencional mas que facilita o controlo da operação de segurança.

Com a chama olímpica já a caminho da capital francesa, os parisienses preparam-se para constrangimentos vários na circulação, rede de transportes e outros serviços. A soma de todos os problemas faz com que apenas 53% dos franceses mostrem interesse pela realização dos JO no país, segundo uma sondagem do La Tribune Dimanche publicada no último domingo. Portugal tem nesta altura 40 atletas qualificados para Paris2024 (menos do que estiveram em Tóquio 2020) e a ambição de conquistar quatro medalhas.

Ritual foi cumprindo em Atenas, na Grécia. A chama olímpica foi acesa e já está a caminho de Paris. -- Foto: ARIS MESSINIS / AFP

Saly nos braços da tia. Um símbolo da tragédia em Gaza

Quinta-feira, 18 de abril

“Um argumento incrivelmente poderoso a favor da paz”. Foi desta forma que Fiona Shields, presidente do júri do prémio World Press Photo, se referiu à imagem captada pelo repórter Mohammed Salem e que mostra uma mulher a segurar o corpo da sobrinha, Saly, de cinco anos, na morgue de um hospital em Kahn Younis, na Faixa de Gaza. A criança, a mãe e uma irmã morreram após a casa onde viviam ser atingida por um míssil israelita. A fotografia foi feita a 17 de outubro, dez dias após o ataque terrorista do Hamas em Israel ter dado origem a uma violenta resposta militar em Gaza, que dura até hoje e que tem merecido uma crescente condenação internacional face à crise humanitária que se vive na região, onde faltam alimentos, energia, medicamentos e água potável. Saly é uma das quase 14 mil crianças (número avançado pela Unicef) que morreram no território palestiniano desde o início do conflito.

Esta quinta-feira, dia em que foi conhecido o vencedor do World Press Photo, o português António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, voltou a defender o fim da ocupação israelita e a apelar a Telavive para facilitar a entrada de ajuda em Gaza, denunciando que na semana de 6 a 12 de abril mais de 40% dos pedidos feitos pela ONU foram recusados, quando “é preciso um salto quântico na ajuda humanitária aos palestinianos”.

Fotografia “comovente” de Mohammed Salem foi eleita pelo World Press Photo, entre 61 062 inscrições de 3851 fotógrafos de 130 países. -- Foto: MOHAMMED SALEM/WORLD PRESS PHOTO FOUNDATION

Redução no IRS volta a dividir Governo e PS

Sexta-feira, 19 de abril

O Conselho de Ministros aprovou  a proposta de lei que reduz as taxas do IRS até ao 8.º escalão. A apresentação das medidas esteve a cargo do próprio primeiro-ministro. Segundo as contas de Luís Montenegro, a “diminuição estimada pelo Governo tem um valor global que perfaz face a 2023 uma redução de 1539 milhões de euros” no imposto, um total que resulta dos 1191 milhões em vigor desde janeiro (com o início da execução do Orçamento do Estado do Executivo de António Costa) e de redução adicional de 348 milhões que a AD acrescentou.

“Esta é uma política de estímulo ao trabalho, não é uma atitude isolada, nós queremos que os portugueses sintam alívio na sua carga fiscal. A primeira medida fiscal do governo sinaliza isso mesmo, mas vamos ter outras”, afirmou Montenegro. O líder da oposição, Pedro Nuno Santos, diz que “os ganhos maiores com esta proposta são para quem tem melhores rendimentos”, criticando a falta de ambição do Governo. O debate parlamentar e votação deste alívio fiscal está marcado para 24 de abril.

Montenegro apresentou medidas fiscais. -- Foto: FILIPE AMORIM/LUSA

pedro.sequeira@dn.pt