Cimeira
15 junho 2024 às 23h43
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Zelensky apresentará à Rússia plano de paz da comunidade internacional

Líderes ocidentais, como a vice-presidente dos EUA, dizem que proposta de cessar-fogo de Putin é um pedido de rendição. Mas há quem critique sanções a Moscovo, como Riade.

Volodymyr Zelensky garantiu que apresentará a Moscovo uma proposta para acabar com a guerra assim que esta for acordada pela comunidade internacional. Este compromisso foi assumido na Suíça no discurso inaugural do presidente ucraniano na cimeira inaugural sobre a paz no seu país, na qual participaram mais de 90 países, mas não a Rússia.

“Devemos decidir juntos o que significa uma paz justa para o mundo e como pode ser alcançada de forma duradoura”, disse Zelensky. “Depois será comunicado aos representantes da Rússia,  para que na segunda cimeira de paz possamos fixar o verdadeiro fim da guerra”, acrescentou, não revelando se está preparado para dialogar diretamente com o líder russo.

Na véspera desta cimeira, Vladimir Putin fez saber as suas condições para pôr fim ao conflito, apelando à Ucrânia para retirar as suas tropas das zonas anexadas unilateralmente pela Rússia e para renunciar à adesão à NATO, condições rapidamente rejeitadas por Zelensky. “Ele não está a pedir negociações, está a pedir rendição”, afirmou ontem a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, referiu que um cessar-fogo sem “negociações sérias com um roteiro para uma paz duradoura, apenas legitimaria a apropriação ilegal de terras pela Rússia”, enquanto a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, insistiu que “congelar o conflito hoje com tropas estrangeiras que ocupam terras ucranianas não é uma resposta, na verdade é uma receita para futuras guerras de agressão”. Também o presidente francês insistiu que trazer um fim sustentável à guerra com a Rússia não poderia envolver a “capitulação” de Kiev. “Todos nós estamos comprometidos em construir uma paz sustentável. Tal paz não pode ser uma capitulação ucraniana”, declarou Emmanuel Macron, acrescentando: “Há um agressor e uma vítima.”

Mas alguns países fora do círculo tradicional de aliados da Ucrânia sublinharam ontem na cimeira a necessidade de dar voz à Rússia e criticaram algumas sanções ocidentais contra Moscovo. Para o ministro dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita, Faisal bin Farhan Al-Saud, Kiev teria de estar preparada para um “compromisso difícil” se quisesse acabar com o conflito. E o presidente do Quénia, William Ruto, criticou o empréstimo de 50 mil milhões de dólares à Ucrânia, garantido por lucros de ativos russos congelados, acordado esta semana pelo G7. “A apropriação unilateral de ativos russos é igualmente ilegal”, referiu Ruto no seu discurso de abertura, depois de considerar a invasão da Rússia “um espetáculo horrível de carnificina e devastação”.

Mais radical, o presidente da Colômbia cancelou a sua participação na cimeira, criticando o encontro por “construir blocos para a guerra”. “O que encontramos em relação à conferência pela paz, entre aspas, na Suíça, é basicamente um alinhamento à guerra, por isso decidi suspender minha visita”, referiu Gustavo Petro. 

O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, por seu turno, alertou para se procurar soluções para a guerra na Ucrânia, pois as tensões causadas na Europa pelo conflito “podem amanhã estender-se à Ásia Oriental”. 

Ajuda dos Estados Unidos

A vice-presidente dos EUA anunciou, à chegada à Suíça, mais de 1,5 mil milhões de dólares (cerca de 1,4 mil milhões de euros) em nova ajuda à Ucrânia, e que inclui  cerca de 466 milhões de euros em novos financiamentos para assistência energética. Outros 302 milhões de euros em financiamento da USAID anunciados anteriormente também seriam redirecionados para responder a necessidades energéticas de emergência. 

O novo pacote inclui mais cerca de 353 milhões de euros em assistência humanitária. O Departamento de Estado, com o apoio do Congresso, fornecerá outros cerca de 280 milhões de euros em assistência à segurança civil ucraniana. “Este apoio irá ajudá-los a operar com segurança nas linhas de frente para defender o território da Ucrânia, resgatar civis alvo dos ataques do Kremlin, proteger infraestruturas críticas e investigar os mais de 120 mil casos registados de crimes de guerra e outras atrocidades”, concluiu Harris.

ana.meireles@dn.pt