Habitação
20 maio 2024 às 07h31
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Venda de casas ganha novo ânimo com descida dos juros e da inflação

No primeiro trimestre deste ano o mercado imobiliário deu sinais de inversão face à forte quebra registada em 2023. Os preços das habitações continuam a aumentar.

Depois de o mercado imobiliário ter caído em 2023 para mínimos de sete anos - venderam-se 136.499 casas, menos 18,7% do que em 2022 -, verificou-se “uma dinâmica um pouco mais robusta” no primeiro trimestre deste ano, diz Beatriz Rubio, CEO da RE/MAX. Este movimento foi alimentado pela “diminuição das taxas de juro no crédito à habitação e pelos resultados positivos nas medidas de combate à inflação”, justifica a líder da rede imobiliária. Com a procura a recuperar, o preço das casas voltou a acelerar. Nos primeiros três meses de 2024 aumentaram 2,2% face ao trimestre anterior, uma aceleração em relação aos 1,6% registados entre outubro e dezembro de 2023, revela a Confidencial Imobiliário.

Carlos Santos, CEO da Zome, reconhece que “a descida da inflação, bem como a estabilização e perspetivas de descida das taxas de juro [o Banco Central Europeu já deu sinais de que irá baixar as taxas diretoras em junho], estão a animar o mercado”. No primeiro trimestre, a mediadora registou um crescimento de 41% no volume de transações, 45% no número de casas vendidas e de 28% na faturação. O setor “tem vindo a mostrar sinais animadores de algum crescimento, a apontar para boas perspetivas para o restante ano, uma vez que o impacto da subida da taxa de juro já se encontra acomodada”, considera. 

A Keller Williams também apresentou dados animadores. A rede imobiliária fechou o primeiro trimestre com uma faturação de 14,3 milhões de euros, um crescimento homólogo de 18%, alavancado num aumento de 14% no número de transações. A Engel & Völkers, mais vocacionada para a comercialização de imóveis para o segmento alto, observou “um aumento na atividade, superando consideravelmente o número de transações” face ao primeiro trimestre do ano passado, adianta Juan-Galo Macià, presidente da rede para Espanha, Portugal e Andorra. “O primeiro trimestre deste ano deu sinais de recuperação moderada”, acrescenta.

Apesar dos sinais animadores neste período inicial de 2024, há incertezas quanto ao desenrolar da atividade ao longo do ano. Beatriz Rubio perspetiva “uma recuperação do mercado imobiliário”, mas considera ser “prematuro determinar a extensão dessa recuperação, uma vez que existem fatores externos e imprevistos que podem influenciar significativamente o cenário”. Como frisa, o clima de incerteza e de tensão internacional “não favorece a confiança dos investidores nem a tomada de decisões a longo prazo”. Para Juan-Galo Macià, a trajetória de crescimento deverá manter-se, mesmo com as novas regulamentações, como o fim dos vistos gold. Como sublinha, já em 2023 “não notámos um impacto significativo relativamente ao tema” dos vistos dourados na Engel & Völkers.

Segundo Beatriz Rubio, o negócio no segmento alto e de luxo apresentou “uma resiliência relativa” em 2023. “Embora não haja dados oficiais disponíveis, a nossa observação indica uma redução de aproximadamente 10% a 12%, abaixo da queda observada no mercado regular”. A RE/MAX Collection, a marca da rede para este nicho, foi responsável por quase 4400 transações neste mercado em 2023, uma quebra de 9% face ao ano precedente, com o preço médio de venda de uma casa a rondar os 940 mil euros.

18 casas por hora

Se é certo que o mercado caiu no ano passado muito devido ao aumento do custo de vida e à subida das taxas de juro, fatores que se associam aos elevados preços das habitações, não se deixou de verificar um forte movimento aquisitivo nas duas principais cidades do país. A RE/MAX garantiu “na região da Grande Lisboa um total impressionante de 18 casas vendidas por hora, enquanto na zona Norte transacionámos oito casas por hora”, conta Beatriz Rubio. Estes números são elucidativos da forte procura que está a caracterizar o mercado.

Como sublinha esta responsável, “a procura, quer em quantidade como em diversidade, tem sido sistematicamente superior à oferta, o que tem acarretado um aumento dos preços e, consequentemente, maiores dificuldades no acesso”. Muitas das medidas anunciadas pelo governo para resolver a crise habitacional do país no pacote Construir Portugal são também defendidas pelos agentes imobiliários. Beatriz Rubio defende a necessidade de “reorganizar algumas das políticas já existentes”, assim como “criar novas, com impacto a médio e longo prazo, que promovam tanto uma maior acessibilidade como uma maior estabilidade dos preços”. Segundo ela, “o mais importante é que sejam as mais apropriadas a médio e longo prazo, pois decisões de curto prazo apenas prolongam no tempo toda esta complexidade, adiando as soluções definitivas e estruturais”.


Para Carlos Santos a abordagem do governo ao problema “é assertiva e considera fatores estruturais essenciais, como a mobilidade, a coesão territorial e os incentivos ao aumento da oferta de habitação”. O gestor não deixa, contudo, de alertar que “é fundamental que essas boas intenções se concretizem”. Frisa que “a eficácia destas propostas dependerá da sua materialização e da capacidade do governo em implementar as medidas de forma eficiente”. E advoga ainda: “A transparência durante esse processo é crucial para preservar a confiança pública e assegurar que as propostas não fiquem apenas no papel.”

Recorde-se que o governo apresentou há pouco mais de uma semana o pacote Construir Portugal, que integra um conjunto de propostas como apoiar os jovens na aquisição da primeira casa, promover a construção de habitação pública e incentivar a oferta de casas a preços acessíveis, entre outras.

sonia.s.pereira@dinheirovivo.pt