Em novembro de 2021, a Comissão Europeia (CE) abriu um procedimento contra Portugal, alegando que a discriminação dos professores contratados violava a legislação comunitária. Isto porque, um professor contratado recebia sempre o mesmo vencimento, independentemente do tempo de serviço realizado. Na prática, um docente com 20 anos de serviço era remunerado pela mesma tabela de um recém-licenciado, sem qualquer experiência no ensino.
Há um ano e após críticas sucessivas da CE, o Ministério da Educação (ME) anunciou a criação de três escalões de vencimento para os docentes sem vínculo (existia apenas um escalão), respondendo assim às exigências europeias. Contudo, volvido um ano, nada mudou e os professores continuam à espera do cumprimento do decreto, publicado em Diário da República em maio de 2023.
Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), confessa tratar-se de uma medida que não está a realizar-se com a “rapidez necessária, o que cria desânimo nos docentes abrangidos por esta justa iniciativa”.
“Prevê-se que ainda esta semana poderá abrir a plataforma para as escolas validarem os requisitos, mas não é possível vislumbrar a data do início do pagamento”, adianta ao Diário de Notícias.
Questionado sobre a justificação para o atraso na aplicação do decreto-lei, o responsável diz desconhecer o motivo e sublinha que, “quanto mais tempo demorar a chegar às contas bancárias dos docentes os efeitos práticos desta medida, mais aumenta o descontentamento dos professores”.
O ME já fez saber que haverá lugar ao pagamento de retroativos, mas, para Filinto Lima, esse anúncio não atenua o descontentamento da classe docente. “A não-celeridade na execução de medidas positivas, como esta, pode ter efeito contrário”, justifica.
Opinião partilhada por Ana Soares, professora contratada. A docente confessa ter pensado em desistir da profissão, uma a decisão adiada foi após o anúncio da atualização dos vencimentos. Professora há 14 anos, encontrava-se, antes do anúncio da medida, “cansada de ser mal paga, mesmo com toda a experiência adquirida”.
“Embora continue a não achar justo que colegas vinculados com menos tempo de serviço que eu recebam mais, poder ter o salário mais ajustado à minha dedicação ao ensino ao longo destes últimos anos foi um incentivo para continuar”, explica. Contudo, a professora diz ter sido “apanhada de surpresa por este atraso”. “Foi há um ano que foi anunciado e nunca pensei chegar a 2024 sem ver aumentos no vencimento. Faz diferença para quem está, como eu, deslocada de casa e tem de fazer face a muitas despesas. Estes pequenos ajustes no ordenado são uma grande ajuda e são mais que justos”, conclui.