À boleia do imparável crescimento dos navios de cruzeiro, Lisboa é uma das cinco cidades portuárias europeias com maiores níveis de poluição causada pelas suas emissões. Depois de Barcelona, Civita Vecchia (Roma), Porto de Pireu (Atenas) e Palma de Maiorca, a capital portuguesa é a que tem maior concentração de óxido de enxofre (NO2) e de partículas finas, de acordo com um estudo da organização ambientalista europeia Transport &Environment, relativo a 2023. Níveis elevados destas partículas finas estão associados ao desenvolvimento de doenças respiratórias e risco acrescido de cancro de pulmão, entre doenças cardiovasculares e até do foro mental, como ansiedade e depressão. Essa razão motivou, aliás, uma ação contra Portugal pelo Tribunal de Justiça da União Europeia, em 2023, contra os efeitos nefastos para a saúde destes níveis de poluição.
A posição pouco favorável de Lisboa explica-se pela intensificação sempre crescente desta atividade ao longo dos últimos anos, mas também pelo facto do Porto de Lisboa ainda não dispôr de tomadas elétricas para os navios poderem carregar a energia que precisam para se manterem operacionais quando estão atracados. Por isso, as embarcações continuam a queimar combustível para terem energia, mesmo paradas, emitindo gases em permanência.
É uma situação que deverá manter-se por, pelo menos, mais cinco anos, visto que a eletrificação daquela infraestutura só deverá estar concluída em 2029, quase no limite do prazo concedido por Bruxelas, que termina em 2030. A estimativa foi avançada pelo presidente da Administração do Porto de Lisboa, Carlos Correia, em entrevista ao DN, especificando que os processos e projetos conducentes à obra de eletrificação já estão em andamento.
O responsável assegurou ainda que, de acordo com o sistema de monitorização instalado, “o nível de gases com efeitos de estufa na zona do Porto de Lisboa está dentro dos limites legais ou mesmo abaixo”. O assunto tem, no entanto, uma dimensão que extravasa os estritos parâmetros da legalidade. É o que defende o coordenador da organização ambientalista ZERO para a área do Clima e Mobilidade, Pedro Nunes: “ o problema é que os limites máximos permitidos são o quádruplo daquilo que a Organização Mundial de Saúde considera como recomendáveis para a saúde humana”. Por isso, “já deveríamos estar mais avançados na eletrificação dos portos”, observa o especialista.
O regulamento comunitário AFFIR obriga à eletrificação dos portos até 2030, como parte da estratégia de Bruxelas para reduzir em 50% as emissões de gases com efeitos de estufa até 2030. Na União Europeia alguns portos já se encontram eletrificados, como os de Hamburgo, Bilbao, e outros em vários países nórdicos.