Mas o aumento do número de utentes estrangeiros residentes no país "não é um grande problema para o SNS” , diz o presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares (APAH), Xavier Barreto, porque tal não implicou “grandes alterações na forma como os serviços funcionam”. “Apenas tivemos de fazer algum investimento, na compra de equipamento, por exemplo, para facilitar a comunicação entre profissionais e alguns utentes”, justifica, reconhecendo, no entanto, que o aumento da procura associada “à falta de profissionais aumenta a pressão nos serviços”.
O administrador conta ao DN que a chegada de alguns utentes, sobretudo oriundos da Ásia, levou a “recorrer-se ao trabalho de tradutores, mas isto rapidamente caiu em desuso, porque a tecnologia ajudou a ultrapassar essas barreiras, não tendo sido necessário um grande investimento”.
E se do ponto de vista clínico os profissionais têm de se adaptar às diferenças culturais e religiosas de alguns utentes, do ponto de vista dos administradores há outras preocupações. E estas não são sequer do ponto de vista dos custos, porque “a partir do momento que um utente reside no país, trabalha e paga os seus impostos, tem direito à saúde, como qualquer cidadão português”. Portanto, sublinha, “não temos sequer números sobre quanto é que estes doentes podem custar ao SNS. Os custos são por patologias e atos e não por nacionalidades”.
Em termos de investimento, a única questão existente que “podemos apontar é que o SNS não investiu o que deveria para dar resposta a estas centenas de milhares de pessoas como a todos os outros utentes. Temos 1,7 milhões sem médico de família”.
Na verdade, alerta, “o grande problema para o SNS são os doentes que vêm cá de propósito à procura de cuidados e que não estão registados no país”. Ou seja, “doentes que chegam aos nossos aeroportos e que vão diretos a um Serviço de Urgência a queixar-se de dores, mal-estar ou com algumas alterações, no caso de uma grávida, e que têm de ser tratados. Porque, do ponto de vista ético e humano, não é possível lidar com esta situação de outra maneira. É um cuidado urgente”, argumenta. Mas, depois, temos o outro lado, “a pessoa é tratada, por vezes com continuidade, e há custos para o erário público, mas quando se tenta a cobrança dos cuidados junto dos próprios, que, por vezes, já regressaram ao seu país, ou junto das suas embaixadas é muito difícil conseguir que tal aconteça”, explica.
À questão sobre se são muitos os casos deste tipo nos hospitais portugueses, Xavier Barreto diz não ter uma “noção global do fenómeno”, mas, reforça, “a maior parte entra pelas Urgências e, portanto, é quase impossível travar essa entrada, quando de facto há uma situação clínica para tratar”.
O administrador diz ao DN que “o tema tem vindo a ser discutido nalguns fóruns, porque o SNS tem de lidar com estas situações”. Por isso, defende, que tem de haver “um maior esforço entre o Estado português e algumas embaixadas de alguns países para se poder gerir melhor não só a vinda destas pessoas, como a sua estadia em Portugal e, depois, o pagamento dos cuidados que receberam”. Xavier Barreto não tem números sobre estes casos, mas destaca que, “nalgumas áreas específicas, como maternidades, oncologia e outras, isto acontece”.
Na opinião do presidente dos administradores, quando se fala na pressão dos serviços de saúde, na dificuldade no acesso a consultas, cirurgias e até aos Serviços de Urgência é claro que este “aumento da procura conta”, sobretudo associado à “falta de profissionais”, e que “o investimento no SNS tem de ter em conta os dois aspetos”.