Mar Vermelho
12 janeiro 2024 às 07h31
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EUA e Reino Unido atacam Houthis. Rebeldes avisam que navios israelitas vão continuar a ser alvos

O comando da Força Aérea dos EUA no Médio Oriente disse ter atingido mais de 60 alvos em 16 locais no Iémen. Porta-voz dos Houthis revela que os ataques mataram cinco combatentes e feriram seis.

Um porta-voz dos rebeldes do Iémen garantiu esta sexta-feira que os Houthis vão continuar a atacar navios ligados a Israel no mar Vermelho, acusando os EUA e Reino Unido de lançarem ataques injustificados. 

Os ataques dos EUA e Reino Unido terão feito cinco mortos entre os combatentes dos Houthis, avança a Sky News, que cita o porta-voz militar dos rebeldes que promete retaliação.

Yahya Sarea disse, numa declaração transmitida pela televisão, que os EUA e o Reino Unido lançaram um total de 73 ataques contra várias províncias controladas pelos Houthis no Iémen, que mataram cinco membros e feriram outros seis.

"Não há justificação para esta agressão contra o Iémen, uma vez que não houve ameaça à navegação internacional no mar Vermelho", disse Mohamed Abdel Salam, outro porta-voz dos rebeldes do Iémen.

Numa mensagem publicada na rede social X, o dirigente garantiu que "os alvos foram e continuarão a ser navios israelitas ou aqueles que se dirijam para os portos da Palestina ocupada".

Desde 19 de novembro, os Houthis lançaram 27 ataques com 'drones' e mísseis contra navios comerciais, em retaliação pela guerra de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza e tendo como alvo navios com ligação a Israel.

Em retaliação, os militares dos EUA e do Reino Unido bombardearam na quinta-feira mais de uma dúzia de locais usados pelos Houthis no Iémen

O comando da Força Aérea dos EUA no Médio Oriente disse ter atingido mais de 60 alvos em 16 locais no Iémen, incluindo "bases de comando e controlo, depósitos de munições, sistemas de lançamento, instalações de produção e sistemas de radar de defesa aérea".

Os ataques aéreos atingiram a capital do Iémen, Sanaã, e outras cidades controladas pelos rebeldes apoiados pelo Irão, como Hodeida e Saada, disse hoje o canal de televisão Huthi Al-Massirah.

Numa declaração conjunta, os dez países envolvidos (EUA, Reino Unido, Austrália, Bahrein, Canadá, Países Baixos, Dinamarca, Alemanha, Nova Zelândia e Coreia do Sul) observaram que o objetivo continua a ser "reduzir as tensões e restaurar a estabilidade no Mar Vermelho".

Em resposta, os Houthis lançaram hoje mísseis de cruzeiro e balísticos contra navios de guerra dos Estados Unidos e do Reino Unido no mar Vermelho, disse uma fonte dos rebeldes à agência de notícias espanhola Efe.

Houthis convocam manifestações contra bombardeamentos dos EUA e Reino Unido

Os rebeldes Houthis do Iémen, apoiados pelo Irão, já convocaram manifestações em massa nas zonas sob o seu controlo, para protestar contra os bombardeamentos dos EUA e do Reino Unido contra várias das suas posições militares no país árabe. 

Os apelos aos protestos foram transmitidos pela televisão Al Masirah, porta-voz dos insurgentes, e pelos altifalantes das mesquitas da capital, Sanaã, e de outras províncias iemenitas, segundo a agência espanhola EFE.

Em Sanaã, a manifestação deverá reunir dezenas de milhares de pessoas durante a tarde na Praça Sabeen, onde decorrem os desfiles militares Houthis, enquanto as cidades de Al Hudeidah, Hajjah, Saada, Al Yauf, Amran, Dhamar e Al Dhalea, entre outras, serão também palco de protestos.

Estas manifestações foram convocadas sob o lema "Batalha da Conquista Prometida e da Santa Jihad", nome dado pelos houthis às suas operações contra navios mercantes no Mar Vermelho, ações de apoio aos palestinianos na Faixa de Gaza.

EUA e os seus aliados "não vão tolerar" os ataques dos rebeldes no Mar Vermelho, diz Biden

O presidente norte-americano explicou, em comunicado, que, por sua decisão e em conjunto com o Reino Unido, os EUA levaram a cabo com êxito um ataque, com o apoio da Austrália, Bahrein, Canadá e Países Baixos, contra vários alvos no Iémen utilizados por rebeldes houthis.

O ataque pretende demonstrar que os EUA e os seus aliados "não vão tolerar" os ataques dos rebeldes no Mar Vermelho, acrescenta o comunicado, em que Biden sublinha que a decisão seguiu-se a várias tentativas de negociação diplomática.

"Estes ataques são uma resposta direta aos ataques Houthi sem precedentes contra embarcações marítimas internacionais no Mar Vermelho -- incluindo o uso de mísseis balísticos anti-navio pela primeira vez na história", sublinha o presidente norte-americano.

Ataques "necessários e proporcionais", afirma primeiro-ministro britânico

O primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, garantiu esta madrugada que os ataques contra posições dos rebeldes houthis no Iémen foram "limitados, necessários e proporcionais", em retaliação pelas ofensivas contra navios no mar Vermelho. 

Num comunicado, Sunak confirmou que aviões da Força Aérea Real Britânica lançaram "em legítima defesa", "ataques direcionados" contra vários locais utilizados pelos houthis, em conjunto com forças dos Estados Unidos.

"Apesar dos repetidos avisos da comunidade internacional, os houthis continuaram a realizar ataques no Mar Vermelho, novamente esta semana contra navios de guerra britânicos e americanos. Isto não pode continuar", disse o chefe de governo britânico.

Sunak lamentou que as ações dos rebeldes do Iémen, que descreveu como irresponsáveis e desestabilizadoras, estejam "a causar grandes perturbações numa rota comercial" e a fazer "subir os preços das matérias-primas".

A Rússia convocou para hoje uma reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU, após os ataques.

O Conselho de Segurança aprovou na quarta-feira uma resolução que exigia que os Houthis cessassem imediatamente os ataques e que condenou implicitamente o principal fornecedor de armas aos rebeldes, o Irão.

A resolução, apresentada pelos EUA e Japão, foi aprovada por 11 votos a favor, sem qualquer voto contra, e com quatro abstenções, da Rússia, China, Argélia e Moçambique.

Imediatamente antes da votação, o Conselho rejeitou por esmagadora maioria três propostas de alterações russas, uma das quais teria acrescentado linguagem para sublinhar que "a escalada em Gaza é a principal causa da atual situação no Mar Vermelho".

O embaixador russo junto da ONU, Vassily Nebenzia, disse acreditar que o verdadeiro objetivo da resolução era obter luz verde do Conselho de Segurança para legitimar as ações futuras da coligação criada pelos EUA e aliados.

Rússia diz que ataques no Iémen distorcem resolução do Conselho de Segurança

Já esta sexta-feira, a Rússia disse que os ataques dos Estados Unidos e Reino Unido contra os rebeldes Houthis no Iémen distorcem as resoluções do Conselho de Segurança da ONU. 

A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo salientou que os bombardeamentos "são um novo exemplo da distorção das resoluções do Conselho de Segurança da ONU por parte dos anglo-saxões e do seu total desrespeito pelo Direito Internacional".

Numa mensagem publicada na plataforma Telegram, Maria Zajarova acusou Washington e Londres de realizar ataques "em nome de uma escalada na região para alcançar os seus objetivos destrutivos".

A diplomata anunciou que Moscovo irá "apresentar detalhadamente" a sua posição numa conferência de imprensa que se realizará nas próximas horas.

Irão: Ataques contra Huthis podem agravar instabilidade no Médio Oriente

O Irão alertou que os ataques dos EUA e Reino Unido contra os rebeldes Huthis no Iémen podem agravar a instabilidade no Médio Oriente. 

"Estes ataques arbitrários não terão outro resultado senão alimentar a insegurança e a instabilidade na região", disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano.

Naser Kanani condenou duramente os bombardeamentos como uma "ação arbitrária, uma clara violação da soberania e integridade territorial do Iémen e uma violação do direito internacional".

Num comunicado, o diplomata justificou os ataques com o apoio dos Estados Unidos e do Reino Unido aos "crimes de guerra do regime sionista contra o povo palestiniano durante os últimos cem dias".

Kanani expressou preocupação com as consequências para a paz e segurança no Médio Oriente e apelou à comunidade internacional para agir de forma a evitar a propagação do conflito.

O porta-voz não fez qualquer menção aos 27 ataques dos Huthis a navios comerciais no mar Vermelho desde 19 de novembro, em retaliação pela guerra de Israel contra o movimento islamita Hamas na Faixa de Gaza e tendo como alvo navios com ligação a Israel.

Também hoje, um dirigente do Hamas descreveu os bombardeamentos em mais de uma dezena de locais no Iémen como "uma agressão e uma provocação a toda a nação, que indica a decisão de expandir a área de conflito para fora de Gaza".

"Isto terá repercussões", garantiu Sami Abu Zuhri, citado pelo jornal palestiniano Falastin.

O movimento libanês xiita pró-iraniano Hezbollah acusou os Estados Unidos de serem "parceiros de pleno direito" nos "massacres" cometidos por Israel na Faixa de Gaza e na Cisjordânia e manifestou solidariedade com os rebeldes do Iémen.

"Esta agressão não os enfraquecerá, mas aumentará a sua força, determinação e coragem para enfrentá-los, defender-se e continuar o seu caminho em apoio ao povo palestiniano", assegurou a milícia, citada pela rede de televisão Al Manar.

França apoia ação militar contra rebeldes do Iémen que atacam navios no Mar Vermelho

A França, entretanto, fez saber que apoia a ação militar contra os huthis, sublinhando o seu apoio à resolução do Conselho de Segurança da ONU que autoriza uma resposta aos ataques no Mar Vermelho realizados pelos rebeldes do Iémen. 

Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês reiterou a sua "condenação aos ataques perpetrados pelos huthis no Mar Vermelho contra navios comerciais" com os quais assumem uma "responsabilidade extremamente forte na escalada regional".

O governo francês lembrou que a resolução do dia 10 do Conselho de Segurança da ONU estabelece que "o exercício dos direitos e liberdades de navegação deve ser respeitado e que os Estados têm, de acordo com o direito internacional, o direito de reagir a esses ataques".

O departamento de relações exteriores indicou que a França "continuará a assumir as suas responsabilidades e a contribuir para a segurança marítima nessa área juntamente com os seus parceiros".

A este respeito, referiu-se à forma como a fragata francesa Languedoc participou na destruição de drones nos dias 9 e 11 de dezembro.

A França não quis aderir formalmente à coligação liderada pelos Estados Unidos para proteger os navios comerciais no Mar Vermelho devido ao risco de ataques dos huthis em áreas próximas do Golfo de Aden, mas enviou navios militares para a área para agir com autonomia.