Dentro do nicho dos filmes sobre famílias disfuncionais e com rivalidade fraternal parece ter havido um impasse. O cinema americano costuma fazer desses pequenos dramas uma coleção de desfiles de personagens neuróticas, com muitos berros, lágrimas, reconciliações e tudo o resto que o catálogo carrega. Pois bem, neste filme Azazel Jacobs não retira os berros, as lágrimas e as reconciliações, mas sabe ser honesto em não querer ser “inovador” ou surpreendente. Aliás, o twist da história é não ter twist: His Three Daughters é o que mostra logo - um drama de família que é uma sessão de terapia de neurose pura e dura.
As irmãs do título estão reunidas no apartamento de Nova Iorque de seu pai, um idoso viúvo acamado e à espera da morte no quarto ao fundo. As três obviamente não se dão bem, cada uma a lidar com a sua crise psicológica.
Katie, a mais velha é a controladora, é ela quem está a cuidar de todos os detalhes da morte que aí vem, em especial de detalhes sobre o funeral e a forma como os cuidados paliativos são efetuados. Depois, no meio, Rachel, a filha não-biológica, alguém que parece viciada em erva e em apostas desportivas, mas é a única que dá apoio real ao pai em casa. Por fim, Christina, a que vive mais longe, a conciliadora, mas que demonstra estar sempre à beira de um ataque de nervos.
Nestes dias antes da inevitável hora da partida vão tentando gerir as suas diferenças, mas, ao mesmo tempo, celebrar as memórias de um pai que amam muito. O dispositivo é quase todo sustentado através de discussões num só décor: a sala de estar. Jacobs tira partido da beleza das pequenas coisas: uma porta entreaberta, um momento para yoga... Estrutura com tempos de teatro, sobretudo amplificada por intermédio de um texto que permite que as palavras tenham um peso que não se esvai.
Desta forma, é um filme aberto às possibilidades do palco, mas sem nunca retirar os processos do cinema e aí há que brindar à forma como a fotografia em décor fechado faz coisas mágicas e como a música de Rodrigo Amarante embala tudo…