FC Porto
17 janeiro 2024 às 22h58
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Villas-Boas “atira” Pedroto a Pinto da Costa e assume o desafio de libertar um FC Porto “capturado”

Com muitas figuras conhecidas entre os mais de 700 apoiantes que acorreram à Alfândega do Porto, o antigo técnico apresentou oficialmente a candidatura à presidência e não poupou críticas à atual gestão de Pinto da Costa.

Com sala cheia, num dos mais requisitados espaços para eventos existentes no Porto, o Edifício da Alfândega, aonde acorreram várias figuras conhecidas da cidade e do clube, arrancou esta quarta-feira de forma oficial a tão anunciada ambição pessoal do “sócio 7616”: André Villas-Boas é candidato à presidência do FC Porto.

O antigo técnico do clube não poupou nos detalhes com que parte para o que será o maior desafio da sua vida: enfrentar aquele a quem o próprio Villas-Boas apelidou de “presidente dos presidentes”, Jorge Nuno Pinto da Costa, que está há 40 anos e 15 mandatos consecutivos à frente dos destinos do FC Porto.

Contratada aquela que é considerada a principal empresa de eventos do país, Desafio Global, o evento foi organizado ao pormenor, desde a extensa lista de convidados - mais de 700, em que se incluíram políticos da cidade, do liberal Tiago Mayan ao social-democrata Carlos Abreu Amorim, empresários como Joaquim Oliveira ou antigos dirigentes e jogadores portistas como Angelino Ferreira, Jorge Costa, Maniche ou Helton - até ao discurso do agora candidato, onde nem as histórias pessoais e agradecimentos finais escaparam ao rigor do teleponto.

Entre os trunfos de candidatura, uma presença sentimentalmente especial, logo na primeira fila: a viúva de José Maria Pedroto. Para quem foram, cirurgicamente, as primeiras evocações sobre os grandes nomes da história do clube, com Villas-Boas a citar uma frase do antigo técnico com quem Pinto da Costa começou a era de conquistas para os dragões: “As vitórias de um clube dependem sobretudo da capacidade de construir uma estrutura ganhadora, da capacidade e competência de construir ou manter essa estrutura ganhadora. E, existindo necessidade disso, não ter receio de reconstruir ou deixar que outros com uma visão de futuro assumam esse papel. A história não é benevolente com quem não reconhece a sua evolução e se mantém refém do passado”.

Estava o mote dado para meia hora de fortes críticas à atual gestão de Pinto da Costa, a partir de uma frase daquele que foi, historicamente, o mentor do atual líder.

Pedro Granadeiro / Global Imagens

Pedro Granadeiro / Global Imagens

Já antes, durante a introdução do evento, a cargo do conhecido ator Pedro Teixeira, a referência inicial foi para a presença de Cecília Pedroto, aplaudida de pé por toda a sala. A mensagem era clara. Mesmo o legado do atual FC Porto, lembra a candidatura de Villas-Boas, não se deve só a Pinto da Costa. A quem “o FC Porto deve estar eternamente grato”, ressalvou, mas de quem não deve “ficar refém”, acrescentou de pronto. Ao longo de meia hora de discurso, o técnico que assinou a época perfeita de 2010 ao lado do presidente que agora desafia sublinhou ser este “um tempo de mudança”. De “devolver o clube aos sócios”.  Um clube que, segundo André Villas-Boas, parece agora “capturado por um conjunto de interesses alheios ao FC Porto, que ferem os valores fundamentais da nossa instituição”.

Empresário Joaquim Oliveira
Pedro Granadeiro / Global Imagens

Nenhuma ferida por tocar

O candidato que passou os últimos três anos a preparar-se exaustivamente para “estar à altura das responsabilidades”, como assumiu ontem, não deixou ferida por tocar. As finanças do FC Porto (SAD) são nesta altura uma prioridade absoluta, reconheceu. E um dos temas mais férteis para explorar por qualquer crítico da atual administração.

Com Angelino Ferreira, antigo administrador financeiro portista, a olhar atentamente da primeira fila, Villas-Boas recordou que “nos últimos 10 anos, o FC Porto conseguiu encaixar mais de 700 milhões de euros em vendas de jogadores e, em 2015, fez o maior contrato televisivo, no valor de 410 milhões”. Mais de mil milhões de receitas, lembrou, que tornam difícil de explicar uma realidade atual que apresenta “um passivo de 500 milhões e uma dívida de 310 milhões”. “A nossa capacidade competitiva está ameaçada e as contas estão em total descontrolo e o clube vive agarrado por gratidão a uma gestão sem rumo e sem nexo”, reforçou.

Ex-jogadores portistas Maniche e Helton
Pedro Granadeiro / Global Imagens
António Sousa e Ricardo Sousa, pai e filho, ambos ex-jogadores do FC Porto
Pedro Granadeiro / Global Imagens

No rol de críticas à atual liderança de Pinto da Costa somaram-se “a falta de transparência” - “está ou não a ser vendida uma das empresas do grupo a um fundo norte-americano?”, questionou - e a cultura do medo, “onde ninguém se pode expressar livremente sem ser ameaçado”, disse Villas-Boas, que já viu a sua casa ser vandalizada desde que se prenunciou a sua candidatura e também um dos seus mais destacados apoiantes, o ex-capitão Jorge Costa, ser apelidado de traidor pelo líder da claque, Fernando Madureira.

O antigo técnico prometeu ainda cortar a remuneração da administração para metade dos atuais valores fixos, noutro dos temas mais críticos para a atual liderança e deixou o desejo de que 2024 “seja lembrado pela conquista do título de campeão nacional pelo clube e não pela eleição do seu presidente”, antes de sair ovacionado de pé, ao ritmo do hino do clube, cantado em uníssono por toda a sala. Mas se Villas-Boas chegar ao cadeirão de sonho, a história do ano está encontrada.


André Villas Boas e Jorge Costa
Pedro Granadeiro / Global Imagens