Volodymyr Zelensky garantiu que apresentará a Moscovo uma proposta para acabar com a guerra assim que esta for acordada pela comunidade internacional. Este compromisso foi assumido na Suíça no discurso inaugural do presidente ucraniano na cimeira inaugural sobre a paz no seu país, na qual participaram mais de 90 países, mas não a Rússia.
“Devemos decidir juntos o que significa uma paz justa para o mundo e como pode ser alcançada de forma duradoura”, disse Zelensky. “Depois será comunicado aos representantes da Rússia, para que na segunda cimeira de paz possamos fixar o verdadeiro fim da guerra”, acrescentou, não revelando se está preparado para dialogar diretamente com o líder russo.
Na véspera desta cimeira, Vladimir Putin fez saber as suas condições para pôr fim ao conflito, apelando à Ucrânia para retirar as suas tropas das zonas anexadas unilateralmente pela Rússia e para renunciar à adesão à NATO, condições rapidamente rejeitadas por Zelensky. “Ele não está a pedir negociações, está a pedir rendição”, afirmou ontem a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, referiu que um cessar-fogo sem “negociações sérias com um roteiro para uma paz duradoura, apenas legitimaria a apropriação ilegal de terras pela Rússia”, enquanto a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, insistiu que “congelar o conflito hoje com tropas estrangeiras que ocupam terras ucranianas não é uma resposta, na verdade é uma receita para futuras guerras de agressão”. Também o presidente francês insistiu que trazer um fim sustentável à guerra com a Rússia não poderia envolver a “capitulação” de Kiev. “Todos nós estamos comprometidos em construir uma paz sustentável. Tal paz não pode ser uma capitulação ucraniana”, declarou Emmanuel Macron, acrescentando: “Há um agressor e uma vítima.”
Mas alguns países fora do círculo tradicional de aliados da Ucrânia sublinharam ontem na cimeira a necessidade de dar voz à Rússia e criticaram algumas sanções ocidentais contra Moscovo. Para o ministro dos Negócios Estrangeiros da Arábia Saudita, Faisal bin Farhan Al-Saud, Kiev teria de estar preparada para um “compromisso difícil” se quisesse acabar com o conflito. E o presidente do Quénia, William Ruto, criticou o empréstimo de 50 mil milhões de dólares à Ucrânia, garantido por lucros de ativos russos congelados, acordado esta semana pelo G7. “A apropriação unilateral de ativos russos é igualmente ilegal”, referiu Ruto no seu discurso de abertura, depois de considerar a invasão da Rússia “um espetáculo horrível de carnificina e devastação”.
Mais radical, o presidente da Colômbia cancelou a sua participação na cimeira, criticando o encontro por “construir blocos para a guerra”. “O que encontramos em relação à conferência pela paz, entre aspas, na Suíça, é basicamente um alinhamento à guerra, por isso decidi suspender minha visita”, referiu Gustavo Petro.
O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, por seu turno, alertou para se procurar soluções para a guerra na Ucrânia, pois as tensões causadas na Europa pelo conflito “podem amanhã estender-se à Ásia Oriental”.