O texto do Decreto-lei nº 82/2021, de 13 de outubro estipulava, no artigo 41.º: “A cartografia de risco de incêndio rural compreende a carta de perigosidade de incêndio rural e a carta de risco de incêndio rural.” O objetivo era classificar “em cinco classes” - muito baixa, baixa, média, alta e muito alta - todo o território continental em função do perigo de incêndio. No entanto, esta Carta de Incêndio Rural nunca saiu da gaveta, após contestação dos autarcas. A suspensão vigoraria até ao final deste ano, e, admitia o anterior Governo, prendia-se sobretudo com as “restrições a nível de edificação e de realização de atividades culturais, desportivas ou outros eventos”.
A carta foi concebida pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), apoiado pelo Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA). E, apesar de não estar em vigor, há um dado que salta à vista: as áreas a vermelho e laranja (ou seja, com maior risco) correspondem aos concelhos mais afetados pelos incêndios que lavraram nas zonas norte e centro desde o passado domingo.
Segundo dados provisórios a que o DN teve acesso, arderam, no total, 118 223 hectares no país. Destes, 57 208 (ou 48,4%) arderam em zonas classificadas com uma perigosidade estrutural “muito alta”. Em zonas classificadas com perigosidade “alta”, as chamas assolaram 29 170 hectares - o que corresponde a 25,1% do total de área ardida no país. Ou seja: 73,5% de todo o território que ardeu desde domingo está localizado em zonas de alta ou muito alta perigosidade de incêndio.
Por exemplo: a área que ardeu em Peso da Régua (Vila Real) estava, na totalidade, naquilo a que a Carta de Perigosidade classifica como “área prioritária de prevenção e segurança” (APPS). Mais abaixo, em Guimarães (Braga), 97,8% da área ardida encontrava-se em APPS. E em Lamego (Viseu), 97,3% da área ardida estava englobada por esta classificação.
Estas áreas prioritárias, sabe o DN, têm de ser incluídas nos programas sub-regionais até ao final do ano, com base na Carta de Perigosidade e só dizem respeito a áreas de classe alta e muito alta. Só a partir daí a classificação produz resultados.