Guerra no Médio Oriente
01 outubro 2024 às 15h19
Atualizado em 02 outubro 2024 às 00h12
Leitura: 15 min

Netanyahu avisa: "Irão cometeu um grande erro esta noite, e vai pagar por isso"

As Forças de Defesa de Israel fizeram saber que o ataque do Irão vai ter "consequências". “Temos planos e vamos atuar no local e na altura que escolhermos", declarou o exército israelita.

O Irão lançou, esta terça-feira, mísseis contra o território israelita. Ouviram-se sirenes de aviso de ataque aéreo em várias regiões de Israel, incluindo Telavive, onde ocorreram explosões. A cúpula de ferro (Iron Dome) de Israel intercetou vários mísseis iranianos em Telavive e também nos céus de Jerusalém, segundo a AFP.  

Numa primeira reação, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) fizeram saber que o ataque do Irão "terá consequências", o mesmo disse, mais tarde, o primeiro-ministro.

"O Irão cometeu um grande erro esta noite, e vai pagar por isso", avisou Benjamin Netanyahu, numa mensagem de vídeo, divulgada nas redes sociais.

O chefe do governo israelita afrmou que o ataque lançado pelo Irão “falhou” devido "ao sistema de defesa aérea de Israel, que é o mais avançado do mundo”. Netanyahu aproveitou ainda para agradecer aos EUA pelo apoio na interceção de mísseis iranianos.

"O regime do Irão não percebe a nossa determinação em nos defendermos e em retaliar contra os nossos inimigos”, acrescentou Netanyahu.  

O ataque iraniano ocorreu por volta das 19:40 locais (menos duas horas em Lisboa). O exército israelita anunciou que o Irão "lançou mísseis contra o Estado de Israel" e apelou à população para procurar abrigos.

Cerca de 50 minutos depois, as forças armadas indicaram que a população poderia sair dos abrigos.

As Forças de Defesa de Israel adiantaram à agência Efe que entraram "aproximadamente 180 projéteis" em território israelita durante o ataque do Irão, sem registo de vítimas até agora.

"Não entrem em conflito com o Irão", diz presidente iraniano

Ataque contra Israel foi "apenas uma parte do nosso poder", disse o presidente do Irão, numa mensagem partilhada nas redes sociais. 

Masoud Pezeshkian considerou que o ataque com mísseis foi uma "resposta decisiva às agressões do regime sionista". "Esta ação foi tomada em defesa dos interesses e cidadãos iranianos", argumentou. 

Para Masoud Pezeshkian, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu "deve entender que o Irão não é beligerante, mas permanecerá firme contra qualquer ameaça". "Não entrem em conflito com o Irão", avisou.

Antes, a Guarda Revolucionária do Irão já tinha confirmado o lançamento de mísseis contra Israel, avisando que se existir uma retaliação, a resposta de Teerão será ainda mais "esmagadora".

"Em resposta ao martírio de Haniye, de Hassan Nasrallah e do mártir [Abbas] Nilforushan (ex-comandante da Guarda Revolucionária iraniana morto na sexta-feira Beirute), atacámos o coração dos territórios ocupados", declarou a Guarda Revolucionária do Irão num comunicado divulgado pela agência noticiosa estatal ISNA.

A missão do Irão na ONU considerou que o ataque contra Israel é uma resposta “legal, racional e legítima" aos "atos terroristas do regime sionista”.

Na mensagem da delegação iraniana, divulgada nas redes sociais, foi ainda referido que a resposta do Irão, que lançou vários mísseis contra Israel, foi “devidamente executada”.

"Se o regime sionista se atrever a responder ou a cometer novos atos de malevolência, seguir-se-á uma resposta subsequente e esmagadora", lê-se na mensagem da missão do Irão na ONU.

As IDF, pela voz do contra-almirante Daniel Hagari, indicaram que o exército efetuou "um grande número de interceções”, perante o ataque do Irão. 

“Houve alguns ataques no centro e em zonas do sul do país. Nesta fase, ainda estamos a avaliar a situação”, informou Hagari, prometendo que “este ataque terá consequências”. “Temos planos e vamos atuar no local e na altura que escolhermos", sublinhou.

EUA e Israel dizem que ataque "terá consequências"

O presidente dos EUA, Joe Biden, reagiu ao ataque do Irão ao reiterar o apoio a Israel. "Não se enganem, os EUA apoiam totalmente Israel". 

"Ainda estamos a avaliar o impacto, mas com base no que sabemos agora, o ataque parece ter sido derrotado e ineficaz”, disse Biden aos jornalistas. "E isso é uma prova da capacidade militar israelita e dos militares dos EUA", acrescentou o presidente norte-americano, reiterando o apoio "total" a Israel. 

Anteriormente, o conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, referiu que o ataque levado a cabo pelo Irão "foi derrotado e ineficaz“, apesar de considerar que se trata de uma "situação em curso". 

Em conferência de imprensa, Sullivan referiu que, até ao momento,  não há conhecimento de vítimas mortais em Israel na sequência do ataque iraniano.

Jake Sullivan destacou a intervenção das tropas norte-americanas que ajudaram a defesa aérea israelita, “em coordenação" com o exército de Israel, nomeadamente a participação dos navios de guerra Destroyer.

“Trata-se de uma escalada significativa por parte do Irão", afirmou o conselheiro de segurança nacional dos EUA, que deixou a garantia: "Haverá consequências”.

Durante o ataque iraniano, o presidente dos EUA, Joe Biden, e a vice-presidente Kamala Harris monitorizaram a situação no gabinete de crise, à medida que foram sendo informados dos últimos desenvolvimentos, segundo adiantou a Casa Branca. 

Joe Biden ordenou aos militares norte-americanos estacionados na região para participarem na operação de interceção de mísseis contra Israel, acrescentou a Casa Branca.

O líder supremo do Irão, Ali Khamenei, afirmou que "a vitória pertence aos defensores da justiça", referindo-se ao ataque com mísseis a Israel, em resposta ao assassínio dos líderes políticos dos movimentos islamitas palestiniano Hamas e libanês Hezbollah.

"A vitória pertence aos defensores da justiça. #Irão #Haniyeh #Nasrallah", escreveu, na conta da rede social X em espanhol da autoridade política e religiosa máxima do Irão.

Blinken: Ataque do Irão é "totalmente inaceitável" e deve ser condenado

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, considerou o ataque do Irão contra Israel "totalmente inaceitável", acrescentando que "o mundo inteiro" deve condenar a ação de Teerão.

"Os primeiros relatórios sugerem que Israel, com o apoio ativo dos Estados Unidos e de outros parceiros, frustrou efetivamente este ataque", destacou, referindo que o Irão terá disparado cerca de "200 mísseis balísticos".

"Demonstrámos mais uma vez o nosso compromisso com a defesa de Israel", frisou, numa breve declaração aos jornalistas. 

Os contratorpedeiros norte-americanos, sediados na base naval de Rota (Espanha), intercetaram vários mísseis iranianos dirigidos a Israel a partir do Mediterrâneo oriental, adiantaram fontes do Pentágono ao jornal The Washington Post, citado pela agência Efe.

Segundo o jornal norte-americano, os contratorpedeiros USS Arleigh Burke, USS Cole e USS Bulkeley intercetaram alguns dos cerca de 200 mísseis balísticos lançados esta noite pelo Irão contra Israel.

Fontes do Departamento de Defesa norte-americano referiram à estação Fox News que a Marinha dos EUA usou mísseis SM-3 para intercetar os mísseis direcionados para Israel.

Além disso, vários contratorpedeiros norte-americanos no mar Vermelho participaram na resposta ao ataque iraniano que, segundo fontes citadas pelo canal, foi comunicado antecipadamente por Teerão até Washington através de canais de comunicação estabelecidos entre os dois países rivais.

Milícias pró-iranianas ameaçam atacar bases dos EUA no Iraque

Na sequência do lançamento de mísseis por Teerão contra Israel, as milícias armadas iraquianas pró-Irão ameaçaram atacar bases e interesses dos Estados Unidos no Iraque, em caso de ataque ao Irão.

"Se os americanos se envolverem em ações hostis contra o Irão ou se o inimigo sionista utilizar o espaço aéreo iraquiano para bombardear o território iraniano, todas as bases e interesses americanos no Iraque e na região serão um alvo para nós", sublinhou o Comité de Coordenação da Resistência Iraquiana, que engloba as milícias pró-Irão mais poderosas do país.

Esta mensagem surgiu depois de o presidente norte-americano, Joe Biden, ter ordenado às Forças Armadas norte-americanas que abatessem mísseis que o Irão lançou hoje contra Israel.

Os EUA tinham alertado Israel para se preparar para um ataque de mísseis que o Irão estava a preparar. A notícia tinha sido avançada por várias agências de notícias como a AFP e a Reuters, que citam fontes oficiais.

"Estamos a apoiar ativamente a defesa de Israel contra este ataque. Um ataque militar direto do Irão contra Israel terá consequências severas para o Irão", assumiu um alto funcionário da Casa Branca em declarações à CNN Internacional.

O contra-almirante Daniel Hagari garantiu, numa mensagem em vídeo, que Israel está em "alto estado de prontidão", acrescentando que "até ao momento, não foi detetada qualquer ameaça iminente do Irão". Nesse sentido, deixou a certeza de os aviões militares de Israel estão a "varrer o céu" em busca de qualquer ameaça vinda do Irão.

"Estamos em alerta máximo tanto na ofensiva como na defensiva", sublinhou.

O mesmo responsável adiantou que Israel espera um ataque em "larga escala" proveniente do Irão, isto numa altura em que se ouviram na tarde desta terça-feira as sirenes de aviso de ataque aéreo em Telavive. 

Perante estes novos desenvolvimentos, o governo liderado por Benjamin Netanyahu irá reunir-se esta tarde.

“Estamos acompanhar a ameaça seriamente", sublinhou Daniel Hagari, apelando para que a população siga as indicações das autoridades.

E enquanto o território israelita estava a ver alvo de mísseis lançados pelo Irão, ocorreu um ataque terrorista em Jaffa, no sul de Telavive. Pelo menos quatro pessoas morreram, segundo a polícia local citada pelo diário Hareetz. 

De acordo com as agências internacionais, um homem abriu fogo esta noite (hora local) em Jaffa, ferindo também um número ainda desconhecido de pessoas, informou a polícia local, que admitiu tratar-se de um "ataque terrorista".

O uso da terminologia "ataque terrorista" é habitualmente utilizado pelas autoridades israelitas para caracterizar ataques atribuidos a palestinianos.

Várias equipas médicas estão a tratar "várias vítimas em diferentes condições" no local do tiroteio, informou o serviço de emergência israelita, Magen David Adom.

Perante a nova escalada de violência na região, a embaixada dos EUA em Jerusalém emitiu um aviso a todos os funcionários, e respetivas famílias, da representação diplomática. Um alerta que surgiu ainda antes do ataque do Irão contra Israel.

“Como resultado da atual situação de segurança, a embaixada dos EUA indicou a todos os funcionários do governo e às suas famílias que se abriguem no local até novo aviso. Esta informação é fornecida para que possam elaborar os seus próprios planos de segurança”, lê-se na página de internet da embaixada norte-americana.

A representação diplomática recomenda a todos os cidadãos norte-americanos na região que sejam "cautelosos" e que tenham uma maior "consciencialização para a segurança pessoal", advertindo para ataques com mísseis e drones. "O ambiente de segurança continua a ser complexo e pode mudar rapidamente consoante a situação política e os acontecimentos recentes", sublinha a embaixada.

Enquanto isso, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu assumiu num discurso à nação estar em curso "uma campanha contra o eixo do mal do Irão" e assume que "grandes desafios" estão a chegar.

Nesse sentido, apelou à união dos israelitas. "Juntos lutaremos e juntos venceremos", disse.

Guterres pede "cessar-fogo imediato" no Líbano

O secretário-geral da ONU, António Guterres, declarou-se "extremamente preocupado" com a escalada do conflito no Líbano, apelando para um "cessar-fogo imediato" de todas as partes, para evitar uma "guerra em grande escala".

Guterres pediu respeito pela "soberania e integridade territorial" do Líbano, horas depois de as Forças de Defesa de Israel (IDF) terem iniciado uma ofensiva terrestre para deter a ameaça da milícia xiita Hezbollah, cujo líder, Hassan Nasrallah, foi morto na sexta-feira num bombardeamento israelita em Beirute.

O responsável máximo das Nações Unidas mantém contacto com vários atores no conflito e falou esta terça-feira com o primeiro-ministro interino do Líbano, Nayib Mikati, a quem reiterou que todo o sistema da ONU está "mobilizado" para ajudar o seu país.

Segundo um comunicado do seu gabinete, Guterres exortou a comunidade internacional a responder "com urgência" ao apelo humanitário hoje lançado, que pede quase 426 milhões de dólares (cerca de 383 milhões de euros) para acudir à população libanesa.

Com Lusa