À esquerda, sobraram críticas.
A coordenadora do BE, Mariana Mortágua, acusou o Governo minoritário PSD/CDS-PP de incentivar a imigração indocumentada no país com o novo plano para as migrações, criticando a extinção do mecanismo de manifestação de interesse.
"Tememos que este plano na verdade aumente o problema, porque se se elimina uma das formas de regularizar imigrantes que nos procuram, o que vai acontecer necessariamente é mais imigração indocumentada", defendeu Mariana Mortágua, em declarações aos jornalistas na Feira do Livro de Lisboa, à margem de uma ação de campanha para as eleições europeias.
A bloquista reagia ao Plano de Ação para as Migrações, apresentado hoje pelo executivo minoritário PSD/CDS-PP e que inclui o fim do mecanismo de manifestação de interesse, que permite a um imigrante pedir para obter um visto de residência em Portugal.
Na opinião de Mariana Mortágua, esta extinção abre "um vazio legal".
"Ao extinguir a manifestação de interesse - que é um mecanismo que também tinha problemas na sua aplicação prática e é preciso também reconhecer esses problemas - ao extinguir a manifestação de interesse o Governo o que está a fazer é eliminar a possibilidade de alguém que chega a Portugal em procura de trabalho e que encontra trabalho de se poder regularizar", acusou Mariana Mortágua.
Na ótica da bloquista, "o Governo diz 'só é regular em Portugal quem vier regular de fora' mas quem já está em Portugal ou chegar a Portugal à procura de trabalho não vai poder regularizar -se", acrescentando que "essa lei já foi aplicada no passado".
"O que é que acontece? As pessoas chegam indocumentadas a Portugal porque a economia precisa delas (...) e depois não têm forma de se regularizar, e de x em x tempo os processos acumulam-se e obrigam a uma regularização extraordinária. O que está a ser feito pelo Governo com este vazio legal é um incentivo à imigração indocumentada", insistiu.
António Filipe, deputado do PCP, criticou a falta de celeridade do Governo para resolver "o problema das 400 mil pendências de autorizações de residência na AIMA"
"O Governo reconhece esse problema, mas aponta uma solução muito vaga da criação de uma unidade de missão, mas sem estabelecer nenhuma calendarização concreta, nenhum objetivo concreto quanto aos recursos humanos e físicos que é necessário disponibilizar para o mais rapidamente possível resolver esse problema", afirmou.
O deputado comunista argumentou ainda que o Governo "arrisca-se a criar um problema" de aumento de imigração ilegal de pessoas que "depois não terão possibilidades legais de regularizar a sua situação".
Também o secretário-geral do PCP considerou que o plano para migrações do Governo vai potenciar a imigração ilegal e não responde aos processos de regularização pendentes, e anunciou que o partido vai apresentar um diploma para reforçar a AIMA.
Em declarações aos jornalistas na Feira do Livro, Paulo Raimundo considerou que o plano "é igual aos que têm sido apresentados pelo Governo".
"Sobre os problemas concretos, imediatos, pouco ou nada. E sobre as questões de fundo, é resoluções para depois", criticou.
O líder do PCP referiu que há atualmente 400 mil imigrantes por regularizar que "não vão ver o seu problema resolvido com as 41 medidas que o Governo apresentou hoje para supostamente dar resposta a este problema da imigração".
Por outro lado, Paulo Raimundo criticou o facto de o executivo procurar também "restringir a imigração legal", o que considerou que vai "contribuir de forma decisiva para rebentar um problema nas mãos", referindo-se ao aumento da imigração ilegal, deixando mais pessoas à mercê do "tráfego de ser humano".
O deputado Jorge Pinto, do Livre, disse que este plano não "traz qualquer tipo de solução" e acusou o Governo de querer "recuperar eleitorado à extrema-direita pelas piores razões e com as piores propostas".
"É um plano no qual o próprio Governo dificilmente acredita, certamente o ministro da Economia não acredita neste programa, porque ele representaria acrescentar dificuldades à chegada de novos trabalhadores quando estes trabalhadores são essenciais para o país", afirmou.
O PAN, pela líder Inês Sousa Real, defendeu que "a extinção da manifestação de interesses é uma via verde para as empresas e um cartão vermelho para as pessoas" e criticou o que diz ser um "paradoxo" do primeiro-ministro Luís Montenegro ao querer "garantir uma política de integração humanista" sem ficar como é que se vai "conseguir ter uma maior proteção dos migrantes que estão em situação de vulnerabilidade social".
Inês Sousa Real sublinhou ainda a adesão do Governo à proposta do seu partido para "o reforço do investimento na aprendizagem da língua portuguesa".
O Governo pôs fim ao regime excecional que permitia a um estrangeiro entrar em Portugal e só depois pedir autorização de residência e anunciou a criação de uma estrutura de missão para regularizar processos pendentes, estimados em 400 mil.