“Apesar da consciência que existe a nível mundial acerca da importância e do direito à alimentação, cerca de 3,1 mil milhões de pessoas no mundo (42%) não têm condições de pagar uma dieta saudável. As dietas pouco saudáveis são a principal causa de desnutrição, que inclui a subnutrição, as deficiências de micronutrientes e a obesidade”. Em duas frases a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) lança os pressupostos para a celebração de mais um Dia Mundial da Alimentação. A data, instituída em 1981, traz a cada 16 de outubro um tema para reflexão. Em 2024, os 194 Estados-membros (mais a União Europeia) que integram a FAO são desafiados a debater o “Direito aos alimentos para uma vida e um futuro melhores”.
A alimentação é a terceira necessidade humana mais básica, depois do ar e da água. Os direitos humanos, como o direito à alimentação, à vida e à liberdade, ao trabalho e à educação, são reconhecidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e por pactos internacionais juridicamente vinculativos. Contudo, não basta existir o alimento, há que provir uma rede de produção de bons alimentos e distribuição dos mesmos. A esse propósito a instituição criada em 1945 sublinha que “deveria existir uma maior diversidade de alimentos nutritivos disponíveis nos nossos campos, nas redes de pesca, nos mercados e nas nossas mesas, para benefício de todos”.
A FAO junta à equação uma outra variável: “um mundo com fome zero para 2030”. É esta uma meta viável? Responde-nos Cláudia Viegas: “os sistemas alimentares são muito complexos, com um número de variáveis e fatores que se interligam e que são codependentes que vão desde a produção alimentar, ao seu processamento, distribuição e marketing. Neste contexto, há inúmeros intervenientes, onde se incluem os decisores políticos, os consumidores, e até o desenvolvimento tecnológico. Neste momento, temos dois grandes problemas de saúde pública. Por um lado a malnutrição, que se prende ao excesso de peso. Por outro lado, enfrentamos as alterações climáticas. O grande problema é que estas duas questões estão intimamente ligadas e ambas se reforçam mutuamente. Logo, têm de ser combatidos em simultâneo. Gosto de acreditar que é possível, mas, sejamos racionais, temos de mudar radicalmente o nosso estilo de vida e o modo como nos alimentamos”.