Não havia Natal dos Hospitais ou querido mês de agosto sem Marco Paulo. Ao longo de mais de meio século de carreira, o cantor terá completado várias voltas a Portugal em palcos, uns melhores do que outros, ao mesmo tempo que, nos anos dourados do vinil, colecionava discos de ouro e platina correspondentes aos sucessos de vendas. Morreu esta quinta-feira, aos 79 anos, vítima de cancro, sem que algum português com mais de 20 anos possa dizer que o desconhece.
No princípio de tudo, Marco Paulo era um menino chamado João Simão da Silva, nascido a 21 de janeiro de 1945, em Mourão, mas que, por causa do trabalho do pai (funcionário das Finanças), começou a calcorrear meio Portugal ainda na infância. Foi também nesses tempos, em que a rádio era rainha incontestada dos lares portugueses, que o miúdo descobriu que gostava de cantar e, mais importante ainda, que os outros também gostavam de o ouvir.
Como escreveu, no DN, António Araújo (no último episódio da rubrica Prova de Vida, a 1 de setembro último): “Uma vez, estava João na rua com os amigos, jogando à bola e trinando músicas de Joselito, quando um dos convidados de uma boda próxima - mais precisamente, o senhor Renato, que tinha uma tipografia e que era muito amigo do seu pai - decidiu fazer uma surpresa à noiva e convidar o miúdo a cantar. João esmagou com Campanera (…).” Joselito, dois anos mais velho do que o pequeno João, era, com Marisol, uma das crianças-prodígio que o cinema espanhol internacionalizou, e que, em Portugal, valia a filmes como O Pequeno Rouxinol meses consecutivos em cartaz.
Ora, a sua aproximação ao repertório de Joselito valeu o primeiro grande êxito à futura vedeta portuguesa. Como recorda ainda António Araújo no citado artigo: “Sucede que naquela boda estava o diretor do jornal A Verdade de Alenquer, ou seja um representante dos media, e estava também um tio da noiva que, não muito depois, tinha João 12 anitos, organizou as Festas do Orfanato de Alenquer. Foi lá que João Simão se estreou nos palcos, sendo o cachê nesse ensejo um arroz de cabidela e um punhado de rebuçados.”