Lisboa
17 fevereiro 2024 às 09h18
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Combater a desigualdade de roda no ar

“Achatamos montanhas e reduzimos as diferenças!” é o mote do projeto Ciclopes - Achata Colinas, que recorre a bicicletas para promover a justiça social.

A decorrer em toda a Lisboa, com foco nos Bairros de Intervenção Prioritária (BIPZIP) e sede no bairro Padre Cruz, o projeto Ciclopes - Achata Colinas promove a utilização da bicicleta como um veículo moderno e atual para atravessar a cidade e, sobretudo, como uma forma de quebrar barreiras e reduzir desigualdades sociais. Em entrevista ao DN, Catarina Miguel Martins, dinamizadora da cooperativa Drive Impact e mentora  do projeto Ciclopes, explica-nos como apareceu a ideia para o projeto. “O Ciclopes surgiu da minha experiência. Depois de seis anos a desenvolver um produto tecnológico de partilha de bicicletas dentro de um consórcio internacional, resolvi mudar de campo e da alta tecnologia passar para mecânica simples e para uma escala mais humana, criando este projeto de apoio à mobilidade suave de base comunitária que possa ser mantido pelas pessoas”, diz.  
Catarina considera que a bicicleta pode “servir de veículo de fuga para uma vida melhor porque permite aumentar o raio de acesso e autonomia da população em termos de emprego, educação e inclusão social com o resto da cidade, destruindo as barreiras geográficas sociológicas e democratizando o acesso a recursos”. 

A Drive Impact é uma organização sem fins lucrativos, criada para promover projetos de impacto ambiental e social e colocar estes temas na agenda nacional.
Apoia outros empreendedores a levantarem projetos com impacto, através de programas e mentoria. “Colocamos uma atitude de foco na medição de resultados, na transparência e trazemos a experiência do rigor e produtividade de outras indústrias para projetos com propósito. Somos uma equipa que não só ensina, mas mostra como se faz, que partilha um saber de experiência feito e colabora em diversos projetos e com a implementação do Ciclopes damos o exemplo”, acrescenta a mesma responsável. 

As cidades estão cheias de obstáculos: estes bairros que  são como ilhas, ruas inclinadas e caminhos de montanha. “Mas para superar algumas dificuldades geográficas, basta ter boas pernas, já para superar declives sociais e o fosso entre ricos e pobres é preciso mais do que músculo, mas a bicicleta pode ajudar, pode dar um empurrão”, acredita Catarina Miguel Martins. 

O Ciclopes propõe promover mudanças que possam “desencadear a liberdade de cada indivíduo para encontrar a solução que se adequa à sua situação particular, de forma orgânica, aumentando o acesso a ferramentas que contribuam para a integração”.

Um dos objetivos do projeto é quebrar o estigma que possa estar associado à bicicleta, mostrando que pode ser cool, e um veículo com estilo, que pode dar autonomia e permitir liberdade financeira. “Para isso precisávamos de uma imagem forte, uma marca estilo de vida. A Graficalismo Studio superou o desafio com um branding apreciado não só pelos miúdos mas também por todos, a ponto de ter distinguido com cinco prémios do Clube da Criatividade de Portugal e um prémio do Art Directors Club of Europe”, acrescenta Catarina Miguel Martins ao DN. “Como parte das nossas ações de comunicação, fizémos sessões de fotografia em três bairros: o Bairro Padre Cruz, o Bairro do Rego e no Bairro do Armador, em Chelas. Transformámos estas fotografias em posters grandes e oferecemos aos miúdos, que tiveram assim a oportunidade de afixar nas paredes dos seus bairros a sua própria imagem cheia de estilo!”, conclui.