Eleições
21 outubro 2024 às 12h18
Leitura: 6 min

Referendo na Moldávia. "Sim" à União Europeia vence mas por pouco

Além do referendo sobre a adesão à UE, decorreu a eleição presidencial que deu a vitória a Maia Sandu. A atual presidente do país vai, no entanto, ter de disputar com o candidato pró-russo Alexandr Stoianoglo uma segunda volta das eleições, marcada para 3 de novembro.

A Moldávia disse "sim" à inclusão da adesão à União Europeia (UE) como um objetivo nacional na Constituição do país no referendo realizado no domingo. Depois do "não" estar em vantagem no decorrer da contagem, o "sim" venceu, mas por pouco. Obteve 50,39% dos votos, segundo os resultados preliminares apresentados esta segunda-feira pela Comissão Eleitoral Central (CEC). 

A CEC indicou tratar-se de resultados que correspondem a 99,41% dos votos, faltando ainda concluir a contagem dos votos do estrangeiro.

Paralelamente, decorreu na antiga república da União Soviética a eleição presidencial que deu a vitória a Maia Sandu. A atual presidente do país conquistou 42% dos votos e vai ter de disputar com o candidato pró-russo Alexandr Stoianoglo - obteve 26% dos votos - uma segunda volta das eleições, agendada para 3 de novembro.

O referendo de domingo sobre a adesão do país à UE foi, no entanto, ensombrado por alegações de interferência russa.

Perante os resultados que dão a vitória por uma margem curta do "sim" à UE e das eleições presidenciais, o Kremlin já veio denunciar "anomalias" nos processos eleitorais da Moldávia.

"Foram observadas anomalias nos resultados da votação na Moldávia devido ao aumento de votos a favor da [presidente moldava Maia] Sandu e da integração europeia", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, na sua conferência telefónica diária.

Peskov referiu-se à mudança nos resultados da votação à medida que a contagem estava a avançar, o que ampliou a vantagem de Sandu sobre o seu adversário mais próximo, o pró-russo Alexander Stoianoglo, e com uma viragem a favor do "sim" no referendo sobre a entrada da Moldávia na UE.

"Os indicadores que vemos hoje, que estamos a acompanhar, e a dinâmica das suas mudanças, com certeza, levantam muitas questões", sublinhou.

O porta-voz do Kremlin acrescentou que é "difícil explicar o ritmo do aumento mecânico dos votos a favor de Sandu e a favor dos participantes no referendo que defendem a orientação pró União Europeia".

"Qualquer observador que tenha a mínima compreensão da essência dos processos políticos pode detetar estas anomalias com o aumento destes votos", insistiu.

Alegada interferência estrangeira. Presidente da Moldávia denuncia ataque "sem precedentes"

Peskov pediu também a Maia Sandu que apresentasse provas de interferência estrangeira nos processos eleitorais, que denunciou na noite de domingo. 

Após o início do escrutínio, que dava uma clara vitória aos adversários da entrada da Moldávia na União Europeia, Sandu denunciou a fraude, sem refetir Moscovo.

"Temos provas e informações de que um grupo criminoso pretendia comprar 300 mil votos. Esta é uma fraude sem precedentes cujo objetivo é comprometer a democracia. O seu objetivo é semear o medo e o pânico na sociedade", afirmou a Presidente numa brevíssima aparição perante os meios de comunicação social.

Sandu sublinhou que "hoje, tal como nos últimos meses, a liberdade e a democracia na Moldávia estão sob ataques sem precedentes".

"Grupos criminosos, associados a forças estrangeiras, atacaram o nosso país com mentiras e propaganda (...). Não deixaremos de defender a liberdade e a democracia. Aguardaremos os resultados definitivos e voltaremos com soluções", acrescentou.

Rangel diz que sim à UE na Moldávia dá "alguma tranquilidade e esperança"

O ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, Paulo Rangel, sublinhou que, "apesar de tudo", os moldavos disseram sim à integração na União Europeia no referendo de domingo, o que é motivo de "alguma tranquilidade e de alguma esperança".

"O resultado, apesar de tudo, foi um sim, independentemente de ter havido ou não alguma interferência. Isso é positivo", disse Rangel, que reconheceu que a influência da Rússia numa parte do território da Moldávia causa "profunda perturbação" na "vida democrática normal" do país.

Moscovo tem cerca de 1.500 soldados estacionados na Transnístria, uma região governada por separatistas pró-Rússia que se libertaram do controlo do Governo da Moldávia numa breve guerra na década de 1990.

Rangel, que falava com jornalistas portugueses hoje em Madrid, disse que o Governo português olha com preocupação os alertas da presidente da Moldávia sobre as interferências da Rússia, mas insistiu em que ter havido uma vitória do sim à integração na União Europeia (UE) no referendo, apesar de tudo, significa que "as coisas podem seguir em frente".

"E, portanto, penso que isso é motivo de alguma tranquilidade e de alguma esperança, porque o horizonte europeu da Moldávia é fundamental para o país, é importante para a União Europeia e penso que é importante também para a região e, em particular, para a Ucrânia", um país vizinho e atacado militarmente pela Rússia, acrescentou o chefe da diplomacia portuguesa. 

A Moldávia candidatou-se à adesão à UE em março de 2022, tendo-lhe sido concedido o estatuto de país candidato em junho do mesmo ano. Em dezembro de 2023, os dirigentes da UE decidiram iniciar as negociações de adesão.

Com Lusa