Os comboios vão começar a voltar à Linha da Beira Alta a partir desta segunda-feira. 25 de novembro marca o princípio do fim das obras num dos mais importantes corredores ferroviários nacionais, que está fechado desde abril de 2022. O regresso, no entanto, será faseado e ainda estará bastante limitado para passageiros e mercadorias, que lamentam as oportunidades perdidas, apesar do investimento de 600 milhões de euros, com comparticipação de 85% de fundos europeus.
A primeira reabertura será no troço Celorico da Beira-Guarda, num total de 38 quilómetros. Ficarão a faltar outros 130 quilómetros, de Celorico da Beira até à Pampilhosa, que deverão voltar a receber comboios a partir de março do próximo ano, segundo a Infraestruturas de Portugal (IP). “Os passageiros também vão poder viajar sobre carris entre Guarda e Vilar Formoso apesar de este percurso praticamente não ter fechado para que os comboios de mercadorias pudessem seguir viagem pela Linha da Beira Baixa, mesmo com menor capacidade de carga.
“O regresso dos passageiros à Beira Alta será para apalpar terreno. Dois comboios regionais para cada lado entre Celorico da Beira (partidas às 12.43 e 17.43) e Vilar Formoso (partidas às 5.50 e 16.25), numa tentativa de ligar aos comboios Intercidades, que ainda serão assegurados por autocarros de substituição entre Guarda e Coimbra-B (passando por Celorico da Beira). Comparando os horários antes e depois das obras, o tempo de viagem entre Vilar Formoso e Guarda mantém-se nos 40 minutos. Não há ganhos de tempo, porque o transporte de mercadorias foi prioritário no investimento de 600 milhões da IP.
A realidade, no entanto, parece não corresponder com a prioridade anunciada na apresentação do programa Ferrovia 2020, em fevereiro de 2016. Os comboios de mercadorias só devem voltar à Linha da Beira Alta em maio e teme-se o pior: “Algumas oportunidades foram perdidas limitando o potencial competitivo da infraestrutura”, lamenta ao DN o diretor executivo da Associação Portuguesa de Empresas Ferroviárias (APEF).
Miguel Rebelo de Sousa exemplifica que mesmo depois das obras não será possível colocar comboios de mercadorias a transportar semirreboques de camiões em vagões próprios - as chamadas “autoestradas ferroviárias” - porque “não foi adaptado o gabarito” (máximo espaço possível dos veículos ferroviários).
Também não será possível realizar “a maior parte” dos comboios com 750 metros de comprimento, porque mantiveram-se as pendentes na linha, obrigando ao recurso a duas locomotivas em vez de uma. “Isto significa um incremento significativo do custo de transporte”, contesta Miguel Rebelo de Sousa. O mesmo alerta já tinha sido deixado em outubro pelo presidente do conselho de administração da Medway: “Faz confusão como o Estado investe centenas de milhões de euros numa linha e não resolve uma pendente. Com certeza que não é fácil, que custa dinheiro, mas para quem gasta 600 milhões de euros, não acredito que fizesse disparar muito mais o custo da obra”, contestou Carlos Vasconcelos, em entrevista ao Dinheiro Vivo.
Por falta de garantias, há problemas igualmente do lado espanhol para realizar estes comboios: “Senão, chegamos à fronteira e temos de aliviar o comboio de carga para perfazer o comprimento possível ao longo do resto da rede ferroviária espanhola, o que não é eficiente, nem possível, dado que não existem estações de fronteira preparadas, infraestruturadas e dimensionadas para esse efeito”.
Os operadores ferroviários de mercadorias têm sido compensados pelo fecho da linha, mas apenas pelos serviços perdidos. Defendem que também deveriam receber pelos “potenciais novos serviços que tinham previsto”.