Aos 20 anos, ninguém espera dar entrada num serviço de urgência e ouvir o diagnóstico de AVC. Aconteceu a Ana Rita Rodrigues, em 2014, na Guarda. Um Acidente Vascular Celebral Isquémico secundário a displasia fibromuscular da carótida interna esquerda, que a deixou quatro meses internada e com um grau de incapacidade na ordem dos 70%. Aquela que é a primeira causa de morte em Portugal, responsável por cerca de 500 óbitos todos os meses (estima-se que 25 mil a 30 mil pessoas sofram um Acidente Vascular Cerebral todos os anos em Portugal) deixa muitas vezes os sobreviventes em mau estado. O testemunho de Ana Rita é um dos que figuram na página Portugal AVC – União de Sobreviventes, Familiares e Amigos – que este domingo assinala o Dia Nacional do doente com AVC.
Tal como acontece com a esmagadora maioria dos sobreviventes, depois de tentar a recuperação física, a jovem (hoje com 30 anos) percebeu que resgatar a vida seria uma tarefa que passaria muito pela saúde mental. “Enquanto lutava para que tal acontecesse, lutava também contra demónios do meu interior, a depressão, ansiedade e o sentimento de paralisia psicológica”.
“O calcanhar de Aquiles é mesmo a imagem corporal depois de um AVC. Principalmente quando o acidente acontece no hemisfério esquerdo, afetando o corpo do lado direito (o meu caso), associa-se a uma redução da autoestima. O facto de estarmos tão vulneráveis às outras pessoas. Se alguém, e falo com experiência própria, nos faz um olhar mais demorado começamos logo a imaginar as ideias que lhes assombram o pensamento. Geralmente assumimos de imediato um sentimento de pena por parte dos outros, reduzindo ainda mais a nossa auto estima”, refere Ana Rita Rodrigues.
O psicólogo Alexandre Bogalho conhece bem esse sentimento, transversal a todas as idades. Ao longo dos últimos anos acompanhou centenas de doentes no Centro de Reabilitação Rovisco Pais, na Tocha, a unidade que serve toda a região centro do país.