Debate
14 fevereiro 2024 às 20h25
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Reduzido impacto ambiental entre Inês de Sousa Real e Rui Tavares

Deputados únicos do PAN e do Livre não carregaram muito nas críticas, não obstante haver muito que os separa entre o mais que os une. Num dos debates mais civilizados entre líderes partidários, convergiram na ideia de que um eventual futuro governo de Pedro Nuno Santos necessita de tutores para não ser perigoso.

Tendo em conta as muitas diferenças de opinião entre Inês de Sousa Real e Rui Tavares quanto aos temas que debateram na RTP3, sob a moderação de João Adelino Faria, deve ser realçado que os deputados únicos do PAN e do Livre, ambos com ambições de ter grupos parlamentares na próxima legislatura, protagonizaram quase meia hora de troca construtiva de argumentos. Algo que, na senda da vocação ecológica e progressista dos dois partidos, resultou numa discussão de reduzido impacto ambiental e despoluída de insultos.

Mesmo no final, quando o moderador lhes perguntou se estarão dispostos a integrar uma "ecogeringonça" com Pedro Nuno Santos, ambos carregaram mais nas críticas ao PS do que tinham feito nos ataques ao que consideraram ser as contradições do interlocutor. Rui Tavares gracejou que a prova de o voto nos socialistas não será útil reside no facto de que "às vezes nem para implementar as ideias do PS serve", enquanto Inês de Sousa Real acusou o partido que está no poder desde 2015 de "defraudar a confiança dos eleitores", referindo-se especificamente à "maioria absoluta desperdiçada" por António Costa.

No que toca a acusações de incoerência, Sousa Real recordou que o Livre não acompanhou o PAN na revisão extraordinária da Constituição da República Portuguesa para lhe inscrever a questão dos maus-tratos aos animais. E Tavares respondeu que incoerência é apoiar o Governo Regional da Madeira, caracterizado por "descaso para com o ambiente", "desordenamento do terrítório" e atentados contra a vida animal como o "massacre das cabras das ilhas Desertas".

O debate arrancara precisamente com a Madeira, no âmbito da libertação do presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado, e de dois empresários, detidos durante três semanas, por não terem sido confirmados pelo juiz indícios de alegada corrupção, tráfico de influências e outros crimes que estiveram na base da renúncia do autarca e da demissão do presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque. A porta-voz do PAN disse que não se arrepende "de forma nenhuma" de que a sua deputada regional - que garante a manutenção do governo minoritário PSD-CDS - tenha retirado confiança a Albuquerque e realçou a importância da crise política madeirense ter feito recuar projetos com impacto ambiental, como a Estrada das Ginjas e o teleférico de Curral das Freiras. Pelo contrário, Tavares disse que na Madeira o Livre "disse sempre que seria oposição ao jardinismo e ao albuquerquismo", e criticou a "cobertura de um partido de progresso" a esse governação de centro-direita.

Mais precisamente sobre a necessidade de fazer uma reforma da Justiça, o deputado único do Livre propôs "um grande debate nacional" para fazer reformas que permitam que processos que demoram três semanas a resolver na Dinamarca não se arrastem três anos em Portugal. "O país exige mais transparência e responsabilização", disse, acrescentando que o autarca funchalense e os dois empresários "não deviam ter estado privados de liberdade" tanto tempo. Mesmo "sem questionar o papel da procuradora-geral da República", considerou criticável a forma como o Ministério Público comunica, nomeadamente na Operação Influencer, que levou à demissão de António Costa e à realização de eleições legislativas antecipadas.

No que toca à conjugação entre desenvolvimento económico e proteção de recursos nacionais, houve nuances entre os dois líderes. Rui Tavares separou o lítio do hidrogénio verde, advogando a criação de uma empresa pública dedicada a essa fonte de energia. Em sentido contrário, comparou o lítio ao volfrâmio, "que não ajudou em nada o desenvolvimento do país" há cerca de um século, mesmo reconhecendo que Portugal terá a maior reserva da Europa, "pelo menos da ocidental". Admitindo a "exploração pontual em minas que já existem", referiu que as pilhas de lítio hoje essenciais para aparelhos eletrónicos estarem a dez anos de ceder o lugar a pilhas de sódio, o que abre possibilidades económicas noutras zonas do país, como a Ria de Aveiro.

Por seu lado, a porta-voz do PAN saleientou que "não se pode fazer a transição para a economia verde à custa dos direitos das populações", deixando claro que o seu partido é contra exploração de lítio mesmo em minas já existentes, visto que afetarão a rota de migração do lobo ibérico. E, sem esquecer que o Livre optou pela abstenção numa iniciativa legislativa do PAN com vista à suspensão da Data Center de Sines, vincou a oposição a tudo "o que colide com o interesse das populações".