104 mortos e 760 feridos
29 fevereiro 2024 às 14h08
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Israel admite ter disparado contra multidão que esperava ajuda humanitária em Gaza

O Governo palestiniano já veio acusar Israel de ter sido responsável por um "massacre atroz". Autoridades locais falam em 104 mortos e pelo menos 760 feridos.

O exército israelita admitiu esta quinta-feira ter disparado com munições reais contra uma multidão enquanto era distribuída ajuda alimentar no norte de Gaza, que as autoridades locais dizem ter causado 104 mortos e pelo menos 760 feridos.

As forças israelitas afirmaram que a multidão que esperava a distribuição de alimentos constituía "uma ameaça", mas fontes ouvidas pela agência AFP negaram a responsabilidade pelo elevado número de mortos, indicando que dezenas de pessoas ficaram feridas em "empurrões e atropelamentos" depois de terem cercado camiões com ajuda humanitária e iniciado a pilhagem.

O Ministério da Saúde do movimento islamita Hamas, que controla a Faixa de Gaza, declarou 104 mortos, responsabilizando Telavive.

"O ataque foi premeditado e intencional, no contexto do genocídio e da limpeza étnica do povo da Faixa de Gaza. O Exército de ocupação sabia que estas vítimas tinham vindo para esta zona para obter alimentos e ajuda, mas matou-as a sangue frio", acusou o Hamas, cujos massacres em território israelita desencadearam a guerra na Faixa de Gaza.

O Ministério da Saúde de Gaza afirmou na quarta-feira que seis crianças morreram de subnutrição e desidratação no norte do território nos últimos dois dias.

Vários países pressionam Israel no sentido de que seja permitida a entrada de mais ajuda humanitária na Faixa de Gaza.

Na quarta-feira, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu reuniu-se em Jerusalém com a nova coordenadora da ONU para a ajuda humanitária e a reconstrução em Gaza, Sigrid Kaag.

Nas últimas 24 horas entraram na Faixa de Gaza 116 camiões de ajuda humanitária - 92 dos quais através da passagem de Kerem Shalom, na fronteira com Israel, e 24 através da passagem de Rafah, que liga ao Sinai egípcio.

Esta ajuda não é suficiente visto as necessidades prementes do enclave, que enfrenta uma catástrofe humanitária sem precedentes.

De acordo com as Nações Unidas, cerca de 2.300 camiões entraram em Gaza em fevereiro, menos 50% do que em janeiro.

Perante a dificuldade de fazer chegar a ajuda humanitária por terra, vários países - incluindo a Jordânia, o Egito, o Qatar, a França e os Emirados Árabes Unidos - lançaram por via aérea pacotes de alimentos e mantimentos.

"Consideramos a administração norte-americana, a comunidade internacional, a ocupação e as organizações internacionais responsáveis pelo assassínio de civis que morrem à fome às mãos da ocupação", acrescenta ainda o comunicado emitido hoje pelo governo de Gaza.

O Hamas acusou "a ocupação" de tentar "matar à fome" os habitantes de Gaza e afirma que mais de 700 mil pessoas estão a sofrer de fome no norte do enclave.

Governo palestiniano acusa Israel de "massacre atroz"

O Governo palestiniano já veio acusar Israel do "massacre atroz" de civis que aguardavam a entrega de alimentos.

Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros palestiniano registou "dezenas de mártires e centenas de feridos" devido a "tiroteios deliberados" dos militares israelitas.

"Isto é parte integrante da guerra genocida do governo de ocupação contra o nosso povo", segundo a mesma fonte, que afirmou ter ficado "demonstrado que Israel não ouve os apelos internacionais para proteger os civis e, na verdade, faz o oposto".

"Este massacre é uma nova prova do genocídio e das políticas de ocupação para deslocar a população à força, bem como uma nova prova para a comunidade internacional e para os países que apoiam Israel de que não há alternativa a um cessar-fogo imediato, a única forma para proteger os civis", lê-se na nota.

Por seu lado, a Presidência da Autoridade Palestiniana destacou que "o assassinato deste grande número de civis em busca de alimento é parte integrante da guerra genocida levada a cabo pelo governo de ocupação contra o povo palestiniano".

A Presidência exigiu ainda que as autoridades israelitas sejam responsabilizadas perante os tribunais internacionais por estes "crimes horríveis", sublinhando que "as autoridades de ocupação israelitas têm total responsabilidade" pelo que aconteceu, segundo a agência de notícias palestiniana WAFA.

Foi ainda criticado o silêncio da comunidade internacional, que encoraja Israel a continuar a "derramar sangue palestiniano", tornando necessária uma intervenção internacional "rápida" para "deter a agressão".