Política
05 julho 2024 às 20h40
Leitura: 5 min

Ventura junta-se a Viktor Orbán para criar a terceira força política no Parlamento Europeu

Eurodeputados do Chega vão integrar grupo Patriotas pela Europa promovido pelo PM húngaro. Possível entrada da União Nacional de Marine de Le Pen e da Liga Italiana de Matteo Salvini altera cenário político em Bruxelas.

Orbán convidou e Ventura aceitou. E a mudança do ID (Identidade e Democracia) para o institucionalizado ECR (Reformistas e Conservadores Europeus) que se “previa”, como constatou Riccardo Marchi, investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL, tendo em conta a “evolução de perfil” e “projeto político” do Chega não aconteceu.

O partido de Ventura irá é integrar no Parlamento Europeu o novo grupo político Patriotas pela Europa que só poderá existir se reunir um mínimo de 23 eurodeputados de sete Estados-membros. Nesta altura há 39 eleitos, mas faltam ainda dois partidos de dois países.

Tânger Correia, o recém-eleito eurodeputado do Chega, também tinha admitido, durante a campanha eleitoral, a hipótese de uma união entre ID e ECR, mas também referiu “movimentações” para outros cenários.

Para Riccardo Marchi era claro que a permanência no ID ia “dificultar”a narrativa política do Chega, tal como fragilizados foram, desde fevereiro de 2022, muitos dos maiores partidos da ID.

“O isolamento a nível europeu do ID e as posições dúbias em relação ao conflito Rússia-Ucrânia (tendo aliás os dois maiores partidos, RN e Lega, tido colaborações estreitas com o partido de Putin) iam necessariamente criar dificuldades”, constata o investigador.

“Na questão do isolamento, é verdade que a institucionalização do ECR é incomparável com a da ID: o ECR ainda tem neste momento três chefes de Governo no Conselho de Europa, vários vice-presidentes de comissões e um presidente de comissão. O ID, por seu lado, não tem nada e nem sequer é tomado em consideração nas hipóteses de mudança de eixo com o fortalecimento das relações PPE-ECR”, explica,

A mudança foi, como garante Ventura, para um grupo sem “radicalismos desnecessários e focado em ser Governo nos seus vários países (…) um ambição que nenhum outro [grupo] à direita teve”.

“O apoio à Ucrânia é decisivo, não estaríamos lá se não fosse assim”, referiu o líder do Chega destacando também a “ligação atlântica”, nomeadamente aos Estados Unidos da América ou Brasil.

O paradoxo do “apoio à Ucrânia” surge da recente reunião de Viktor Orbán com Putin, em Moscovo, - criticado, por exemplo, por Ursula von der Leyen - com a justificação de ter sido uma “abordagem para paz”.

O Patriotas pela Europa, promovido pelo primeiro-ministro húngaro, já captou o espanhol Vox que integrava o ECR, e, espera André Ventura, que também junte, por exemplo, os partidos da francesa Marine de Le Pen, Reunião Nacional, e do italiano Matteo Salvini, a Liga.

“Podemos vir a ter um grupo maior do que conservadores e liberais no Parlamento Europeu (…) o principal grupo da oposição a socialistas e populares. Esta é uma família política que respeita a soberania de cada uma das nações e partidos”, acredita o líder do Chega. Para ser, pelo menos, a terceira força política este grupo precisa de reunir 79 eurodeputados - o PPE tem 188, o S&D tem 136, ERC tinha 84, mas está com 78 eleitos após a saída do Vox.

“Esta é uma família política que respeita a soberania de cada uma das nações e partido (…) com um programa de luta contra a corrupção, a imigração ilegal e pela proteção das forças de segurança”, afirma Ventura.

Os cinco partidos do novo grupo europeu: Fidesz (Hungria), Aliança dos Cidadãos Descontentes (República Checa), Liberdade da Áustria (FPO), Vox (Espanha), e Chega (Portugal).