Sem esquecer o habitual Sapinho
De Portugal haverá também uma coprodução com França, O Império, de Bruno Dumont, o mais indomável dos cineastas franceses. O feito é da Rosa Filmes de Joaquim Sapinho, cineasta que como produtor tem marcado a sua presença regularmente nos maiores festivais e na companhia de cineastas radicais como Lisandro Alonso, Lav Diaz ou Albert Serra...O Império é já um sério candidato ao Urso de Ouro, uma sátira aos filmes de ficção-científica. No elenco está Camile Cottin e o repetente Fabrice Lucchini.
E se é fácil referir o nome de Dumont como favorito é porque na competição não há tubarões. A equipa de programação de Carlo Chastrian, em último mandato, tem, sabiamente, preferido apostar em cinema mais exploratório e em latitudes de cinema menos mediáticas. Este ano não há cinema inglês, espanhol ou brasileiro, mas há uma aposta forte na Ásia e em África, bem como no documentário. Saltam à vista os nomes de Hang Sangsoo com A Traveler’s Needs, com Isabelle Huppert; Abderrahmane Sissako com Black Tea, Mati Diop com Daoé e Olivier Assayas com a comédia Hors du Temp, na qual Vincent Macaigne é um duplo do realizador.
Dos Estados Unidos pode vir uma surpresa: chama-se A Different Man, de Aaron Schimberg e tem uma das novas vedetas de Hollywood como protagonista, Sebastian Stan, fresco do sucesso da série Pam & Tommy, aqui na pele de alguém que depois de reconstruir o seu rosto fica obcecado com o homem que o interpreta numa produção teatral. Supostamente é um thriller surreal e espanta estar em competição. Mais uma vez, a Berlinale a dar luz verde ao cinema com a chancela A24...
E porque os filmes de tradição gourmet não abrandam, o mexicano Alfonso Ruizpalácios foi selecionado com o seu La Cocina, filmado numa cozinha de um restaurante de Nova Iorque. Sabe-se pouco ainda sobre o filme, apenas que tem Rooney Mara como presença protagonista e que é todo a preto & branco.
Ainda na competição dois filmes que talvez foram pensados para atrair mediatismo devido às suas estrelas. Um deles é Another End, de Piero Messina, conto futurista de uma sociedade em que é possível criar versões de nós próprios. Gael García Bernal, Renate Reinsve e Bérenice Bejo têm então múltiplos papéis. O outro vem da Irlanda e traz ao tapete vermelho o provável vencedor do Óscar, Cillian Murphy: Small Things Like These, de Tim Mielants, a partir de argumento de Enda Walch baseado no celebrado romance homónimo de Claire Keegan. O gangue de Peaky Blinders está de volta num drama que explora os efeitos de um trauma num convento irlandês nos anos 1980.Tem honras de abertura.
A atração do Panorama
No Panorama, secção alternativa do festival, todos os olhares vão dar a Love Lies Bleeding, de Rose Glass, mais um título vindo da aposta na label A24. Trata-se de um thriller com perfume de escândalo: culturismo no feminino e erotismo queer com Kristen Stewart em alta exposição. É uma das exportações de Berlinale ao Festival Sundance. Cada vez mais, em Berlim o olhar feminino é uma das prioridades, não sendo por acaso que a presidente do júri da competição principal é a atriz Lupita Nyong’o, vencedora de um Óscar.
Por fim, recordar que esta última edição sob direção do italiano Carlo Chastrain tem um trunfo de peso: o Urso de Ouro de tributo a Martin Scorsese que sucede assim a Steven Spielberg. O festival preparou uma sessão especial de The Departed- Entre Inimigos, uma das suas obras-primas, estreada em 2006. O italo-americano chegará à Berlinale em plena azáfama da campanha para o Óscar de Assassinos da Lua das Flores, o épico feito para Apple +.