18 de outubro. O quarto dia de julgamento começou com um caricato “saudações leoninas” de Rogério Alves, um dos advogados dos arguidos, ao antigo presidente do BESI e membro do conselho superior do GES, o único que testemunho na sexta-feira.
Para memória futura, José Maria Ricciardi relatou um jantar, entre maio e junho de 2014, em que Ricardo Salgado de quem é primo direito, tentou comprar a sua conivência com a “falsificação das contas”. “Fomos recebidos por ele e pela sua mulher [Maria João], com uma simpatia exagerada. As nossas mulheres nem se davam propriamente bem, mas a mulher do dr. Salgado até disse que deviam de ir ao cinema, ao Cascais Shopping, uma coisa um bocado pateta... No fim do jantar, fomos para o escritório e pergunta-me - ‘O que é que tu queres?” relatou, admitindo que “toda a gente pode especular” que resposta esperaria o ex-líder do BES. Ricciardi disse que pediu mais atenção com o BESI e outro tipo de gestão e que, em troca, Salgado pedira “solidariedade com a família”, ou seja conivência. “Não contas com a minha solidariedade. Nunca fui tido nem achado sobre isto. Não vou ser solidário. Nessa altura, [Salgado] mostrou grande desagrado”, contou, sem conseguir explicar por que razão foi o único elemento da família a desafiar o ex-banqueiro. “Tinham medo de Salgado”, asseverou, mas sem especificar as razões de tal opinião.
Outra nota que fica do depoimento de Ricciardi, que prosseguiu o testemunho iniciado na quinta-feira, aprofundou críticas ao Banco de Portugal e ao ex-governador Carlos Costa, ao explicar o motivo para os lesados do BES não terem sido compensados. Segundo o gestor, tinha sido criada uma provisão para pagar a quem comprou papel comercial da ESI e Rioforte, vendido a clientes do BES, e que fora aprovado por um “conselho de administração fictício” sem passar pelos executivos do banco. Em 2014 havia dúvidas sobre se os clientes que o adquiriram seriam pagos pelo Novo Banco, mas o então líder do banco bom, Eduardo Stock da Cunha, garantira no Parlamento que sim. Mas não aconteceu.
Ricciardi contou que os “200 elementos da PwC” fizeram “tão bem” a separação dos bens do banco que, “a certa altura”, faltavam “500 milhões em provisões para créditos do Novo Banco”.
“O que o governador Carlos Costa e o Fundo de Resolução se lembraram? Vamos tomar a conta dos lesados, porque não era sobre a emissão de títulos, era sobre terceiros - a ESI e a Rioforte - não afetava nada o capital, que se lixem os lesados, e vamos deslocar esse dinheiro para os créditos que faltavam para as contas que a gente fez mal”, afirmou.
Perante aquele relato, a defesa de Salgado - liderada por Francisco Proença de Carvalho - optou por não contra-argumentar, avisando que o antigo banqueiro não tem condições de saúde para contestar a testemunha. Mesmo assim, a defesa quis saber se Ricciardi está de relações cortadas com o primo. “O dr. Ricardo Salgado é que está de relações cortadas comigo”, respondeu.