Armadores e sindicatos da pesca em Portugal concordam que a presença de imigrantes, a maioria indonésios, veio salvar o setor, devido à falta de mão-de-obra nacional disponível.
"Se não fosse esta solução da Indonésia e dos estrangeiros trabalharem na pesca, o setor tinha paralisado", afirmou à Lusa o presidente da Associação Nacional das Organizações de Produtores da Pesca do Cerco (Anopcerco), Humberto Jorge.
Este mês, o Governo passou de 20% para 40% o limite de estrangeiros certificados permitidos em cada embarcação, respondendo aos pedidos dos operadores do setor.
"A medida faz todo sentido e para nós, setor, peca por tardia", mas "não vai demorar muito até que ela [a meta de 40%] tenha que ser novamente alterada", porque "há uma escassez de mão-de-obra muito grande, não só no setor da pesca, mas na maior parte dos setores primários", observou Humberto Jorge.
A pesca é uma "atividade muito específica que obriga à formação profissional, que também é difícil e demorada, e, portanto, a importação de obra estrangeira qualificada, como é o caso dos indonésios, foi a solução que se encontrou" para resolver o problema, explicou o dirigente.
Mesmo em Rabo de Peixe, o principal centro piscatório dos Açores e um dos maiores do país, a presença de imigrantes é sentida.
"Há uma transferência do pessoal da pesca para o setor da construção" e, "embora aqui na ilha de São Miguel, não haja uma grande percentagem de indonésios, malaios ou das Filipinas", acabam por "existir já muitos casos", embora "muito menos do que no resto do país", afirmou à Lusa Liberato Fernandes, dirigente do Sindicato Livre de Pescadores e Profissões Afins.
A tradição piscatória da região e os baixos rendimentos do arquipélago acabam por prender muitos pescadores açorianos à faina, mas "a tendência existe", até porque muitos pescadores preferem que os "filhos sigam outras vidas, menos duras".
No norte do país, João Leite, da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar, referiu que este fenómeno é mais evidente.
"Nós já estamos a trabalhar com os indonésios há muito tempo", porque a "juventude [portuguesa] não está muito virada para o mar, quer tentar um curso superior e tentar outras oportunidades", afirmou o dirigente.
"A Indonésia é um país de pescadores. E quando se começou a sentir a falta de mão-de-obra foi o país que se mostrou mais interessado em mandar gente para cá, há uns 15 anos", recordou. O dirigente.
Em Caxinas, os trabalhadores estrangeiros são comuns nas embarcações de maior curso, mas João Leite acredita que a tendência vai aumentar.
"Não há hipótese. Se queremos aguentar o setor, precisamos de estrangeiros", afirmou.