Incêndios na Madeira
24 agosto 2024 às 14h02
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Moradores da Fajã das Galinhas já não vão regressar a casa. Serão realojados em "zona mais confortável"

Miguel Albuquerque afirmou que a situação da Fajã das Galinhas é "uma situação de grande perigosidade" e há condições "para encontrar uma solução definitiva para essas famílias". A autarquia de Câmara de Lobos vai iniciar brevemente a construção de 30 moradias na zona do Castelejo.

O Governo da Madeira pretende realojar os moradores da Fajã das Galinhas, no concelho de Câmara de Lobos, numa "zona mais confortável", indicou este  o presidente do executivo, considerando que o sítio permanece isolado na sequência do incêndio.

"A situação da Fajã das Galinhas é uma situação de grande perigosidade, já não é de agora, e penso que estamos em condições para encontrar uma solução definitiva para essas famílias", disse Miguel Albuquerque na conferência de imprensa em que apresentou o ponto da situação do incêndio, no Serviço Regional de Proteção Civil da Madeira, no Funchal.

"São cerca de 36 famílias, o levantamento está a ser feito", explicou, para logo acrescentar: "Nós queremos, no fundo, fazer o realojamento das famílias numa zona mais confortável da freguesia, onde não estejam sujeitas àquela acessibilidade periclitante."

Em 17 de agosto, 120 pessoas foram retiradas do sítio, na freguesia do Estreito de Câmara de Lobos, nas zonas altas do concelho, devido às chamas que cercaram a zona e tornaram intransitável a única estrada de acesso, numa extensão de cerca de dois quilómetros ao longo de uma escapa.

Dezasseis famílias, 42 pessoas, estão temporariamente alojadas no Centro Comunitário da Câmara Municipal de Câmara de Lobos, quatro permaneceram no sítio e as restantes estão em casas de familiares.  

"Iremos encontrar, em consonância com o trabalho que está a ser feito pelo senhor presidente da Câmara [de Câmara de Lobos], realojamento provisório para essas famílias e depois podermos, com o tempo e em função do investimento prioritário, [fazermos] o realojamento definitivo dessas famílias num local mais adequado", disse Miguel Albuquerque.

O chefe do executivo admitiu, no entanto, que o processo de deslocalização dos moradores é complexo.

"É evidente que há sempre aqui alguma complexidade, porque são pessoas, algumas delas que têm os seus bens naquela zona, viveram durante muitos anos na zona, mas eu acho que neste momento que a situação passa por um realojamento confortável e definitivo das famílias, aquelas que quiserem, noutra zona", defendeu.

Mais tarde, o presidente da Câmara Municipal de Câmara de Lobos afirmou que a Fajã das Galinhas não oferece condições de segurança para as pessoas poderem regressar às suas casas estando, agora, a tratar dos realojamentos.

"Somos do entendimento de que a escarpa e o acesso viário para a Fajã das Galinhas, por um tempo que não conseguimos determinar, não oferece as condições de segurança para que as pessoas possam regressar às suas habitações", disse à Lusa Leonel Silva.

O autarca revelou que esta decisão já foi comunicada aos habitantes, retirados daquele local enquanto o incêndio estava ativo.

Os moradores vão, agora, ser realojadas provisoriamente em equipamentos municipais, públicos e regionais enquanto a construção de habitações definitivas, noutra localidade, não estiver concluída, explicou.

Leonel Silva salientou que a autarquia vai iniciar brevemente a construção de 30 moradias num investimento de 7,5 milhões de euros na zona do Castelejo, próxima da Fajã das Galinhas, localidade que não oferece riscos.

Este projeto não é novo, tendo sido desenhado no ano passado aquando da estratégia local de habitação onde a Fajã das Galinhas já tinha sido sinalizada como sendo de elevado risco, sublinhou.

Dizendo que o incêndio veio acelerar o processo, o autarca revelou que a generalidade das pessoas já não quer regressar à Fajã das Galinhas.

Leonel Silva frisou que o único acesso viário à fajã vai ser apenas reaberto para que as autoridades possam retirar os animais que lá estão, continuando proibido às populações porque não estão garantidas as condições de segurança.

Antes, em 20 de agosto, o presidente da Câmara Municipal de Câmara de Lobos, Leonel Silva, já tinha dito à agência Lusa que um conjunto de famílias da Fajã das Galinhas já não regressaria ao local se lhes fosse proporcionada uma solução habitacional e lembrou que a Câmara Municipal já tem um plano para a construção de 30 moradias orçado em 7,5 milhões de euros.

O incêndio rural na ilha da Madeira deflagrou a 14 de agosto nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e Santana. Hoje de manhã, ao 11.º dia, a Proteção Civil regional indicou que o fogo está controlado e que os operacionais se mantêm no terreno em operações de rescaldo, controlando alguns pontos quentes.

Nestes dias as autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores foram regressando a casa. 

O combate às chamas foi dificultado pelo vento e pelas temperaturas elevadas, mas, segundo o Governo Regional, não há registo de feridos ou da destruição de casas e infraestruturas públicas essenciais, embora algumas pequenas produções agrícolas tenham sido atingidas, além de áreas florestais.

Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais apontam para mais de 5.045 hectares de área ardida.

A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, disse tratar-se de fogo posto.