Queda de helicóptero no Douro
30 agosto 2024 às 13h25
Atualizado em 30 agosto 2024 às 19h50
Leitura: 11 min

Luto nacional neste sábado. Vítimas são todas do distrito de Viseu

Há quatro militares da GNR mortos e um desaparecido após queda do helicóptero na zona do Peso da Régua. O piloto do aparelho que regressava de um incêndio em Baião foi resgatado com vida e está no hospital.

Quatro dos cinco corpos dos militares da GNR que estavam desaparecidos no rio Douro na sequência da queda do helicóptero de combate a incêndios ao início da tarde desta sexta-feira foram encontrados pelas equipas de resgate. 

Assim, fica a faltar apenas encontrar um dos cinco militares da GNR, que se encontravam no aparelho, na zona do Peso da Régua, quando regressava de um incêndio em Baião. 

O primeiro-ministro Luís Montenegro anunciou no local que foi decidido decretar para este sábado um dia de luto nacional, o que foi confirmado também pela PResidência da República numa nota publicada no site oficial.

"O Presidente da República, que acompanhou este terrível acidente com o primeiro-ministro, no Posto de Comando Operacional, em Lamego, e com a ministra da Administração Interna, acordou com o Governo a fixação de um dia de luto nacional, para amanhã, dia 31 de agosto", lê-se.

"Hoje é um dia muito, muito triste para Portugal", afirmou Luís Montenegro, numa unidade hoteleira, em Lamego, distrito de Viseu, acompanhado da ministra da Administração Interna.

O primeiro-ministro assegurou que "está a ser tudo feito" pelas entidades responsáveis pela busca e salvamento, enaltecendo a forma como responderam ao alerta.

Vítimas são todas do distrito de Viseu

Os cinco ocupantes do helicóptero que caiu no rio Douro, em Lamego, são naturais de Lamego, Moimenta da Beira e Castro Daire, no distrito de Viseu, e têm entre 29 e 45 anos, disse a porta-voz da GNR.

Mafalda Oliveira disse aos jornalistas que os cinco ocupantes, quatro deles já localizados e retirados do rio Douro, têm entre 29 e 45 anos.

Segundo referiu, os familiares dos ocupantes "estão todos avisados e estão a ser devidamente acompanhados por psicólogos" das diferentes autoridades militares e civis.

Fonte da proteção civil disse à agência Lusa que as cinco vítimas são naturais do distrito de Viseu: três do Município de Lamego, um de Moimenta da Beira e um de Castro Daire.

O piloto da aeronave, que sofreu ferimentos leves, é natural de Vila Real e tem 44 anos.

Helicóptero partiu-se em dois

A confirmação de que falta apenas encontrar um dos militares da GNR envolvidos no acidente foi feita num brieffing pouco depois das 18.45 horas por Rui Silva Lampreia, chefe do departamento da Polícia Marítima Norte. "Quatro vítimas foram localizadas e uma continua desaparecida", começou por dizer, garantindo que "vai prosseguir o esforço" para encontrar o militar da GNR que ainda está desaparecido.

Este responsável confirmou que as duas primeiras vítimas "foram encontradas no interior do aparelho", sendo que as outras duas "estavam fora, junto à cauda da aeronave, à profundidade de seis metros". Rui Silva Lampreia revelou ainda que o helicóptero "partiu-se em dois".

"Temos seis equipas de mergulho a operar, com duas dezenas de mergulhadores. Esta operação vai decorrer até cerca das 21.00 horas, ou seja, até cerca de meia hora depois do por do sol. No entanto, se necessário, amanhã serão retomadas as buscas assim que houver luz do dia", assegurou Rui Silva Lampreia.

As operações de busca subaquática foram entretanto suspensas, ao início da noite, e retomam na manhã de sábado com o nascer do sol, informou o responsável já perto das 21 horas.

Quanto ao piloto do aparelho que se encontra no hospital de Vila Real, disse ter "algumas fraturas" nos membros superiores, mas "nada de grave", acrescentando que as vítimas mortais "são da região e têm na casa dos 30 anos".

O chefe do departamento da Polícia Marítima Norte adiantou ainda que há "várias equipas de psicólogos no local para apoiar a família das vítimas", enquanto 115 operacionais continuam as operações de busca do militar ainda desaparecido.

Sobre as causas do acidente, voltou a remeter para mais tarde todos os esclarecimentos.

O que é a UEPS da GNR, à qual pertenciam os militares?

Segundo informações da GNR, os militares pertenciam às equipas helitransportadas da UEPS - Unidade de Emergência de Proteção e Socorro, cuja missão consiste "em efetuar primeira intervenção em incêndios nascentes, fazendo-se deslocar de helicóptero (ligeiro ou médio) para ao teatro de operações, após o despacho do Comando Distrital de Operações e Socorro (CDOS), o qual não deve exceder dois minutos, após conhecida a localização do incêndio."

"Esta equipa helitransportada, ou secção para o caso de meio aéreo médio, é constituída por cinco, oito ou doze militares, e está equipada com material sapador para efetuar combate direto. É através desta equipa/secção que é estabelecida a ligação terra-ar, ou seja, entre o Comandante das Operações de Socorro (COS) do incêndio e o piloto comandante do meio aéreo. A equipa/secção e o meio aéreo são elementos indissociáveis durante todo o tempo de operação", acrescenta a Guarda.

O helicóptero e os seis elementos da equipa tinham participado nas operações de combate a um incêndio rural em Gestaçô, Baião, e estavam a regressar ao Centro de Meios Aéreos em Armamar. Pertencem ao Pelotão de Intervenção de Proteção e Socorro de Armamar da Companhia de Intervenção de Proteção e Socorro de Vila Real.

Montenegro e Marcelo no local. Primeiro-ministro rejeita "pertubação"

O primeiro-ministro Luís Montenegro esteve no local do acidente, onde se reuniu com as autoridades locais e, depois, embarcou numa das lanchas de busca e percorreu as margens do rio com uma das equipas de socorro.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também esteve no local, juntamente com o primeiro-ministro, depois de ter cancelado a sua agenda. 

O primeiro-ministro Luís Montenegro foi confrontado pelos jornalistas com as críticas por ter subido a bordo de uma lancha dos bombeiros e acompanhar as operações.

"Tive a ocasião de poder verificar no local toda a magnitude desta operação, mas sobretudo foi-me permitido estar com os mergulhadores, que estão também eles a desempenhar uma missão muito perigosa. Quis transmitir-lhes também o nosso apreço pelo esforço que estavam e estão a fazer neste momento para tentar encontrar o corpo que falta", justificou o Montenegro.

O líder do governo lembrou que o rio Douro, nesta ocasião do ano, "tem uma grande dificuldade de visibilidade e as operações de mergulho são bastante complexas e perigosas".

"É minha obrigação e responsabilidade, em nome do povo português, estar ao lado daqueles que também arriscam a sua vida, mesmo nesta circunstância trágica, nestas operações. Cumpro a minha obrigação de representar o Governo da República Portuguesa, de representar os portugueses, de poder acompanhar aquilo que foi e é um episódio muito triste e de poder enaltecer o trabalho de todas as Instituições e dos seus responsáveis que estão aqui a dar tudo o que têm. São mais de 122 operacionais que estão neste momento em execução de tarefas e de missões", destacou o primeiro-ministro.

Questionado se a sua presença não podia desviar as atenções do essencial, da busca e resgate dos ocupantes, Luís Montenegro refutou essa possibilidade.

"Sinceramente creio que a presença de primeiro-ministro não foi motivo de nenhuma perturbação nas operações de busca. Fazer disso crítica ou caso, francamente, acho que é um desrespeito pelas Instituições. Já não digo por mim, porque eu sou muito pouco importante a esse respeito. Mas as Instituições que eu represento como primeiro-ministro, o povo português que eu represento, estas mulheres e estes homens da Guarda Nacional Republicana, dos bombeiros, da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, das Forças Armadas, da Marinha, do Exército, da Força Aérea, merecem que os responsáveis pelas tutelas destas áreas possam estar ao seu lado. Não tive nenhuma intervenção nem pretendo ter do ponto de vista operacional, mas tenho um enorme respeito por aquilo que estes homens e mulheres estão a fazer", argumentou Luís Montenegro.

O helicóptero sofreu um acidente e foi obrigado a efetuar uma amaragem no rio Douro, indicaram à Lusa fontes aeronáuticas, uma informação que foi confirmada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (AENPC). 

Fonte do Comando Sub-regional do Douro disse à Lusa que se trata de um helicóptero do dispositivo de combate aos incêndios do CMA [Centro de Meios Aéreos] de Armamar, no distrito de Viseu. 

"Às 12:36 de hoje, 30 de agosto, enquanto participava nas operações de combate ao incêndio rural que lavra em Gestaçô, em Baião, o helicóptero ligeiro de combate a incêndio rurais, com o indicativo operacional H16, sofreu um acidente, obrigando à amaragem do meio aéreo no rio Douro, próximo da localidade de Samodães", explica a AENPC.

Segundo a AENPC, "foram de imediato enviados meios de socorro para o local para local".

"O piloto foi resgatado com vida e a está a ser avaliado por equipa médica", referiu ainda esta Autoridade.

O helicóptero acidentado, do modelo AS350 -- Écureuil, é operado pela empresa HTA Helicópteros, sediada em Loulé, Algarve.

Fonte Gabinete de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) disse à Lusa que vai enviar uma equipa para o local e iniciar as investigações ao acidente.