Sociedade
28 março 2024 às 19h03
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Jornal de investigação português Setenta e Quatro chega ao fim por razões financeiras

"Há vários meses que o projeto se confrontava com dificuldades financeiras", apesar da "pequena redação" ter feito o possível e o impossível para que o projeto continuasse, lê-se esta quinta-feira no editorial do título.

O jornal de investigação português Setenta e Quatro chegou ao fim por "razões exclusivamente financeiras", quase três anos depois do seu lançamento, em julho de 2021, lê-se esta quinta-feira no editorial do título.

"Quase três anos depois do seu lançamento, a 13 de julho de 2021, o Setenta e Quatro termina nesta quinta-feira por razões exclusivamente financeiras", lê-se no editorial, salientando que "há vários meses que o projeto se confrontava com dificuldades financeiras", apesar da "pequena redação" ter feito o possível e o impossível para que o projeto continuasse.

De acordo com o portal da Transparência da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), o jornal 'online' Setenta e Quatro é propriedade da Continuar para Começar - Associação Cívica.

Quando foi lançado, o Setenta e Quatro indicou que seria financiado por doações individuais, bolsas de investigação e publicidade, para garantir a independência do seu jornalismo.

"Sempre soubemos que o desfecho poderia ser este. Sabíamos o desafio que teríamos pela frente quando começámos a desenhar o Setenta e Quatro em agosto de 2020. Sabíamos quais as nossas linha e estratégia editoriais, o jornalismo que queríamos ou não fazer, os contributos que queríamos dar para fortalecer a democracia e os direitos sociais. Sabíamos quais os próximos passos a dar, mas também sabíamos que o financiamento do jornalismo em Portugal, fosse público ou privado, é um deserto", prossegue o editorial.

"Ousámos desafiar a 'crise do jornalismo' em plena pandemia e fundar um jornal de investigação assente num jornalismo diferente: um que se posicionasse no campo progressista, frontalmente comprometido com a democracia, que desafiasse a extrema-direita e o discurso de ódio e todas as formas de discriminação. Conseguimos, mas deparámo-nos com a mesma muralha de sempre: a do financiamento", refere.

Os jornalistas que assinam o editorial afirmam manter a opinião "de que um projeto jornalístico destes é necessário para a saúde da democracia, mais ainda quando se celebram 50 anos do 25 de Abril e da democracia portuguesa com 50 deputados de extrema-direita no parlamento", anunciando o fim "com enorme tristeza, mas de cabeça erguida".

Sublinhando que "a pequena redação do Setenta e Quatro fez os possíveis e os impossíveis", enumeram trabalhos realizados nos últimos anos, dividido "em grandes investigações e em edições semanais": "nove investigações, em média uma a cada três meses, sobre temas de inegável interesse público" e "edições todas as semanas -- dezenas de entrevistas, reportagens, artigos longos, ensaios e crónicas", contribuindo para "um debate democrático mais aberto".

Para o efeito contou "com o apoio mais que essencial de mais de duas centenas de ensaístas, dos jornalistas 'freelancers' (Diogo Augusto, Tiago Carrasco, Cláudia Marques Santos, Marta Lança, entre outros) e dos cronistas residentes", acrescentam.

Referem igualmente que quase 2.000 pessoas subscreveram o Setenta e Quatro, algumas das quais aumentaram o seu apoio ao jornal participando nos 'crowdfundings' (iniciativas de financiamento coletivo) que lançou em alturas de maiores dificuldades financeiras.

"Está na hora de tirarmos a cabeça da areia, está na hora de debatermos finalmente o financiamento público do jornalismo, um financiamento que seja direto, estrutural, transparente e independente dos poderes político e económico", rematam.

Tópicos: Setenta e Quatro