Garante Peskov
28 outubro 2024 às 11h25
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Rússia rejeita acusações de interferência nas eleições na Geórgia

"Rejeitamos firmemente tais acusações. Não houve qualquer intervenção. As acusações são totalmente infundadas", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Mesmo assim, a União Europeia acusa a Rússia de interferência.

A Rússia rejeitou esta segunda-feira acusações que descreveu como "totalmente infundadas" de que teria interferido nas eleições de sábado na Geórgia, como alegou a oposição pró-europeia do país do Cáucaso e, já esta segunda-feira, a União Europeia.

"Rejeitamos firmemente tais acusações. Não houve qualquer intervenção. As acusações são totalmente infundadas", afirmou o porta-voz do Kremlin (presidência), Dmitri Peskov, citado pela agência francesa AFP.

Peskov disse que as acusações contra Moscovo são frequentes e limitou as eleições a "uma questão interna da Geórgia", segundo a agência espanhola Europa Press.

O porta-voz do Kremlin pediu ainda que "nenhum país interfira" na Geórgia, uma antiga república soviética.

Mesmo assim,  a União Europeia acusou esta segunda-feira a Rússia de influenciar as eleições parlamentares ganhas no sábado pelo partido pró-russo no poder, tendo-se demarcado da visita do primeiro-ministro húngaro à Geórgia, quando a Hungria exerce a presidência rotativa do Conselho.

"O que é justo dizer é que, sim, a Rússia tentou influenciar as eleições na Geórgia", disse a porta-voz da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Nabila Massrali, questionada na conferência de imprensa da Comissão Europeia, em Bruxelas.

Dois dias após os polémicos resultados do sufrágio parlamentar na Geórgia, que deu a vitória ao partido pró-russo no poder e foi contestado pela oposição pró-europeia, a responsável garantiu que a diplomacia da UE está a "acompanhar de perto os desenvolvimentos das eleições", vincando que "as irregularidades têm de ser esclarecidas e tratadas".

Já quanto à visita do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, a Tiblíssi, Nabila Massrali salientou que tal deslocação "tem lugar apenas no quadro das relações bilaterais entre a Hungria e a Geórgia".

"O primeiro-ministro Orbán não recebeu qualquer mandato do Conselho da UE para visitar Tiblíssi e a posição da UE foi clara, expressa na declaração de ontem do Alto Representante", adiantou.

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, que mantém laços estreitos com Moscovo, é esperado esta segunda-feira na Geórgia para uma visita de dois dias, no que é visto como uma afronta à UE, deslocação que acontece quando a Hungria exerce este semestre a presidência rotativa do Conselho da UE.

Antes de invadir a Ucrânia, em fevereiro de 2022, a Rússia exigiu garantias que tanto a Ucrânia como a Geórgia nunca integrariam a UE e a NATO (sigla inglesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte).

As declarações surgem depois de, no domingo, a Comissão Europeia e o Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, terem apelado às autoridades da Geórgia para que clarifiquem as irregularidades denunciadas por observadores internacionais nas eleições legislativas de sábado.

De acordo com os resultados quase definitivos divulgados esta segunda-feira, o Sonho Georgiano, no poder desde 2012, obteve 53,92% dos votos, contra 37,78% da coligação da oposição.

A oposição acusa o Sonho Georgiano, do oligarca Bidzina Ivanishvili, de aproximar a Geórgia da Rússia e de a afastar de uma possível adesão à UE e à NATO, dois objetivos consagrados na Constituição do país.

Tanto a oposição como parte da comunidade internacional, incluindo observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), manifestaram dúvidas sobre a transparência do processo.  

A presidente da Geórgia, Salome Zurabishvili, que rompeu com o Governo, também questionou o resultado das eleições e alegou que o país foi vítima de uma "operação especial russa".

Numa breve declaração que fez aos jornalistas no domingo, a Presidente georgiana não apresentou quaisquer provas para sustentar a alegação de interferência russa no processo eleitoral.

Zurabishvili aludiu a uma "operação especial russa", que descreveu como "uma das novas formas de guerra híbrida" levada a cabo contra a Geórgia.

"Como única instituição independente que resta neste Estado, quero dizer que não reconheço esta eleição. Não pode ser reconhecida. Seria o mesmo que reconhecer a entrada da Rússia aqui, a subordinação da Geórgia à Rússia", afirmou.

"Não vamos tolerar isto. A Geórgia não pode ser privada do seu futuro europeu", acrescentou Zurabishvili, citada pela Radio Free Europe/Radio Liberty, com sede em Praga, a capital da República Checa.

A chefe de Estado apelou para a realização de protestos de rua a partir do fim de tarde desta segunda-feira.

O antigo presidente Mikheil Saakashvili, atualmente preso e rival de Ivanichvili, apelou também a "manifestações maciças" para mostrar ao mundo que os georgianos estão "a lutar pela liberdade".

Perante esta situação, Bruxelas pediu no domingo que se "implementem o mais rapidamente possível" as recomendações da missão de observação da OSCE e que se apliquem "reformas democráticas, abrangentes e sustentáveis, em linha com os princípios da integração europeia".

Ainda no domingo, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, anunciou que iria colocar este assunto na agenda da cimeira informal, que decorre a 08 de novembro em Budapeste.

A Geórgia, com cerca de 3,7 milhões de habitantes, tem sido palco de manifestações nos últimos meses contra o Sonho Georgiano.

O partido governamental afirmou esta segunda-feira que continua a ter como prioridade a integração europeia, em resposta à oposição pró-ocidental.

"Tudo será feito para que a Geórgia esteja plenamente integrada na UE até 2030", declarou o primeiro-ministro, Irakli Kobakhidzé, aos jornalistas em Tblissi.

Antes de invadir a Ucrânia, em fevereiro de 2022, a Rússia exigiu garantias que tanto a Ucrânia como a Geórgia nunca integrariam a UE e a NATO (sigla inglesa da Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Tais exigências foram recusadas pelas duas organizações.

De acordo com os resultados quase definitivos divulgados esta segunda-feira, o Sonho Georgiano, no poder desde 2012, obteve 53,92% dos votos, contra 37,78% da coligação da oposição.

Tópicos: Geórgia, Rússia