Imobiliário
30 junho 2024 às 09h25
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Hotelaria capta investimento recorde de 260 milhões de euros até maio 

Estrangeiros são responsáveis por dois terços do investimento em ativos turísticos. Inflação empurra preços médios das transações para valores históricos. 

O ano começou quente no mercado imobiliário e o investimento em ativos turísticos ocupa o topo dos negócios mais apetecíveis em território nacional, sobretudo junto dos estrangeiros que querem comprar no país. Até maio, o volume total de investimento hoteleiro ascendeu aos 260 milhões de euros, revela a consultora imobiliária CBRE ao DN/Dinheiro Vivo. Este é um valor recorde para os cinco primeiros meses do ano e que compara com os 25 milhões de euros registados no mesmo período de 2023.

As perspetivas para a segunda metade de 2024 são otimistas, com a consultora a admitir que este ano seja ultrapassado o investimento total de 2023, que superou a fasquia dos 600 milhões de euros, tendo sido o segundo melhor resultado de sempre do ponto de vista de volume transacionado neste segmento. Este é um cenário pouco usual para o período entre janeiro e maio, uma vez que a maioria dos negócios se costuma concretizar, habitualmente, no segundo semestre.

O cenário é corroborado pela Cushman & Wakefield. “Os primeiros cinco meses registaram um movimento superior ao observado nos últimos anos, resultado de operações iniciadas no último trimestre de 2023, tendo-se efetivado os negócios já no decorrer de 2024. O arranque do ano reforça a hotelaria como classe de ativo central nas opções de investimento”, aponta o diretor de hotelaria da consultora, Gonçalo Garcia. 

O mercado está a ganhar gás também à boleia do aumento dos preços, que têm assumido um peso extra no bolso dos investidores. “O valor médio por transação registado até maio de 2024 é bastante elevado, comparativamente com as operações médias registadas até este ano, que variam entre os 15 e os 30 milhões de euros. Em termos médios, observa-se um valor de cerca de 36 milhões de euros por transação, reflexo dos negócios com alguma escala ou posicionamento superior, como é o caso do Oitavos, Praia del Rey ou Oporto Story Hotel”, adianta. O porta-voz da Cushman & Wakefield destaca um “agravamento das perspetivas de valor entre compradores e vendedores”, com a inflação a impactar diretamente o preço médio praticado pelos estabelecimentos hoteleiros, e, por conseguinte, as receitas geradas e resultados obtidos, “tendo projetado as performances dos hotéis para níveis históricos”. “Em contrapartida, o aumento da taxa de juro como mecanismo de combate à inflação impacta diretamente o custo de capital e a capacidade do investidor em materializar investimentos dentro de critérios de retorno justificáveis”, indica. 

Estrangeiros são os principais investidores

Ainda assim, a pressão dos preços não tem arrefecido o apetite dos investidores no país, pelo contrário, e são os mercados internacionais que mais olham para as oportunidades em Portugal. O investimento estrangeiro em território nacional representa já dois terços do volume total, com os norte-americanos, brasileiros e espanhóis a assumir a linha da frente no negócio. “O mercado nacional, os family offices e institucionais estrangeiros são os que mais procuram soluções de investimento, sendo elas imobiliárias ou plataformas operativas”, enquadra Gonçalo Garcia.

A performance sólida e resiliência dos ativos hoteleiros são dois dos argumentos que têm sustentado as operações. Olhando para o panorama europeu, os investidores estão confiantes na aposta em ativos hoteleiros, com cerca de 90% a considerarem manter ou aumentar o volume investido no setor turístico no próximo ano, revela o 2024 European Hotel Investor Intentions Survey. O mais recente estudo da CBRE indica que Portugal é o sétimo país da Europa mais atrativo para investir em hotelaria, num ranking liderado pela vizinha Espanha. A diversidade de destinos oferecidos - short city break em Lisboa e Porto, praia no Algarve e Comporta, natureza na Madeira, Açores e Alentejo - e a qualidade do serviço reforçam este posicionamento.

Analisando a primeira metade do ano, onde foram realizadas seis transações, foi na região de Lisboa que se concentrou o maior volume de investimento. “Acaba por ser a região com mais procura por parte dos diferentes investidores. Adicionalmente, as transações registadas têm um pendor value-add”, explica Duarte Morais Santos, hotels director na CBRE. Mas há outras geografias do país a dar cartas. “As regiões com maior procura continuam a ser Lisboa, Porto e Algarve. Dito isto, o eixo Troia-Melides, Douro e ilhas continuam com a tendência de crescimento dos últimos anos”, acrescenta o responsável. 

rute.simao@dinheirovivo.pt