Educação
19 janeiro 2024 às 07h33
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Escola sustentável e inovadora atrai atenções no Porto

Escola Básica do Falcão conta com 700 metros quadrados de área verde, aproveitamento da água das chuvas e produção própria de energia: cerca de 60% da que é consumida no estabelecimento escolar é gerada localmente.

Coberturas verdes, painéis fotovoltaicos, recolha de águas pluviais com ligação a uma charca situada na horta comunitária ao lado da escola e uma fachada verde para sombreamento das salas de aula – de modo a adaptar a escola às alterações climáticas, melhorar a eficiência energética e o conforto térmico do edifício – são algumas das soluções sustentáveis da EB do Falcão, do Agrupamento de escolas do Cerco, no Porto. Com 700 metros quadrados de área verde, o edifício construído de raiz e inaugurado este ano resultou de um investimento de mais de um milhão de euros, financiado a 100 por cento pelo programa LIFE ao abrigo do “MyBuildingisgreen”. Cerca de 60% da energia consumida no estabelecimento escolar é produzida localmente, através dos painéis fotovoltaicos colocados na cobertura do edifício.

Em declarações ao DN, Filipe Araújo, vice-presidente da Câmara Municipal do Porto (CMP), explica tratar-se de uma ‘escola exemplo’. “A EB do Falcão é a única escola deste género a nível nacional e a única com telhados verdes na cidade do Porto”, sublinha. A maior parte das coberturas instaladas na escola (400 m2) estão instaladas com uma tecnologia inovadora chamada GUL (Green Urban Living). Trata-se de coberturas verdes cuja base está feita em cortiça (em vez do habitual plástico). Este sistema surgiu de um projeto de investigação da Amorim Isolamentos, Neoturf Espaços Verdes e ITECONS, e consegue drenar excessos de água, impermeabilizar, reter água e fazer isolamento acústico e térmico. A EB de Falcão é o primeiro projeto no mundo com este material, segundo a CMP.

Filipe Araújo sublinha ainda que o modelo sustentável da EB do Falcão serve de alavanca para “a sensibilização ambiental”. “Queremos mudar comportamentos. Temos outros edifícios sustentáveis na cidade, como o terminal Intermodal de Campanhã ou a sede da Porto Ambiente e temos por norma, no município, uma estratégia para produzir energia localmente e a aposta numa maior eficiência energética”, explica.

Na escola, é visível a felicidade de alunos, docentes e não docentes, inseridos num espaço repleto de áreas verdes, com muita luz solar e salas onde se sente conforto térmico. Helena Ribeiro, coordenadora da EB do Falcão, salienta essa “alegria das crianças” e recorda o momento em que uma turma de 4.º ano soube que ainda poderia sentar-se na sala de aula da escola nova. “Viemos para cá em abril, mas poderia ter sido apenas em setembro. Se assim fosse, os meninos e meninas do 4.º ano já não se mudariam para cá. Foi inexplicável a reação deles quando lhes contei, até porque vieram connosco ver as obras algumas vezes e íamos mostrando a evolução da escola por fotografias”, recorda.

Helena Ribeiro é a coordenadora da EB do Falcão, onde já estão instaladas no novo edifício estão 156 crianças do pré-escolar e do 1.º ciclo. ANDRÉ ROLO/GLOBAL IMAGENS

Já instaladas no novo edifício estão 156 crianças do pré-escolar e do 1.º ciclo para quem aprender se tornou “mais fácil”. “O que mais se sente é a alegria dos alunos desde que mudaram para a nova escola. Estão muito mais felizes e mais atentas às questões ambientais”, afirma Helena Ribeiro.

Manuel Oliveira, diretor do Agrupamento de Escolas do Cerco, partilha a alegria das crianças e mostra-se orgulhoso da EB do Falcão, “por ser uma escola diferente, uma escola de futuro”. “Na área metropolitana do Porto não há igual. É uma escola de futuro e com futuro, que apresenta soluções inovadoras. Do ponto de vista da sua construção, conta com os materiais renováveis e apresenta uma melhoria substancial do ponto de vista do conforto. Nesse aspeto, acho que a CMP está de parabéns por apostar na sustentabilidade”, afirma.

Zona requalificada

As obras na EB do Falcão já há muito terminaram, mas mesmo ao lado do estabelecimento está a surgir uma nova área verde, o Parque da Alameda de Cartes (com inauguração prevista em abril de 2024). O parque desenvolve-se na zona oriental da cidade, entre três bairros de habitação pública municipal: Falcão, Cerco do Porto e Lagarteiro, abrindo um canal pedonal e ciclável desde o Parque da Corujeira até à entrada do Parque Oriental. “Trata-se de uma transformação do território enorme”, conta Filipe Araújo.

Já Manuel Oliveira salienta a importância da requalificação da zona para a população local. “Vai ficar muito diferente para melhor. Era uma zona que poderia ser para construção, mas que foi, felizmente, para a criação de um corredor verde desde o parque oriental até à Corujeira, o que transformou uma área que antes era vedada à população, numa área de lazer. Vai dar outra qualidade de vida à população e aos alunos do agrupamento”, conclui. 

O diretor do Agrupamento de Escolas do Cerco do Porto espera que “a comunidade escolar aproveite o novo edificado e os espaços, para que resulte em plenitude aquilo que é uma nova escola e o investimento do município”. “Todas estas melhorias alteram de forma positiva o bem estar e, também, o processo de ensino aprendizagem que, espero, levarão a melhores resultados educativos”, conclui.

Filipe Araújo promete continuar a aposta na sustentabilidade e é por isso que a CMP está a monitorizar a eficácia de algumas das tecnologias implementadas na EB do Falcão. “A lógica é que, no futuro, a tecnologia aqui implementada seja utilizada em outros edifícios do município”, conclui.
dnot@dn.pt