A seis dias da primeira volta das eleições legislativas antecipadas deste domingo, Emmanuel Macron deixava um aviso aos eleitores: os programas dos “dois extremos” do espectro político francês conduzem “à guerra civil”, numa referência ao Reunião Nacional, de extrema-direita, e à Nova Frente Popular, união de esquerdas que vai do Partido Socialista aos mais radicais da França Insubmissa. Um aviso que soa um pouco a desespero tendo em conta que o RN lidera destacado nas sondagens, com 35 a 37% da intenção de votos, contra 27,5-29% para a NFP, e apenas 20-21% para o campo centrista do presidente.
“Estamos preparados” para governar, garantira horas antes Jordan Bardella, 28 anos, o protegido de Marine Le Pen e candidato a primeiro-ministro do RN, caso conquiste a maioria absoluta nestas que são as legislativas mais incertas da história recente da França, e cuja segunda volta está marcada para 7 de julho. “O RN não está preparado para governar”, reagiu o primeiro-ministro Gabriel Attal, 35 anos, para quem se trata de “um partido de oposição e não de governo”. No que toca a candidatos à liderança do executivo falta saber quem será a cara da NFP, que continua dividida quanto a um nome, sabendo que a escolha do primeiro-ministro - por norma na maioria de governo - é do presidente.
Mas mais do que o hipotético cenário de “guerra civil” vaticinado por Macron, a França parece estar à beira do caos político com um parlamento ingerível, segundo afirma Mujtaba Rahman, chefe para a Europa da consultoria de risco Eurasia Group. “Não há precedente na política francesa recente para tal impasse”. Brice Teinturier, diretor da empresa de sondagens Ipsos, recorda que surgiram duas tendências nesta campanha, a mais curta da Quinta República francesa. “Uma é uma dinâmica de esperança” com apoiantes de esquerda e do RN a acreditar que “pode haver uma mudança”. Outra é “a politização negativa, o medo, causado pelo RN e, numa parte do eleitorado, pela França Insubmissa e a coligação de esquerda”.
A par de tudo isto há a popularidade de Macron cada vez mais em queda, de tal forma que os seus aliados sugeriram que ficasse em segundo plano na campanha, dando o protagonismo a Attal. Para um dos apoiantes mais leais de Macron, parte do ressentimento decorre da sua ascensão à presidência. “Há um desejo de vingança por parte dos políticos que se ressentem do seu sucesso”, disse François Patriat, líder do Renascimento, o partido de Macron, no Senado.
Outros aliados, como Édouard Philippe, o primeiro chefe de governo nomeado por Macron, não escondem o seu desconforto com a decisão de antecipar as legislativas como resposta aos maus resultados do partido e à vitória do RN nas europeias. “Foi o presidente quem matou a maioria presidencial”, acusou Philippe. Já para o ex-presidente socialista François Hollande, de regresso à política como candidato pela NFP, o macronismo “acabou”, uma afirmação acompanhada da garantia de que não tem “contas a ajustar” com o seu antigo ministro.