Acidente
19 maio 2024 às 22h27
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Irão diz ter localizado presidente após ter pedido ajuda internacional

Segundo Teerão, helicóptero em que seguia Ebrahim Raisi teve uma “aterragem difícil”. Doze horas depois mantinham-se versões contraditórias sobre resultados das buscas.

A União Europeia ativou o serviço de gestão de emergências Copernicus a pedido de Teerão, enquanto as equipas de busca e salvamento vasculhavam uma zona montanhosa envolta em nevoeiro, na sequência de um acidente com o helicóptero em que seguia o presidente Ebrahim e outros dirigentes de topo como o ministro dos Negócios Estrangeiros Hossein Amir Abdoulahian. Países como a Turquia, o Azerbaijão, a Arménia, mas também a rival Arábia Saudita, entre outros estados do Golfo, foram lestos em oferecer meios para a deteção da aeronave -- uma ajuda que poderá já não ser necessária, uma vez que o exército iraniano disse ter localizado a sua posição, segundo a agência iraniana IRNA. 

Ainda de acordo com a mesma fonte, o vice-presidente Mohsen Mansouri disse que duas pessoas que seguiam no helicóptero contactaram as equipas de resgate, embora não tenha adiantado sobre o estado do presidente.

No entanto, 12 horas depois de o helicóptero ter desaparecido, não havia novidades sobre a localização nem o estado dos passageiros, tendo inclusive o presidente do Crescente Vermelho, Pir-Hossein Koulivand, afirmado à estação televisiva IRINN que as equipas de busca e salvamento continuavam sem determinar o lugar onde se encontra o aparelho. 

O helicóptero era um dos três que viajavam na província iraniana do Azerbaijão Oriental quando o presidente regressava da inauguração de uma barragem no rio Aras, numa cerimónia conjunta com o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev. Pelo menos 40 equipas de salvamento dirigiram-se para o local do desaparecimento, uma área de floresta numa região montanhosa de Dizmar, perto da cidade de Varzaghan. Além das dificuldades do terreno, as equipas viram-se confrontadas com a fraca visibilidade, como foi demonstrado pelas imagens transmitidas pela televisão, com os meios enviados no meio de denso nevoeiro.

O ministro do Interior, Ahmad Vahidi, descreveu o acidente como uma “aterragem difícil devido às condições meteorológicas”. Vahidi afirmou que foi “difícil estabelecer comunicação” com a aeronave que transportava Raisi. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amir-Abdollahian, estava também a bordo, juntamente com o governador do Azerbaijão Oriental e o principal imã da província, segundo a agência noticiosa IRNA. Os outros dois helicópteros aterraram em segurança na cidade de Tabriz, no noroeste do país.

Ebrahim Raisi antes da cerimónia de inauguração da barragem de Qiz Qalasi, construída em conjunto pelo Irão e Azerbaijão. (PRESIDÊNCIA DO IRÃO/AFP)

Execuções em massa

Ao chegar à presidência, Ebrahim Raisi disse na sua primeira conferência de imprensa que a prioridade era a de melhorar as relações com os vizinhos. A inauguração da infraestrutura - uma obra conjunta - com o líder azerbaijano pode ser visto nesse prisma, tal como um acordo para reatar relações com a Arábia Saudita, mas o Irão mantém relações complicadas com outros países da região, do Afeganistão a Israel, enquanto desenvolve um eixo com atores do iémen, Iraque, Líbano e Síria.

No campo doméstico, o currículo é, no mínimo, controverso. Visto como o preferido do aiatola para ser o seu sucessor, Raisi, de 63 anos, é conhecido como o “carniceiro de Teerão” pelo seu papel de opressor, quando quando era procurador-adjunto do Tribunal Revolucionário de Teerão: é acusado de ter sido uma peça chave nas execuções em massa de militantes dos Mujaedines do Povo (MEK) e de outros grupos de esquerda em 1988. Após o fim da guerra Irão-Iraque, o então guia supremo Ruhollah Khomeini nomeou Raisi para o chamado “comité da morte”, constituído por quatro homens, para levarem a cabo um plano de execução denaquele ano. Em resposta às críticas, Raisi diz ter sempre agido em defesa dos direitos humanos, mas a repressão esteve à vista na onda de protestos Mulher, Vida, Liberdade.

Na linha de sucessão

O primeiro vice-presidente Mohammad Mokhber assumirá interinamente o cargo presidencial em caso de morte de Raisi, embora tenha de passar pela aprovação do guia supremo, Ali Khamenei. Mokhber, de 69 anos, é o mais antigo dos 12 vice-presidentes. Nos termos do artigo 131.º da Constituição iraniana, um conselho de dirigentes dos poderes executivo, legislativo e judicial, constituído pelo primeiro vice-presidente, pelo presidente do parlamento e pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça, seria responsável pela organização de eleições no prazo de 50 dias.
Mokhber foi alvo de sanções ocidentais.

Em 2010, a União Europeia sancionou Mokhber pelas ligações a um programa de mísseis balísticos e em 2021, foi a vez de os EUA aplicarem sanções a Mokhber pelo papel financeiro naquilo a que o Tesouro norte-americano chamou de “corrupção sistémica e má gestão”.

Outros acidentes com helicópteros

O mais recente acidente de helicóptero com um governante ocorreu na Ucrânia, em janeiro do ano passado. O resultado da queda da aeronave num jardim de infância em Brovary, na região de Kiev, foi trágico: além da morte do ministro do Interior Denis Monastyrsky, o mesmo fim tiveram o vice-ministro Yevhen Yenin, o secretário de Estado Yuri Lubkovych, e os restantes sete ocupantes e tripulantes. Além disso, atingiu mortalmente mais quatro pessoas, uma delas uma criança.

Em 2009, Y.S. Reddy, o ministro-chefe do estado indiano de Andra Pradexe, morreu junto de outras quatro pessoas em resultado da queda de um helicóptero daquele estado com 50 milhões de habitantes.

Seis anos antes, o primeiro-ministro da Polónia Leszek Milller sobreviveu (com duas vértebras fraturadas), bem como o resto dos ocupantes do helicóptero em que seguiam, a uma aterragem de emergência depois de o motor ter falhado devido à formação de gelo. 

cesar.avo@dn.pt

Atualizado às 23.55