Lisboa
21 setembro 2024 às 17h24
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Avenida da Liberdade de todas as cores na primeira "Marxa Cabral" em Portugal

Esta marcha realiza-se no Dia Internacional da Paz e assinala que setembro será, a partir de agora, o mês das Marxas Cabral em Portugal.

Centenas de pessoas, de várias raças, género e idades, a desceram a Avenida da Liberdade, em Lisboa, na primeira "Marxa Cabral" em Portugal organizada pelo Movimento Negro.

"Amílcar Cabral, unidade e luta. Contra o racismo e a xenofobia", foram as palavras com que a Marxa (marcha, em crioulo) Cabral arrancou da Praça do Marquês de Pombal animada por batucadeiras, fortes sons de tambores, muitos gritos e vivas a Cabral, o líder africano e anticolonialista que faria este ano 100 anos de idade.

A coordenadora do BE, Mariana Mortágua (dta.) e a ex-coordenadora do partido e atual eurodepufada, Catarina Martins, na Marxa Cabral de Portugal. FOTO: MIGUEL A. LOPES/LUSA

Com uma hora de atraso, os manifestantes avançaram devagar às 16:00 apoiados por um mar de bandeiras onde o rosto de Amílcar Cabral era assinalado. As frases que o marcaram são visíveis, bem como bandeiras dos países que ajudou a libertar do colonialismo: Cabo Verde e Guiné-Bissau.

Esta marcha realiza-se no Dia Internacional da Paz e percorreu a Avenida da Liberdade, culminando no Rossio (Largo de São Domingos), onde será lida uma declaração segundo a qual setembro será, a partir de hoje, o mês das Marxas Cabral em Portugal.

Primeira Marxa Cabral de Portugal, em Lisboa. FOTO: MIGUEL A. LOPES/LUSA

Mortágua: atual lei aumenta "imigração clandestina"

Em declarações durante a manifestação, a coordenadora do Bloco de Esquerda acusou o Governo de "brutal irresponsabilidade" ao acabar com "o único mecanismo que existia para regularizar imigrantes que já estavam em Portugal" e considerou que a atual lei aumenta "a imigração clandestina".

"O que o Governo fez na lei da imigração foi de uma brutal irresponsabilidade ao acabar com o único mecanismo que existia para regularizar imigrantes que já estavam em Portugal. O que o Governo fez foi aumentar com a imigração clandestina em Portugal e isso vai ter consequências, porque a imigração clandestina quer dizer imigrantes que trabalham com menos salário, com menos direitos, menos capazes de se incluírem na sociedade. Imigração clandestina quer dizer que não vai haver reagrupamento familiar", disse Mariana Mortágua.

Em junho, o Governo alterou a lei de estrangeiros e, entre outras medidas, extinguiu a figura das manifestações de interesse, um recurso jurídico que permitia a legalização de imigrantes em Portugal que tivessem chegado ao país com visto de turista.

Para Mariana Mortágua, "esta forma como o Governo está a tratar a migração vai piorar o problema".

"Em vez de enfrentar o problema do racismo, da xenofobia, em vez de dar condições e do país olhar para a imigração de que precisa com outro olhar, como incluir as pessoas, está a fazer o contrário, que é atirá-las para a clandestinidade e acabar assim a dar azo a outras fenómenos que são alimentados pela extrema-direita", precisou.

Sobre a importância desta manifestação, a coordenadora do BE afirmou que tem "uma dupla importância", não só para "relembrar e celebrar Amílcar Cabral, que é uma figura central da democracia portuguesa", como também para "fazer uma leitura dos dias de hoje".

"Temos vindo a assistir ao crescimento de movimentos racistas e xenófobos na sociedade portuguesa, que estão a ser impulsionados por grupos de extrema-direita, grupos neonazis e também por parte de partidos de extrema-direita, como o Chega. Por isso, é preciso responder", sublinhou.

A coordenadora do BE considerou também que "estas manifestações têm uma importância histórica", existindo "muito por fazer em Portugal para combater o racismo".

"Os fenómenos de violência que temos vindo a assistir nos últimos tempos em Portugal, nunca vistos em Portugal, de ataques a imigrantes, ataques em escolas, têm a ver com este ressurgimento do ódio e destas demonstrações de ódio, que queremos combater", concluiu.