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Roberto F. Kennedy Jr.
15 novembro 2024 às 23h47
Leitura: 5 min

Antivacinas e defensor do leite cru: o escolhido de Trump para a Saúde

O sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy, que desistiu em agosto da candidatura independente à Casa Branca para apoiar o republicano, é outra escolha polémica. Até Mike Pence o critica, não pelas teorias da conspiração, mas por ser pró-aborto.

Diz que não é antivacinas e que só quer que elas sejam rigorosamente testadas, mas já defendeu que são a causa do autismo e aconselha os pais a não vacinarem os filhos. Também já questionou o facto de o vírus da imunodeficiência humana (HIV) causar a sida e sugeriu que os antidepressivos levam a tiroteios nas escolas. Quer que se deixe de adicionar flúor à água canalizada, apesar do benefício para a saúde oral da população, e é defensor do leite cru (não pasteurizado) que é considerado perigoso por causa das bactérias que pode ter.

Robert F. Kennedy Jr., 70 anos, é a aposta de Donald Trump para secretário da Saúde e dos Serviços Humanos (HHS, na sigla em inglês). É mais uma nomeação polémica do presidente eleito, que deixa o setor alarmado. Mas era esperada desde que o sobrinho do presidente John F. Kennedy (assassinado em 1963) e filho do ex-procurador-geral Robert F. Kennedy (morto cinco anos depois) desistiu, em agosto, da corrida independente à Casa Branca e apoiou o republicano. O seu lema é Make America Healthy Again (Tornar a América Saudável Outra Vez), num jogo de palavras com o slogan de Trump.

“Durante demasiado tempo, os americanos foram esmagados pelo complexo industrial alimentar e pelas empresas farmacêuticas que se envolveram em engano, em passar informações erradas e em desinformação quando se trata de saúde pública”, disse Trump nas redes sociais. E defendeu que Kennedy “vai restaurar estas agências às tradições da melhor investigação científica e farol da transparência, para acabar com a epidemia das doenças crónicas e tornar a América grande e saudável novamente”.

RFK Jr., que fundou a organização sem fins lucrativos Children’s Health Defense, defende tirar dinheiro das doenças infecciosas e apostar no que apelida de “epidemia de doenças crónicas” - inclui obesidade, diabetes, autismo e doença mental. Doenças que diz serem responsabilidade das empresas gananciosas, que não querem ver os norte-americanos saudáveis porque isso iria afetar os seus lucros, e dos produtores de alimentos que usam pesticidas e aditivos nocivos.

Entre as ideias que tem para o setor está acabar com a “porta giratória” dos funcionários que antes de trabalhar para as agências governamentais passam pelas farmacêuticas ou que saem para trabalhar nessa indústria. E está preparado para uma purga no setor, apesar de os cientistas e investigadores não serem cargos políticos, querendo avaliar os eventuais conflitos de interesses e promover a transparência.

“Estou ansioso por trabalhar com os mais de 80 mil funcionários do HHS para libertar as agências da nuvem sufocante da captura corporativa, para que possam prosseguir a sua missão de tornar os americanos mais uma vez as pessoas mais saudáveis da Terra”, escreveu RFK Jr. no X. Em 2012, durante o processo de divórcio, alegou que as curtas perdas de memória e confusão mental que tinha se deviam a uma larva que teria andado a comer o seu cérebro, antes de morrer.

Se todas as teorias (algumas da conspiração) que defende são um sinal de preocupação para muitos democratas e profissionais de Saúde, é o facto de ser a favor do aborto - acredita que a mulher tem o direito a escolher e é contra uma lei federal a proibir a interrupção voluntária da gravidez - que faz soar os alarmes do ex-vice-presidente de Trump.

“Acredito que a nomeação de RFK Jr. para servir como secretário do HHS é um afastamento abrupto do historial pró-vida da nossa administração e deveria ser profundamente preocupante para milhões de americanos pró-vida que apoiaram o Partido Republicano e os nossos nomeados para décadas” , disse Mike Pence num comunicado. “Se for confirmado, RFK Jr. seria o secretário do HHS nomeado pelos republicanos mais pró-aborto na história moderna”, acrescentou.

susana.f.salvador@dn.pt