Sindicalismo
24 fevereiro 2024 às 00h29
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O legado de Isabel Camarinha na CGTP: 110 mil novos sindicalizados

Congresso Intersindical muda de líder. Secretária-geral promete “intensificar” luta até às eleições de 10 de março.

Isabel Camarinha deixa a CGTP quatro anos depois de te ser sido eleita. Na hora da despedida, deixa 110 mil novos afiliados. E a promessa de que a luta da central sindical vai “intensificar e levar ao voto nas eleições de 10 de Março”, já com os olhos postos numa maioria de esquerda. “Vamos eleger 230 deputados e não o primeiro-ministro”, vincou Camarinha no seu último discurso como secretária-geral, no XV Congresso da Intersindical, esta sexta-feira.

Em tom de balanço, Isabel Camarinha apontou a “um país marcado por décadas de política de direita” e ao que considera serem os falhanços da governação de António Costa, na não revogação das normas introduzidas no tempo da troika no Código do Trabalho, na recusa “de preços máximos nos bens e serviços essenciais” e na falta de políticas que dessem resposta à crise na habitação.

“Falhou e o patronato aproveitou, quando em sede de Concertação Social firmou um Acordo de Médio Prazo para a Melhoria dos Rendimentos, Salários e Competitividade, que, na prática, impõe tectos salariais, mantém a caducidade das convenções colectivas e não repõe o princípio do tratamento mais favorável, limita o aumento real dos salários e garante chorudos apoios e benefícios fiscais às grandes empresas e ao grande capital”, atacou.

De resto, Isabel Camarinha acusa Costa de, durante os últimos dois anos de maioria absoluta, desenvolver uma “política que mantém, e em alguns casos amplia, os instrumentos usados pelo capital para tentar impor a intensificação da exploração”. Uma política cuja ausência de respostas aos problemas sociais serve, na opinião da sindicalista, de “principal combustível que alimenta as forças de extrema-direita e os seus projectos reaccionários”.

Vincando aquela que tem sido a principal reivindicação da CGTP, Isabel Camarinha defende que o aumento generalizado de salários não tem de esperar por um aumento na produtividade. “É possível aumentar os salários com o nível de riqueza que hoje se produz. Ao contrário do que é referido até à exaustão pelo capital e seus acólitos, não é preciso produzir mais primeiro para depois (sempre depois) subir salários”, defendeu.

Para essa subida, a CGTP insiste naquela que tem sido uma das principais reivindicações da esquerda e que não tem tido qualquer resposta por parte do PS, nem com António Costa nem com Pedro Nuno Santos: o reforço da contratação coletiva, que deve ser um dos elementos centrais de negociação para uma eventual maioria de esquerda, caso esse cenário seja possível depois do dia 10 de março.

“O aumento dos salários no sector privado, não acontece por decreto, nem pela bondade do patrão. É conquistado pelos trabalhadores e um dos principais instrumentos que estes têm à sua disposição é a contratação colectiva”, insistiu.

Aos 63 anos, Isabel Camarinha deixa a liderança da CGPT, porque atingiria a idade da reforma ao longo do próximo mandato. Com 30 anos de percurso sindical, regressa  ao Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços (CESP), do qual é dirigente desde 1991. Sucede-lhe Tiago Oliveira, mecânico de profissão, dirigente sindical desde 2006 e coordenador da União de Sindicatos do Porto desde 2016.

 

margarida.davim@dn.pt