Convenção da Aliança Democrática
21 janeiro 2024 às 18h37
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Moedas destaca audácia da AD. "Esquerda não quer que as pessoas tenham iniciativa"

O presidente da Câmara de Lisboa comparou a autarquia com os objetivos da Aliança Democrática e proveitou para atacar o PS. "É o aeroporto que não chega, são os médicos que não chega, são as casas que disseram que faziam e nunca fizeram", criticou.

Quase a encerrar a convenção Por Portugal, da Aliança Democrática, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, utilizou a palavra "audácia" para qualificar os objetivos da coligação entre PSD, CDS e PPM. "A AD é não impor às pessoas", disse, garantindo que a AD faz "diferente". "Os portugueses sentem medo", rematou.

"Depois de 10 anos de socialismo" a "AD é não se resignar", destacou o autarca da capital, acrescentando que "é olhar para o futuro com esperança". “A esquerda não quer que as pessoas tenham iniciativa”, considerou, argumentando que "a audácia que" a AD "é uma audácia que cuida, protege, mas liberta".

Cecília Meireles diz que líder do PS é "reciclado" e já decidiu apoiar "economia clientelar"

A antiga dirigente do CDS-PP Cecília Meireles acusou o atual secretário-geral do PS de ser "reciclado", e de já ter escolhido nos últimos anos qual o setor a apoiar através do PRR, a "economia clientelar do Estado".

Na sua intervenção na convenção, a antiga deputada e secretária de Estado do Turismo apelou ao voto útil.

"Se aquilo que queremos é mudar, então sabemos bem que feitas as contas, contados todos os cenários há uma coisa que é inegável. Só há duas pessoas em Portugal que podem ser primeiros-ministros: um é mais do mesmo, um reciclado, outro está aqui nesta sala, quem quer mudar, vota AD", disse, referindo-se a Luís Montenegro.

Cecília Meireles, que por opção própria está fora das listas de candidatos a deputados da AD, criticou a intenção já anunciada pelo líder do PS de, se for primeiro-ministro, escolher cirurgicamente os setores da economia a apoiar.

"Então o que tem a dizer é que o problema económico de Portugal é que as empresas foram apoiadas de mais e de forma indiscriminada?", criticou.

A antiga deputada considerou que "o PS já escolheu um setor estratégico a apoiar", quando destinou 70% das verbas do Plano de Recuperação e Resiliência ao Estado.

"É o setor das empresas que trabalham para o Estado e que são clientes do Estado, isso é uma economia clientelar, e isso não é estratégico", disse.

Cecília Meireles recordou ainda o episódio da indemnização à ex-gestora da TAP Alexandra Reis, que o então ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos não se recordou inicialmente de ter autorizado.

"Em qualquer país do mundo, este ministro teria sido demitido por falta de responsabilidade política, em Portugal é candidato a primeiro-ministro. O povo julgará", apelou.

Na área da cultura, o maestro Rui Massena apelou a que se reforce o orçamento público para este setor, mas também que se contrabalance com mais condições para os privados financiarem a cultura.

"Temos de criar verdadeiramente uma lei do mecenato absolutamente explosiva, as empresas têm de querer patrocinar um ballet, um concerto", defendeu, numa pretensão que foi apoiada pelo antigo secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas.

O antigo governante considerou "fundamental que se abram as portas nesta nova legislatura para uma lei do mecenato que esteja do lado dos criadores, das empresas, da negociação entre ambos e do lado do público, com benefícios reais e palpáveis".

Os dois criticaram, tal como já tinha feito o antigo líder do CDS-PP Paulo Portas, o "esquecimento do Governo" na comemoração dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões, que Viegas classificou mesmo como "uma comédia burlesca"

Na área da educação, foram oradores na convenção a dirigente estudantil Gabriela Cabilhas (que irá nas listas da AD pelo Porto) e o investigador Alexandre Homem Cristo (por Lisboa), que criticou o período turbulento no setor e reiterou o compromisso da coligação com a devolução do tempo de serviço congelados dos professores.

"Pior do que o PS, só mesmo o PS com Pedro Nuno Santos a primeiro-ministro", diz Aguiar-Branco

O antigo ministro José Pedro Aguiar-Branco afirmou que um governo liderado por Pedro Nuno Santos será pior do que o atual, e reivindicou para a Aliança Democrática a responsabilidade de restaurar a dignidade no exercício de cargos públicos.

"É este o legado do PS na governação. E pior do que o PS, só mesmo o PS com Pedro Nuno Santos a primeiro-ministro e a Mortágua a ministra das Finanças", afirmou.

O antigo ministro da Defesa lamentou que "passou a ser necessário o estatuto de arguido para um ministro ou secretário de Estado apresentar a demissão, tudo o resto é aceitável", e defendeu que "não há política sem responsabilidade".

Aguiar-Branco considerou também que é "responsabilidade da AD restaurar, pelo exemplo, a dignidade no exercício dos cargos públicos e promover o respeito pelas instituições de soberania".

O social-democrata afirmou que os "ministros já não são políticos, nem querem ser, são funcionários da política".

"Ao invés de procuradores dos cidadãos, função de um governante, temos mandatários dos serviços, das corporações ou dos pequenos interesses", afirmou o antigo líder parlamentar.

José Pedro Aguiar-Branco apontou que os "ministros, que deviam ser os primeiros a exigir responsabilidades e responsabilidade do Estado, tornaram-se porta-vozes da administração".

"São super diretores-gerais que servem para explicar que está tudo bem, que o país está ótimo, que as pessoas é que estão a ver mal o problema, num círculo vicioso que começa exatamente por quem devia dar o exemplo", defendeu, alertando que, "quando um ministro se desresponsabiliza, o secretário de Estado também o vai fazer".

O antigo ministro da Defesa e da Justiça criticou que atualmente se dê muita atenção aos "casos do dia, à manchete da semana", e fala-se da "política para política, como se fosse um jogo, como se fossem claques".

"O país gastou mais tempo a discutir o género das casas de banho do que orçamento do Ministério da Defesa", e "gastou mais tempo a discutir uma possível, eventual e hipotética renacionalização dos CTT do que o tempo médio dos processos judicias num tribunal, do que as avaliações das carreiras dos magistrados no Ministério Público ou do acesso à justiça", criticou.

O cabeça de lista da AD pelo círculo de Viana do Castelo lamentou também que "mais depressa um ministro assina um cheque para as despesas de uma companhia aérea do que para pagar o suplemento de risco dos polícias".

Ao longo da tarde sucederam-se várias intervenções.

Ana Paula Martins, ex-bastonária do Ordem dos Farmacêuticos, considerou que "não há plano" na saúde e o país anda "à deriva", defendendo o acesso ao setor privado e social.

A candidata por Lisboa disse que isto é possível a "custos comportáveis e sustentáveis" e "com as tais contas certas", que no Serviço Nacional de Saúde "não têm nada de certas".

"A AD tem o dever e tem de assumir a obrigação de nos 50 anos da democracia não aceitar um Serviço Nacional de Saúde só para os pobres. A AD tem de ser o governo que não tem medo dos profissionais de saúde e não quer governamentalizar e perseguir as ordens profissionais", defendeu Ana Paula Martins.

De seguida, o cabeça de lista por Santarém, Eduardo Oliveira e Sousa, defendeu mais investimento "no coração de Portugal", ou seja, o mundo rural.

Apontando que o país "não tem conseguido definir uma visão de futuro", o ex-presidente da Confederação dos Agricultores disse ter a promessa do líder do PSD de que, "quando for primeiro-ministro, as florestas vão voltar para o Ministério da Agricultura, de onde nunca deviam ter saído".

Já Rita Júdice, primeira candidata a deputada pelo círculo de Coimbra, alertou que "Portugal não pode dar-se ao luxo de perder mais quatro anos", defendendo que o "PSD já deu várias provas da sua capacidade de fazer, ser agente de mudança e fazer o país crescer".

A convenção da AD decorre hoje o dia todo no Centro de Congressos do Estoril. No palco, em tons de laranja e azul, está a inscrição "Acreditar na Mudança" e grande parte dos participantes têm colado na lapela um autocolante da coligação com as mesmas cores.

Leonor Beleza considera não ser tempo para aventuras nem para aventureiros

A antiga ministra da Saúde Leonor Beleza considerou que este não é o tempo para aventuras nem para aventureiros e que se devem evitar precipitações, e considerou que a Aliança Democrática (AD) é um "sinal de esperança".

"A conclusão que retiro do mundo em que vivemos e dos problemas que temos em Portugal é que este não é um tempo para aventuras, não é um tempo para aventureiros, é um tempo para gente com coragem, para gente capaz de mobilizar, para gente competente", afirmou.

Leonor Beleza disse que o país precisa de "gente capaz de mobilizar equipas capazes, competentes e dedicadas" e salientou que essas pessoas estão na AD.

"Podemos contar com essa equipa aqui na AD, com os nossos líderes e com todos aqueles que vão ter de fazer a mudança", indicou.

A antiga ministra considerou também não ser "tempo de só suscitar medos e ameaças e riscos", mas sim de "mobilizar as pessoas, de mobilizar aqueles que são capazes, que podem efetivamente produzir alguma mudança".

A antiga ministra da Saúde em dois governos de Cavaco Silva defendeu que os perigos que o país enfrenta, "internos e externos, sugerem prudência, maturidade, reflexão, ponderação".

"Este país não está para precipitações, não está para resolver fazer coisas sem se pensar, de uma maneira irrefletida", avisou.

Assinalando que, "para decidir informada e ponderadamente, há uma experiência preciosa, é ter passado por apertos e por dificuldades", mas não "apertos criados pelos próprios", Leonor Beleza apontou que o líder do PSD, Luís Montenegro, "tem uma difícil e bem-sucedida experiência de apertos".

"Quero lembrar a difícil e bem-sucedida experiência de quem teve de defender na Assembleia da República um governo patriota que teve a cruel tarefa de libertar o país da miséria criada por outros", salientou.

Na sua intervenção já na reta final da convenção da AD, Leonor Beleza fez várias críticas ao estado do acesso à saúde ou à Segurança Social e recordou que foi convidada por Francisco Sá Carneiro para discursar no primeiro grande comício do PSD em 1974.

A antiga ministra considerou que a "AD não é duas letras, não é um símbolo, não é uma reedição, é um sinal de esperança, é um sinal de mudança" e um "caminho de vitória", defendendo que "Portugal precisa dessa vitória".

Antes, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa afirmou que os últimos anos de socialismo significaram "estagnação, resignação e desistência das pessoas, que simplesmente já não acreditam".

Carlos Moedas considerou que a ideia do PS para a economia é "dirigismo económico" e acusou o secretário-geral socialista, Pedro nuno Santos, de ter "decidido mal" onde gastar o "dinheiro dos contribuintes".

O social-democrata salientou que os governos do PSD melhoraram o país e a vida das pessoas e indicou que a AD ganhar as eleições legislativas de 10 de março também "será assim", defendendo que Luís Montenegro será "um grande primeiro-ministro".

O autarca contrapôs que o PS é "irresponsabilidade, desresponsabilização" e atribuiu aos socialistas a culpa pelo "drama humanitário" que se vive em Lisboa, fruto da política de imigração.

"Para receber com dignidade os imigrantes, temos de ter uma política de imigração clara", sustentou Carlos Moedas.

*com Lusa